Diretor da CNA
Op-AA-04
O Brasil utiliza o álcool hidratado como combustível de motores de combustão interna há mais de 30 anos. Na década de 70, foi lançado o Programa Nacional do Álcool, Proálcool, com o objetivo de reduzir a dependência do Brasil ao petróleo. O Programa teve grande sucesso até meados da década de 90, quando cerca 96% da produção de veículos nacionais era movida a álcool.
Porém, a crise estatal atrelada ao esgotamento dos recursos governamentais e ao descompasso entre a oferta e a demanda de álcool provocou uma ruptura do setor com o Estado. Neste contexto, houve uma desregulamentação do setor, bem como o afastamento da tutela estatal. Atualmente as expectativas para a utilização do álcool estão consolidas em outro aspecto: a questão ambiental.
Com a intenção de diminuir a emissão de poluentes, foi assinado o Protocolo de Kyoto, que no seu artigo 12, incentiva os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), beneficiando a substituição de combustíveis fósseis por renováveis. Este fato evidenciou para o mundo a tecnologia de utilização do álcool como combustível puro e como aditivo, em substituição ao Éter Metil Terbutilico, MTBE, produto altamente poluente, já proibido em várias partes do mundo.
Por esta e outras razões, muitos países já começam a estudar a integração do álcool em suas matrizes energéticas, como os Estados Unidos, onde se é adicionado até 15% de etanol à gasolina, com uma demanda de cerca de 7,6 bilhões de litros. A China também irá adicionar 10% de álcool à gasolina, demandando algo em torno de 2 bilhões de litros de álcool ao ano.
A Índia planeja adicionar 5% do produto à gasolina, estimando uma necessidade de 400 milhões de litros de álcool; para a Colômbia, cerca de 750 milhões de litros; para a Austrália, 350 milhões de litros de álcool; e para o México, 3 bilhões de litros ao ano. A estimativa é de que, nos próximos 5 anos, a demanda mundial por álcool ultrapassará os 10 bilhões de litros, o que transformará o produto numa commodity de grande aceitação no mercado internacional.
Neste contexto, o grande fornecedor no mercado internacional será o Brasil. A estrutura de produção e a tecnologia empregada tornam o país, além de grande fornecedor, a nação mais competitiva em relação aos combustíveis alternativos. O etanol brasileiro é o mais barato combustível do mundo, tendo um custo de US$ 0.15 por litro, podendo ser colocado no mercado a US$ 27,5/barril FOB.
O concorrente mais próximo, o álcool produzido a partir do milho americano, tem um custo de US$ 51,56 o barril. Na Comunidade Européia o custo médio dos países produtores atinge US$ 94,54. Internamente, a expectativa da utilização do combustível renovável está aliada às mudanças do comportamento mercadológico, com a utilização das novas tecnologias de motores a combustão interna. Este fato representará a consolidação definitiva do álcool como combustível carburante na cultura do consumidor.
Dentre estas novas tecnologias, a que mais se aproxima da realidade nacional é o sistema flex-fuel, que proporciona o funcionamento dos motores com álcool, gasolina ou com a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção, dando ao consumidor a livre opção de escolher o tipo de combustível que deseja colocar em seu veículo, dependendo do seu agrado ou do melhor preço.
Hoje em dia a quantidade de veículos movidos com esta tecnologia vendidos no mercado interno é superior aos movidos somente a álcool. Ambos participam com 35% do total das vendas de veículos automotores no Brasil. A tendência é que todos os veículos nacionais sejam produzidos com esta tecnologia, o que mudará definitivamente, a referência do mercado com relação à formação dos preços do álcool combustível, pois o consumidor será o grande pontuador do mercado e, conseqüentemente, dos preços, em razão da prática da escolha.
A produção brasileira atual é de aproximadamente 14 bilhões de litros de álcool, tendo uma capacidade instalada de 16 bilhões de litros. Os investimentos estão acontecendo e várias unidades industriais deverão entrar em funcionamento nos próximos 5 anos, garantindo o suprimento para a esperada demanda do mercado interno e externo. No entanto, serão necessários investimentos em infra-estrutura portuária para suportar o aumento nas exportações.
No ano de 2004, o aumento das exportações foi de cerca de 270%, em relação ao ano anterior, atingindo 2,14 bilhões. Para o ano de 2005, a estimativa é que as exportações ultrapassem a casa dos 2,4 bilhões de litros, valor que, em 5 anos, deverá atingir 4 bilhões de litros. O Brasil tem a tecnologia necessária e a capacidade de produção para liderar a comercialização mundial de combustíveis renováveis. Contudo, torna-se necessário que as entidades governamentais desenvolvam e implantem uma política de gestão para o álcool combustível e que a classe produtora, demonstre estratégias de mercado, dando ao consumidor a necessária segurança de abastecimento. Só com ações integradas entre o governo e os produtores, a perspectiva e a história do País no contexto do uso do álcool combustível poderá ser definitivamente consolidada.