Sócia da PricewaterhouseCoopers
Op-AA-42
Os últimos meses foram marcados por importantes acontecimentos no setor sucroenergético. Boas notícias oriundas do poder público, da iniciativa privada e das organizações internacionais tendem a influenciar positivamente o desempenho da indústria da cana daqui para frente. Por parte do governo, as eleições presidenciais proporcionaram um importante debate em torno da relevância do setor para o Brasil e de propostas voltadas para a superação da crise, que, de acordo com as lideranças dessa cadeia, é a pior dos últimos 30 anos.
O governo eleito se propôs a abrir um diálogo com o setor sucroenergético, que, por sua vez, pede medidas que favoreçam, de fato, o uso e a produção das energias renováveis. Muitas incertezas sobre qual será a posição do governo e quais políticas públicas ele adotará ainda rondam o setor.
No entanto duas medidas positivas já foram implantadas e devem contribuir para amenizar a crise: o aumento de 25% para 27,5% da mistura de etanol à gasolina e a inclusão do setor sucroenergético no Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), um programa que devolve aos empresários até 3% do seu faturamento com exportações de produtos industrializados.
Do lado da iniciativa privada, temos o tão esperado etanol 2G! Esses últimos meses foram considerados históricos, já que a primeira usina de etanol de segunda geração (2G) com produção em escala comercial entrou em operação. O etanol 2G produzido a partir da palha da cana finalmente deixou de ser uma promessa. A estimativa é que o produto se torne um braço importante no faturamento das usinas e, no futuro, seja 20% mais barato do que o etanol de primeira geração, sendo responsável por aumentar em 50% a produção do biocombustível, sem a expansão da área plantada de cana.
Outras usinas de etanol 2G devem entrar em operação ainda neste ano e ao longo de 2015. Por fim, outro tema que deve impactar o setor sucroenergético é o relatório recém-publicado pelas Nações Unidas em seu painel sobre mudanças climáticas, o qual destaca a necessidade de reduzir o uso de combustíveis fósseis imediatamente. Segundo a ONU, é necessário abandonar as fontes de energia poluentes até o fim deste século, para evitar graves consequências do aquecimento global.
O ideal seria cortar as emissões de gases de efeito estufa em 70% até 2050 e zerar até 2100. Caso isso não ocorra, a temperatura da terra aumentará, provocando secas, inundações e a extinção de espécies. A ONU também incentiva transferir os recursos financeiros investidos na indústria do petróleo para as fontes de energia renováveis.
Nesse sentido, o setor sucroenergético ganha muito destaque. O mundo clama pelo uso de fontes de energia renováveis, e o setor sucroenergético, além de produzir o etanol e contribuir para a redução do consumo da gasolina, também é capaz de cogerar eletricidade através de uma fonte renovável: o bagaço da cana. O potencial do setor sucroenergético, portanto, é indiscutível e é reiterado a cada dia na agenda internacional da sustentabilidade.
Entretanto o que se percebe, neste momento, é que as oportunidades do setor ficam, muitas vezes, encobertas diante dos atuais desafios e das incertezas. No entanto é preciso que o pioneirismo e o empreendedorismo, que nortearam o setor desde o seu início, venham à tona, para que as oportunidades sejam aproveitadas e grandes feitos apareçam, como nos casos da bioeletricidade e do etanol 2G.
Enquanto se aguardam as políticas públicas, é preciso ganhar eficiência operacional, inovar nas áreas de produção e comercialização, além de implementar ações emergenciais que visam organizar o ambiente empresarial, para, então, poder aproveitar as imensas oportunidades desse setor. Não se podem desperdiçar as chances de atuar com eficiência em um segmento tão favorável aos olhos do mundo. E o momento de agir é agora!
Reestruturar as dívidas, que hoje já ultrapassam o faturamento do setor, é um dos primeiros passos. Também se deve, por meio de uma avaliação dos custos, incluindo gastos financeiros, tributários e operacionais, buscar definir e implementar estratégias de curto, médio e longo prazo que possam recuperar a rentabilidade das empresas. Portanto boas notícias e muito trabalho tendem a definir um caminho do recomeço para um setor que está em linha com a tendência mundial e que promove grandes benefícios socioeconômicos e ambientais. Enfim, um grande diferencial!