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Ismael Perina Junior

Produtor Rural

Op-AA-51

Planejamento é a chave deste cenário
Convidado, mais uma vez, para escrever aos leitores desta conceituada revista, confesso que, quando soube a pauta, fiquei com vontade de desistir tamanha a complexidade do assunto, mas calmamente fui absorvendo e refletindo, e resolvi aceitar. Com uma boa experiência no setor sucroenergético pelos longos anos vividos intensamente nessa atividade, acredito poder trabalhar o tema e, no mínimo, levar os leitores a pensar e a refletir.
 
É claro que vou, aqui, tratar principalmente dos assuntos relacionados à produção agrícola, mas, como ao longo desses últimos anos, participei ativamente de inúmeros fóruns de discussões, abordarei alguns temas de ordem geral e que envolvem os procedimentos da porteira para fora. Tenho, hoje, em boa parte do meu tempo, trabalhado para promover ações visando à obtenção de ganhos de produtividade na produção de cana-de-açúcar, e portanto, o assunto tratado “cai como uma luva”. Avaliando de maneira bem lógica, temos, hoje, um grande parque de máquinas e implementos com alto grau de tecnologia “embarcada”, mas que ainda vem sendo pouco utilizada pelo setor. 
 
Os baixos índices de produtividade que temos obtido nesses últimos anos certamente têm como um dos fatores importantes a mecanização da colheita. E, aqui, podemos cometer um grande equívoco se analisarmos de maneira simplista. Nesse ponto, creio que um dos maiores problemas é a adaptação ao novo modelo. O canavial a ser implantado tem que ser muito bem planejado para impedir que as máquinas e os implementos acabem por destruir todo aquele trabalho de implantação do novo canavial.

O maior fator de perda de produtividade certamente é o pisoteio nas soqueiras de cana-de-açúcar, e isso não pode ocorrer. São fabricadas, hoje, máquinas altamente tecnificadas, com piloto automático, que permitem um trabalho altamente eficiente, diminuindo drasticamente esse fator e permitindo melhores condições de desenvolvimento para os cortes futuros. Planejamento é a chave nesse cenário. Acredito que boa parte das marcas disponíveis no mercado estão aptas a nos dar tranquilidade para a realização de uma boa tarefa.
 
Observando um pouco melhor os aspectos tecnológicos no que diz respeito à formação dos canaviais, acredito estar, aqui, um outro grande desafio. Tenho trabalhado muito nesse tema e vejo que, ainda, muitas empresas e produtores não se atentaram a esse aspecto e continuam cometendo muitos erros na implantação das lavouras que terão um horizonte de vida bastante longo. Boa parte das empresas, senão quase a totalidade, não está muito atenta ao “pecado mortal” que cometem ao formarem canaviais sem os devidos cuidados na sua formação. 
 
Contamos com grandes centros de pesquisa, que, com anos de trabalho, conseguem nos fornecer variedades de cana-de-açúcar com grande potencial produtivo, e nós, sem os mínimos cuidados básicos, acabamos destruindo alguns materiais por falta de não realizarmos tarefas elementares para termos sucesso. 
 
A palavra “estrutura”, nesse caso, é fundamental, pois as empresas necessitam urgentemente voltar a criar uma estrutura de formação de viveiros para se ter muda de qualidade, com sanidade, isenta de pragas e doenças, para que os seus canaviais sejam formados com as melhores “sementes”. 
 
Da forma como as coisas vêm ocorrendo, certamente seremos incapazes de atingir os sonhados três dígitos (100 ton/ha) na nossa produtividade. Com o aparecimento da MPB (Muda Pré-Brotada), isso ficou muito simples, e cabe aos responsáveis por essa área nas empresas utilizar-se dessa ferramenta o mais rápido possível.

Com MPB e Meiose (Método de Intercalar-rotacional ocorrendo simultaneamente), essa tarefa tem solução fácil, permitindo ocorrer o que eu chamo de “planejamento perfeito”, onde o seu viveiro de mudas está instalado na área a ser plantada, sem nenhuma chance de o plantio não ser realizado com a variedade escolhida para aquela área. Estamos utilizando ainda muito pouco esse recurso “revolucionário”. Praticamente, nesse quesito, não há grandes necessidades de adaptação na estrutura para gerenciar esse modelo.
 
Ainda fazendo parte desse conjunto e não menos importante, temos que olhar com muita atenção os fatores nutricionais e de controle de pragas e de doenças. Vivenciamos, nesses últimos anos, principalmente pelo incremento da colheita de cana crua, o aparecimento ou o aumento de pragas e de doenças que, até então, não tinham grande importância.

O fato é que as empresas e os produtores têm que estar atentos a tudo isso, com equipes especializadas e próprias para esse acompanhamento. Temos excelentes produtos que diz respeito a nutrição de plantas e também a controle de pragas e de doenças, e isso tem que fazer parte do dia a dia dos responsáveis pela produção agrícola. Com esses três pontos bem resolvidos, certamente criamos um ambiente de ganho de produtividade e que ocorrerá, mas é importante que comecemos “ontem”.
 
Saindo um pouco da produção e indo para algumas questões de ordem geral, citaria, talvez, a questão trabalhista como o grande fator a ser estudado. É “impossível”, principalmente na produção rural, se cumprirem todos os dispositivos e normativos legais. A área rural necessita de uma legislação específica que permita ao empregado e ao empregador rural maior flexibilidade. Temos informações de que esses estudos vêm sendo conduzidos,  sendo urgente tal definição para a melhoria de todo o setor produtivo rural. Precisamos acabar com essa “indústria” de ações trabalhistas que tanto complicam a vida dos produtores rurais.
 
Em linhas gerais, pois, certamente, outros articulistas falarão sobre esses temas, lembraria a respeito dos problemas de toda ordem pela falta de infraestrutura logística de transporte que nos traz grandes custos depois da porteira e nos tira rentabilidade e competitividade. 
 
Já passa da hora de uma grande revolução nos métodos de transporte de carga no Brasil. Hidrovias e ferrovias têm que aumentar sua participação, que, certamente, trarão grandes benefícios a toda a sociedade e precisam ser incentivados. Além delas, as rodovias têm papel fundamental no desenvolvimento das atividades do setor, quer seja na execução da safra propriamente dita, quer seja no transporte de açúcar e etanol, sendo, portanto, imprescindível investimentos nessa área.

Recursos que ajudariam a melhorar essas condições seriam aqueles advindos da Cide – Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico, e parte deles devem ser obrigatoriamente alocados na conservação de estradas, principalmente aquelas de âmbito municipal. Tributo esse que tem que ser encarado como de alto valor para a sociedade pelos benefícios que promove em relação à utilização dos combustíveis fósseis.
 
E, finalmente, temos que melhorar nossa estrutura de impostos. Da forma como está, o governo penaliza demais as empresas, fazendo com que o caráter burocrático que advém dessas inúmeras “armadilhas” criadas, dificultem, em grande parte, a vida das empresas. A luta é grande, mas só assim acredito que o setor conseguirá, cada vez mais, ser competitivo, melhorar seu desempenho e continuar trazendo para a sociedade inúmeros benefícios sociais e ambientais.