Secretária Executiva do Cenbio
Op-AA-13
Colaboração: José Goldemberg e Patrícia Guardabassi
Os problemas relacionados à sustentabilidade da cana-de-açúcar estão sendo seriamente tratados pelas autoridades ambientais do estado de São Paulo, responsável por 63% da produção nacional. Os impactos ambientais ocasionados pela cultura da cana-de-açúcar, processamento industrial e uso final, incluem efeitos sobre o ar, solo, recursos hídricos e biodiversidade.
O principal efeito positivo do uso do etanol é a qualidade do ar nos centros urbanos: a eliminação dos compostos de chumbo da gasolina, redução das emissões de monóxido de carbono, eliminação de enxofre e materiais particulados, emissões de compostos orgânicos menos tóxicos e fotoquimicamente reativos. Do ponto de vista global, na indústria da cana-de-açúcar, a relação entre a quantidade de energia renovável produzida, pela quantidade de energia fóssil utilizada, é de 8 a 10, para a produção de etanol.
A conseqüência disso é um extraordinário desempenho industrial, que evita emissões de gases de efeito estufa, equivalentes a 13% das emissões totais do setor energético brasileiro (referência 1994). Por outro lado, a queima sem controle da palha da cana-de-açúcar, como método de facilitar a colheita manual, é potencialmente perigosa e deve ser evitada.
Essa prática, que resulta em intensa poluição do ar, está sendo eliminada, por meio de legislação ambiental, conforme lei aprovada em 2002, no estado de São Paulo. O etanol de cana-de-açúcar também apresenta a vantagem de gerar bagaço como um subproduto, o qual pode ser utilizado como combustível, para geração de energia. A colheita mecânica da cana propicia benefícios energéticos da utilização da palha da cana, além do bagaço já utilizado, para geração de excedentes de eletricidade.
Os níveis de captação e lançamento de água para usos industriais decresceram substancialmente nos últimos anos, de cerca de 5m3/t de cana coletada, em 1997, para 1,83 m3/t de cana, em 2004. O nível de reuso de água é alto, 21m3/t de cana, e a eficiência dos níveis de tratamento atingiu 98%. Há também a substituição do processo tradicional de lavagem da cana pela lavagem a seco. Práticas agrícolas modernas incluem o retorno da água de lavagem para o campo.
Por outro lado, a produção de cana-de-açúcar praticamente não é irrigada. Em relação aos poluentes orgânicos, a vinhaça é a maior preocupação, por ser um produto altamente poluente e não poder ser despejado em rios, etc. Um grande número de estudos, a respeito de lixiviação e possibilidade de contaminação de águas subterrâneas, indica que, em geral, não há impacto danoso para aplicação em níveis inferiores a 300 m³/ha.
Um parâmetro técnico estabelecido pela Cetesb, regulamenta todos os aspectos relevantes: áreas de risco, áreas permitidas e tecnologias. Como poluentes inorgânicos, podemos citar herbicidas, inseticidas, fungicidas, maturadores, agentes de dispersão adesivos e desfolhantes. Na legislação brasileira, existem regras e regulamentações, desde a produção até o uso e disposição final destes materiais, cobrindo todos os aspectos importantes.
As doenças da cultura da cana-de-açúcar são combatidas pela seleção de variedades resistentes a doenças, num grande programa de melhoramento genético. Há mais de 500 variedades de cana. Em relação ao uso do solo, é relevante observar que no estado de São Paulo ainda há espaço para a expansão da capacidade produtiva, por meio do uso de terras ocupadas por pastagens.
Em 2004, as áreas do estado utilizadas para pastagem atingiram 10,2 milhões de hectares, enquanto a área utilizada para plantação de cana-de-açúcar, para uso industrial, totalizava 3,4 milhões de hectares. A expansão da cana-de-açúcar, que ocorreu em São Paulo, entre 2002 e 2004, deu-se sobre áreas de pastagem e outras culturas.
Além disso, as áreas de pasto apresentam baixíssimo índice de lotação, quando comparadas às médias de países desenvolvidos. A população bovina tem crescido e a área destinada à pastagem, diminuído. Melhoramentos genéticos produziram culturas mais resistentes, mais produtivas e melhor adaptadas a diferentes condições. Tais melhoramentos permitiram o aumento da produção de cana-de-açúcar, sem aumento excessivo da área plantada.
Em São Paulo, há planos de aumentar a área plantada em 50%, até 2010, num processo que está sendo observado de perto pelas autoridades ambientais. Levantamentos existentes mostram poder haver espaço suficiente para esta expansão, sem pressionar o meio ambiente, principalmente em áreas usadas para pecuária, que está se tornando mais intensiva.
Em relação à qualidade do solo, a erosão e a depleção de nutrientes podem ser minimizadas por planos de gerenciamento de erosão, evitando plantações em solos marginais ou vulneráveis, ou com alta declividade, monitoramento da qualidade do solo e balanço de nutrientes. Hoje, a cultura da cana-de-açúcar no Brasil é renomada, por sua pequena perda relativa de solo (em comparação à soja e ao milho, por exemplo).
O sistema de rotação de culturas é utilizado na cultura de cana. Durante cada período de colheita, 20% da área de cana é removida e substituída por culturas, principalmente amendoim, como forma de permitir a recuperação do solo. Os impactos à biodiversidade, causados pela produção da cana-de-açúcar, podem ser assim resumidos: o impacto direto da produção de cana à biodiversidade é limitado, pois a cana ocupa principalmente áreas de pastagens e/ou outras culturas alimentícias. Estas áreas estão distantes de biomas, como Floresta Amazônica, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.