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Ken Shimanouchi

Embaixador do Japão no Brasil

Op-AA-11

Ações no Japão para a introdução do etanol brasileiro e requisitos para tornar o álcool uma commodity

1. As ações no Japão para a introdução do álcool combustível: O Japão tem-se debruçado sobre diversas políticas, na perspectiva de garantir os recursos energéticos e preservar o meio ambiente. O etanol vem ganhando destaque no país, não só em vista da redução da emissão de CO2, com base no Protocolo de Kyoto, mas também pela recente escalada do preço do petróleo.

Dentro deste contexto, o governo japonês elaborou e apresentou, em maio passado, a “Nova Estratégia Energética Nacional”, estabelecendo cinco metas a serem alcançadas até 2030. Na área de biocombustíveis, tem-se o objetivo de reduzir a dependência do petróleo no setor de transportes, dos atuais quase 100%, para cerca de 80%.

Diversas políticas foram traçadas para alcançar tais metas. Entre aquelas que visam promover o aumento do uso do álcool, podemos citar, em primeiro lugar, a preparação da infra-estrutura para a oferta desse combustível, por meio da avaliação dos riscos do ETBE, dos testes práticos com o etanol e da implementação de políticas ambientais e de segurança nos postos.

Em segundo lugar, está a promoção de medidas relativas ao padrão dos automóveis, para que estes possam suportar a mistura de 10% de álcool na gasolina. Em terceiro lugar, vem a busca de soluções para diminuir o custo do álcool e incentivar o seu uso, lançando mão de recursos como o apoio à produção doméstica na região de Okinawa; o estudo de formas de desenvolver e importar o biocombustível de países produtores, como o Brasil; realização de testes práticos, em grande escala; e desenvolvimento de técnicas para a produção de álcool de celulose.

Em vista disso, o Brasil, maior exportador mundial de álcool, está ganhando destaque dentro do Japão. Já vínhamos importando álcool para a indústria, tanto que, em 2005, éramos o segundo maior destino internacional do álcool brasileiro. A abundância de recursos hídricos, o grande potencial de produção canavieira e a conseqüente possibilidade de investimentos que resultem na ampliação da produção, fazem do Brasil um país atraente para muitas empresas japonesas, diante do surgimento da demanda de álcool combustível no Japão.

2. Requisitos para que o álcool se torne uma commodity internacional: No processo de introdução do etanol no mercado japonês, como parte da estratégia energética, é fundamental saber até que ponto ele se tornará uma commodity internacional. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que garante incentivos para o desenvolvimento pelo mecanismo de mercado, a introdução de um estabilizador, que atue sobre a oferta, a demanda e o preço, teria grande importância para o crescimento sadio do mercado do álcool no médio prazo. A partir deste ponto de vista, gostaria de mencionar alguns requisitos para que o álcool se torne uma commodity internacional.

O primeiro ponto é o aumento da produção mundial. Atualmente, o Brasil é o único país que possui sobras para exportação, mas a futura expansão de países produtores e exportadores representaria, para os importadores, uma possibilidade de diluir os riscos e um fator importante para a segurança nacional. Por outro lado, a difusão da produção de biocombustíveis entre os países em desenvolvimento traria vantagens para o conjunto da economia mundial e para o meio ambiente global. Assim, seria importante transferir para os países em desenvolvimento a tecnologia, o know-how e os investimentos em álcool combustível, já existentes no Brasil.

O segundo ponto é a formação de preços, a partir da oferta de longo prazo. O país importador precisa que essa oferta seja a preços baixos e estáveis. Entretanto, do ponto de vista do uso, não podemos ignorar a relação entre os preços do álcool, do açúcar e da gasolina. É fundamental lidar com estes elementos voláteis, de modo que se tornem vantajosos, tanto para o importador, como para o exportador.

Para o importador, o melhor seria não haver elementos voláteis. Entretanto, como não podemos negar que esses elementos também atraem recursos para o desenvolvimento, é importante buscar o seu equilíbrio. Atualmente, existem índices de preços nos mercados spot, mas ainda não se difundiu o uso de uma fórmula para estabelecer o preço na importação de álcool combustível, em contratos de longo prazo. Assim, a atenção voltar-se-á para o modo como o mercado vai elaborar essa fórmula de agora em diante.

O terceiro ponto é a necessidade de estoque mundial. Com a ampliação futura do mercado de biocombustíveis, o aumento do número de países importadores de álcool trará a necessidade de evitar grandes oscilações na oferta – por exemplo, em caso de entressafra ou quebra de safra – daí a importância de manter certa reserva de estoque, seja nos países exportadores, seja nos importadores. Há discussões, se isso deverá ser feito por meio de um mecanismo de mercado ou da regulamentação interna dos países, mas será uma questão inevitável no médio prazo.

O quarto ponto está relacionado aos recursos alimentares. Os biocombustíveis têm, como característica, serem, ao mesmo tempo, fonte energética e produto agrícola. Como existe um grande volume de capital especulativo, temos de considerar o risco de uma alta irracional de preços de recursos alimentares, causada por uma interação excessiva com a variação de preço desses recursos, durante o processo de expansão do mercado de biocombustíveis.  

Entretanto, esse capital especulativo poderá ser utilizado para incentivar investimentos em desenvolvimento. A questão é saber como aproveitar o mecanismo de mercado, sem ficar demasiado suscetível ao preço dos alimentos. Para não depender excessivamente dos produtos alimentares, uma alternativa importante, no médio prazo, é desenvolver também técnicas com celulose.