Coordenadora dos Conselhos Ambiental e de Bioenergia da Abimaq
Op-AA-29
O etanol é uma solução extraordinariamente inteligente para o futuro de muitas gerações. É eficaz, eficiente, sustentável. Seu custo é bem mais interessante que os demais combustíveis veiculares. A tecnologia existente já pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A utilização do etanol ajudou o Brasil a conquistar a autossuficiência em combustíveis e energia. Já com a possibilidade do etanol celulósico, ela aperfeiçoaria a produtividade acima de 50%, permitindo a sua utilização em quase todas as regiões do mundo.
Assim, a importância do etanol para o Brasil é indiscutível. E a importância cresce em caráter exponencial quando nos deparamos com um mundo onde a economia marrom precisa de uma transição para a economia verde, sente isso e caminha para ela.
A demanda existe de forma a influenciar toda uma cadeia. Por exemplo, na visão da indústria de máquinas e equipamentos, o Brasil tem sim condições especiais para absorver a demanda futura do setor sucroenergético. Temos tecnologia, inovação, competência e criatividade, elasticidade e experiência.
Se olharmos para a cadeia como um todo, então, essas características se somam às condições favoráveis de clima, solo, tecnologias existentes, que estão, cada vez mais, propiciando altas produtividades da planta por hectare, tornando longínquo o processo de competição por alimentos.
Sem contar a escolha feita pelo consumidor. A tecnologia flex entregou às mãos do consumidor o poder da escolha. O mercado demandou e optou pelo etanol, mesmo com as oscilações no preço do combustível. O etanol está numa condição bem confortável. Porém, se analisarmos seu futuro, franze-se a testa: efetivamente existe um posicionamento estratégico inteligente como um plano de País para o etanol?
Nossa política de energia não trabalha com cenários de longo prazo. Hoje, agora, podemos considerar que o etanol é a solução para 40 anos. Mas não será em um cenário de médio/longo prazo. Estamos falando de 100, 150 anos. Trabalhar com metas de 10, 20 anos, por exemplo, é tomar decisões agora; empreender políticas coerentes e capitalizá-las hoje, num cenário de curto prazo.
O etanol faz parte da nossa história e se coloca como um produto extremamente atraente para o consumo interno e externo também. Mas temos que tomar cuidado. Temos que estar abertos a alternativas, mesclar tecnologias, estar atentos às coisas que virão. O mundo inteiro está em busca de novas fontes para geração de energia.
Cada país vai se organizar, instituir políticas de segurança energética a partir de suas vocações locais. Alguns países devem importar em ritmo acelerado nas próximas duas, três décadas, diminuindo o ritmo com o desenvolvimento de tecnologias próprias. Outros devem manter suas importações estáveis. Contudo, às vezes, parece que agimos como se o Brasil tivesse todas as respostas e com todos os gargalos resolvidos. Esse movimento está acontecendo agora, já.
Temos um alerta claro: não podemos perder a vez. Precisamos capitalizar a biomassa como fonte energética. Ela é rentável, sustentável, já com a tecnologia que temos hoje. Estamos desenvolvendo novas tecnologias. O etanol celulósico da cana será ainda mais rentável e competitivo e poderá se tornar uma fonte ainda mais competitiva no mercado internacional.
Em relação à indústria fornecedora de máquinas e equipamentos para o setor e para a cadeia produtiva do etanol, partilhamos a preocupação que assombra o setor produtivo nacional. O primeiro aspecto é o Custo Brasil. A carga tributária inibe os investimentos internos e diminuiu nosso potencial competitivo com outras economias, seja nas exportações de etanol, seja na de tecnologia.
O fenômeno da desindustrialização, que já assola algumas economias, terá consequências perigosas. O Brasil tem mercado, tem indústria, tem tecnologia, é competitivo. Exportamos máquinas para a Alemanha, um dos países onde fabricar máquinas com tecnologia de ponta é posicionamento de mercado e de país. Só que, até quando? A China, que vem batendo recordes de crescimento, ainda levará algum tempo para resolver questões internas importantes, especialmente sociais.
Mas ela irá se reorganizar e, quando isso ocorrer, com o capital social e econômico que possui, poderá voltar-se para o setor sucroenergético. Estaremos preparados? Creio que as forças empresariais estão dispostas a enfrentar os desafios do futuro, mas não fica clara qual a posição do Brasil, dos nossos governantes, da cadeia como um todo. Até onde ir? Qual nosso real posicionamento? O setor de máquinas e equipamentos precisa estar nessa discussão não só como fornecedor, mas como participante, contribuindo com pensamentos e soluções.
Portanto, precisamos dessa sinalização. Precisamos desenvolver a habilidade e o costume de planejar o que queremos, para curto, médio e longo prazos. Ter uma visão estratégica inteligente. O etanol tem muito a contribuir para o Brasil e para o mundo.
Podemos e precisamos aproveitar o momento para crescer e transformá-lo em uma fonte 100% sustentável de energia, não mais como alternativa, mas como escolha, como opção. Como fizeram milhões de brasileiros que acreditaram e acreditam no etanol como uma solução limpa, sustentável, vindoura e de vanguarda. Uma escolha extraordinariamente inteligente.