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Jaime José Stupiello

Diretor Agrícola da TEreos

Op-AA-52

A cana de três dígitos
De 1975 e 1990, o setor sucroenergético vivenciou uma grande evolução. E, ao longo da década de 1990, a desregulamentação desse segmento da economia impulsionou um novo salto de produtividade da cana-de-açúcar, orientado por eficiência e competitividade. 
 
Se recortarmos o período 1995/1996, chegaremos ao momento em que a participação do açúcar brasileiro no mercado exterior aumentou de 8% para 30% do total comercializado. Esse movimento de escalada da exportação do açúcar ocorreu na contramão dos preços do mercado internacional, em queda à época, e afetou a cotação externa da commodity. 
 
Outro feito histórico dos canaviais brasileiros foi alcançado em 2007, por meio da produção de 11.200 kg de Açúcares Totais Recuperáveis por hectare (ATR/ha), nível quase 130% superior ao verificado em 1975, no início do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Tal desenvolvimento atribui-se às tecnologias agrícolas de produção, associadas à introdução de novas variedades de cana. 
 
No entanto, em 2011 e em 2012, a indústria de cana brasileira deixou de ser a mais competitiva do mundo. Nossa produtividade ficou estagnada na média de 80 t/ha. Fala-se muito em “cana de três dígitos”, e a pergunta que se faz é se podemos atingir esse patamar. E como? 
 
A discussão sobre como aumentar a produtividade agrícola da cana-de-açúcar não é nova. Mas há um consenso: a agricultura do novo milênio exige a capacidade de investimentos em tecnologia. É verdade que a colheita mecanizada trouxe, além de mais perda por causa do pisoteio e da compactação, a ocorrência de novas pragas (em razão do ambiente de cana crua). Também permitiu o aumento de pragas conhecidas com um poder de disseminação elevado, gerou ambientes mais restritivos e safras mais longas. Especialistas afirmam que a mecanização da cana reduziu, em média, 15% da produtividade no primeiro corte, que equivale a cerca de 22 toneladas. 
 
O único caminho para quem deseja vencer as adversidades nos canaviais e estar entre os produtores capazes de produzir acima de 100 t/ha é a adoção do que há de mais moderno em recursos tecnológicos. Dentre as várias tecnologias disponíveis para o setor, a mais promissora é, sem dúvida, o uso da agricultura de precisão, atuando em diversos estágios e operações da cultura.

Eu destaco duas importantes ferramentas dentro desse tema. A primeira é a aplicação de corretivos e de fertilizantes em taxa variável, tanto no plantio, quanto na soqueira. Ela diminui custos, pois racionaliza a aplicação de corretivos e fertilizantes em pelo menos 20% e garante um solo equilibrado, o que traz um ganho na ordem de 15% em produtividade. O aumento da produtividade traz um benefício direto na redução de custos para a atividade, principalmente nas operações de CT (corte e transbordo). Também diminui o custo por arrendamento. 
 
A segunda é o uso de piloto automático na operação de colheita mecanizada, que auxilia no controle de tráfego e aumenta o rendimento operacional da colhedora. A diminuição de produtividade agrícola por não utilizar o piloto automático gira em torno de 10% e isso é consequência do fato de a colhedora avançar em cerca de 25% sobre a linha da cana. 
 
Além dessas ferramentas tecnológicas que destaquei, não posso deixar de citar o trabalho que o melhoramento genético tem feito pelas entidades, ampliando o leque de variedades com melhores performances, uma prática vital para o sucesso da cultura da cana. Por isso, quero parabenizá-los pelo trabalho sério, comprometido e de alta qualidade. 
 
Outras alavancas inovadoras estão chegando e sendo analisadas. Em um futuro próximo, serão de grande valor para o aumento de produtividade. Mas, no momento, o foco deve ser garantir que a agricultura de precisão e a colheita automática sejam adotadas em larga escala no nosso mercado.