É óbvio que, nesses últimos anos, a interferência negativa por parte, principalmente, do Governo Federal no que diz respeito à política de combustíveis, controle de preços e tantas mazelas mais, provocou um completo desarranjo no setor produtivo, fazendo com que os investimentos na área agrícola fossem extremamente reduzidos em muitas empresas, entrando num círculo vicioso que comprometeu drasticamente boa parte delas, quer seja, baixos investimentos, perda de produtividade, falta de rentabilidade, menos investimentos e segue nessa sequência, com os resultados assustadores de produtividade caindo a valores muito baixos para os dias de hoje, considerando as tecnologias de que dispomos.
Acredito ser o momento apropriado à reflexão sobre alguns pontos que, por vários motivos, foram esquecidos ou abandonados, mas que, para vislumbrarmos melhores índices de produtividade, temos que rever com grande urgência. Discorrerei aqui alguns desses aspectos, e é importantíssimo que sejam trabalhados de maneira rápida, pois são ferramentas e metodologias de que já dispomos e de custo/benefício altamente interessantes. A continuarmos na “mesmice”, as coisas podem se complicar ainda mais, e ganhar produtividade tem que ser nossa meta.
Lembro ainda que, em nenhum momento, deveremos nos esquecer da palavra chave nos tempos atuais, que é "custo", olhando sempre com a visão de "custo/benefício". Hoje, posso falar com certa tranquilidade que trabalharemos com horizontes cada vez mais longos no que diz respeito à longevidade dos canaviais, chegando a oito ou dez cortes, sem grandes esforços. Alguns cuidados são necessários, mas, evitando-se uma reforma a cada dez anos; só nesse item específico, o ganho obtido é imenso.
Vencidas todas as etapas do planejamento no que diz respeito à classificação do solo e necessidades nutritivas, vamos ao preparo do solo ao qual, no meu entendimento, tem que se dar muita atenção, pois estamos falando de uma reforma a cada dez anos e, certamente, tem que ser muito bem-feito. Tenho presenciado, em algumas empresas, atitudes e alternativas mirabolantes no preparo do solo, nas quais, talvez, se tenha contemplado mais a redução de custo simplesmente e não a qualidade que se busca em um preparo condizente com o que iremos “semear” nesse campo.
Acredito ainda que, se o solo for preparado com foco de semear uma cultura em rotação, com a qualidade que esta requer, esse preparo será ideal para se implantar o canavial posteriormente. E, por falar em rotação, vejo aqui uma ótima oportunidade para as empresas melhorarem muito o potencial produtivo de suas terras, com receita adicional e com ótimo preparo do solo. Soja ou amendoim são duas ótimas alternativas, e, caso não seja possível, uma leguminosa qualquer é bem-vinda, mesmo que for somente para incorporação.
A princípio, assusta ainda alguns técnicos, mas é possível trabalhar com esse foco, e os resultados são surpreendentes, valendo um esforço adicional, sendo ferramenta fundamental para ajudar no controle de pragas, doenças e ervas daninhas. Outro ponto que tenho observado com bastante carinho e tentado orientar produtores diz respeito à qualidade do material a ser plantado. Boa parte da perda de produtividade, nesses últimos tempos, credito a esse ponto, pois muita cana foi plantada sem a qualidade e a sanidade necessárias para sua utilização. A grande maioria das empresas e produtores perdeu a noção exata desse princípio básico para o sucesso, que é o “cuidado” na implantação do canavial.
Princípios agronômicos básicos foram abandonados, e fomos os grandes responsáveis por disseminarmos pragas e doenças, de uma maneira muito mais rápida. Essa questão tem que ser tratada de forma muito mais focada, implantando-se áreas de viveiros que produzirão os futuros canaviais comerciais e que necessariamente precisam de cuidados e tratamentos especiais para vislumbrarmos qualidade e sanidade, tão importantes no somatório de necessidades para os ganhos de produtividade. Com o surgimento e a difusão da metodologia da MPB (Muda Pré-brotada), não há razão alguma para que isso aconteça a partir de “ontem”.
Toda a base de formação de nossos viveiros passa obrigatoriamente pela utilização de MPB de qualidade comprovada. Ainda com relação a esse assunto, há um espaço enorme para a utilização do sistema “MEIOSI” (Método Inter-rotacional Ocupado Simultaneamente), trazendo muitos pontos positivos na sua utilização, entre eles, alto percentual da área ocupada com cultura em rotação, produção de muda com qualidade comprovada, isenta de pragas e doenças, ou seja, formamos áreas comerciais com características de viveiro primário, baixíssimo custo de implantação, uso racional de quantidade de mudas por hectare, planejamento muito mais fácil e funcional, ganhos de produtividade, entre muitos outros, além da enorme redução de custo direto.
É imprescindível, para a utilização desse sistema, que os equipamentos possuam piloto automático, aliás, sendo esse aspecto um outro fator que vejo como fundamental para ganhos de produtividade. Paralelismo perfeito na operação de plantio será o início do trabalho, sendo necessário que a colheita também seja realizada com equipamentos, reduzindo substancialmente o pisoteio e o arranquio das soqueiras, o que muito colaborará para o somatório de ganhos de produtividade.
Outra metodologia que podemos utilizar em canaviais com bom potencial produtivo é o replantio de falhas. Temos já alguns resultados com boa recuperação dos talhões e proporcionando mais alguns anos de colheita nessas áreas, sem a necessidade de reforma, potencializando produtividade com custos bastante reduzidos. O tema “fertilização” também tem que ser tratado com bastante atenção, pois temos grandes inovações nos fertilizantes químicos, com formulações mais completas e mais eficientes; embora aparentemente mais caras, quando utilizadas, acabam dando bom ganho de produtividade.
Atenção também ao uso de fertilizantes orgânicos, principalmente no plantio, o que acaba trazendo resultados interessantes. Outro ponto importantíssimo diz respeito a áreas de reforma, e tenho orientado para que se utilize a reforma em faixas, pois minimizam de maneira eficaz os danos provocados por erosão, uma vez que, nesse novo modelo de colheita mecanizada, temos abusado do plantio em desnível, ajudando muito também no planejamento de combate a incêndio, pois criamos faixas que impedem o caminhamento do fogo.
Por fim, e também importante, um acompanhamento muito próximo do ataque de pragas e doenças, que certamente são pontos que colaboraram muito para perdas de produtividade. Atenção especial ao controle de doenças de folhas, pois pode ser interessante para muitas variedades hoje plantadas e com boa efetividade dos produtos disponíveis no controle destas doenças.
Lembro aqui o caso específico da soja que, com o aparecimento da ferrugem, se passou a ter controle quase obrigatório, controlando de maneira eficaz outras doenças, principalmente de final de ciclo, com ganhos interessantes de produtividade. Certamente, muitas doenças de folhas da cana-de-açúcar passam a ser controladas melhorando a condição de produção. Com esse somatório de atividades e controles, daremos um grande passo para chegarmos à produtividade na casa dos três dígitos, com efeito direto na redução de custo, aumentando a chance de produzir com rentabilidade. Ao trabalho.