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Jairo Menesis Balbo

Diretor Industrial da Usina São Francisco

Op-AA-40

Miscelânea

Os Estados Unidos trabalham para conquistar sua independência energética em 2035. Em 2013, eles gastaram US$ 300 bilhões com importação de petróleo. Isso representa quase dois terços de todo o déficit comercial anual daquele país. O Brasil teve tudo para ser independente desde 1975, quando se tornou o primeiro país a encontrar, no etanol, a alternativa para o petróleo.

E espantou o mundo. A ponto de o então presidente da Anfavea - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, André Bier, confessar que o álcool de cana salvou a indústria automobilística – condenada a parar, por falta de gasolina e óleo diesel. O País importava 85% do petróleo de que precisava. Para quem não sabe ou não se lembra, o Brasil foi o que menos sofreu as consequências daquela crise mundial, que colocou o planeta à beira de uma guerra por energia. Nós vencemos a guerra, com ajuda da natureza, em paz.

Por que tanto contraste? Há vários motivos que distinguem esse nosso atraso, diante de tanta riqueza, e o avanço dos EUA, mesmo diante de tantos gastos e dificuldades para não sucumbir. O primeiro: educação e patriotismo; o segundo: para eles, a energia não pertence ao Partido Republicano nem ao Democrata, muito menos ao Estado. Ela é da Nação. É fácil entender essas diferenças quando se percebe que sua minúscula Constituição não é feita para vigiar e tolher a livre iniciativa, mas para vigiar o Poder e proteger o povo. Intacta e estável há 238 anos.

Os americanos podem planejar os caminhos para alcançar a meta que desejarem, porque a liberdade lhes permite adotar estratégias de mercado, com a certeza da conquista. O Brasil não pode, porque, em vez de estratégias de mercado, é obrigado a se submeter a doutrinas, ideologias, interesses individuais ou de correntes partidárias, jamais da Nação. Em nosso País, quando um grupo vê seus objetivos contrariados, trata logo de acusar o outro de falcatrua.

Em vez de propostas claras, sem viés político ou ideológico, destinadas a definir estratégias para cada setor da economia, o que se vê é a busca desenfreada por documentos que pretendem provar fraudes de toda sorte. Uma mistura de petróleo, trens do metrô ou de subúrbio, gás, água, telefonia... O que lesa toda a sociedade, obrigada a pagar a conta, sem conseguir entender de que despesa – ou desperdício.

Faltam união de todas as fontes, interdependência e independência diante do mercado, em condições competitivas de igualdade e lealdade. Por exemplo, a fonte energética canavieira pode oferecer ao Brasil a força de duas hidrelétricas de Itaipu, com o uso do bagaço e da palha, postos a produzir eletricidade, sem plantar mais nenhum pé de cana. Basta uma política energética que contemple a biomassa para expandir a tecnologia já conhecida e aumentar a produtividade: consequentemente, aumentará a oferta de energia elétrica. Com a otimização, o bagaço e a palha de apenas um hectare de cana poderão abastecer com eletricidade 21 residências.

Só a região de Ribeirão Preto tem 2 milhões de hectares de cana em 85 municípios. Hoje, essa população regional é de cerca de 4 milhões de habitantes que moram em um milhão de casas. A luz capaz de sair dos canaviais só dessa região, além de iluminar essas moradias, atenderia às necessidades das indústrias, do comércio, dos hospitais, das escolas, da agropecuária... Energia para a cidade e para o próprio campo, onde ele é gerada.

Mas essa realidade luminosa continua apagada pela política energética inadequada. Como já dissemos aqui, a causa maior é o governo, que, além de reger os músicos, quer tocar todos os instrumentos. O resultado é uma orquestra inchada, desafinada e caríssima. Para manter os compromissos políticos do inchaço, disfarçar a desarmonia e sustentar a folha, aumentam os impostos, o que significa energia mais cara.

Trata-se, portanto, de um imposto punitivo, que castiga o cidadão, ao tributar geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Mais da metade da conta de luz é imposto. Com o risco de desabastecimento, as autoridades pedem ao consumidor que economize energia. O consumidor economiza; a receita, obviamente, cai, e, para dar conta dos compromissos políticos, o governo eleva os impostos ou o preço, novamente. São 23 impostos e 13 encargos. O poder público consegue, assim, a “façanha” inédita de burlar a mais antiga lei do mercado – a da oferta e da procura.

Para aumentar a oferta de energia da cana, o governo precisa, antes, definir a função e o tamanho de cada componente da matriz para atender ao País. Ter plano estratégico para estabelecer o custo e o grau de dependência externa de cada item. Por fim, permitir que todos os componentes tenham seus valores alinhados de acordo com as necessidades do mercado.

Dois exemplos ajudam a esclarecer a participação equilibrada de todas as fontes da matriz. Dependendo da região do País, o custo médio da energia térmica nas usinas movidas a gás natural (nacional ou importado) varia de R$ 260 a R$ 740 por megawatt-hora, enquanto a energia térmica gerada nas usinas de açúcar e álcool, proveniente do bagaço de cana, sai por R$ 180,00; o investimento na ampliação da quantidade de matérias-primas naturais e mais baratas, cana-de-açúcar, eleva mais rapidamente a oferta de eletricidade.

Cientistas e delegados governamentais reunidos em Berlim concluíram que um "nível sem precedentes de cooperação internacional" será necessário para conter efeitos das mudanças climáticas e citam a cana como alternativa concreta: "Opções com emissões de baixo ciclo de vida (como a cana, árvores de crescimento rápido e uso sustentável dos resíduos de biomassa) podem reduzir emissões".

A bioeletricidade fornecida pela cana à rede economizou 7% da água nos reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil em 2013. Evitou a emissão de 7,5 milhões de toneladas de CO2. Sem essa geração, a matriz de emissões do setor elétrico teria um acréscimo de 23%.

Ao mesmo tempo, desde 1975, quando foi criado do Proálcool - Programa Nacional do Álcool, até dezembro de 2013, o uso do etanol proporcionou ao País a economia equivalente a 120 milhões de barris de gasolina importada por ano.

Essa vantagem confere ao consumidor brasileiro o privilégio único no mundo de chegar ao posto e escolher o combustível que melhor lhe convier. Por maior que seja a jazida do pré-sal, ela sempre terá fim, enquanto a cana sempre será renovável e sempre ganhará em produtividade, o que beneficia o consumidor.

Como o Brasil dispõe dessa vantagem, que pode ser cada vez mais abundante, não damos valor. Mas, durante a Copa do Mundo, será comum ver  estrangeiros curiosos com essa possibilidade. Autoridades brasileiras devem aproveitar para perceber a importância do etanol (pelo menos para os turistas...).

São essas as ferramentas, os instrumentos, os recursos, os mecanismos, as propostas e as estratégias que temos, à disposição do governo, para alavancar o sistema sucroenergético e contribuir decisivamente para o equilíbrio do segmento mais importante da economia – o da energia.

Basta as autoridades administrarem a matriz energética com eficácia e competência e confiarem-na aos que sabem produzir seus componentes: empresários, empreendedores, cientistas e trabalhadores especializados, com objetivos definidos, interessados em participar da lucratividade e da prosperidade do seu trabalho. Nesse ambiente, a competência e a eficácia prevalecem naturalmente – algo incompatível num regime atrelado a favores e barganhas do poder.

Assim, é possível atender a todas as expectativas e necessidades num só ritmo: ecologicamente correto, grande gerador de empregos qualificados, de impostos justos e genuinamente nacional.  

Isso é uma ilusão? Não, é a solução!

Existe essa possibilidade? Como está, não!