Diretor Executivo de Operações da JSL
Op-AA-28
Tanto o setor produtivo quanto o mercado financeiro tendem a, cada vez mais, privilegiar empresas preparadas para uma economia de baixo carbono. No setor sucroalcooleiro, como os processos de CCT – Corte, Carregamento e Transporte – da cana-de-açúcar fazem parte da cadeia do produto final, seja ele o etanol, o açúcar ou a energia elétrica gerada a partir da queima do bagaço, as empresas precisam pesquisar oportunidades de redução das emissões nessas operações.
Enquanto as montadoras ainda não oferecem alternativas comerciais para o uso sistemático de combustíveis mais “limpos” nos equipamentos do CCT, a solução é desenvolver meios para uma operação mais eficiente destes, por exemplo, investindo na renovação e na modernização da frota de caminhões, bem como na melhoria das máquinas.
Calcula-se que um caminhão de 40 toneladas consumia cerca de 55 litros de diesel para percorrer 100km em 1966. Após 20 anos, para a mesma distância, eram necessários 36 litros e, entre 2001 e 2010, apenas 34 litros. Reduzir o consumo significa economia e menor nível de emissões. O transporte da cana-de-açúcar das fazendas até as usinas comumente ocorre em condições operacionais adversas e severas, muitas vezes em estradas de terra mal conservadas e topografias desfavoráveis.
A evolução da engenharia e da tecnologia tem permitido que empresas especializadas nesse tipo de transporte otimizem a configuração do caminhão para cada operação, em parceria com a montadora, que faz os cálculos através de programas de computador específicos.
As customizações permitem que a velocidade desejada esteja dentro da melhor faixa possível de rotação do motor. Assim, o caminhão trafega a maior parte do tempo dentro das rotações ideais para funcionamento do motor e na melhor condição de consumo de combustível, ou seja, uma maior média de diesel por quilômetro.
Como ilustração, na JSL, para as operações de transporte florestal e sucroalcooleiro, que utilizam o mesmo tipo de veículo, uma categoria específica de caminhão 6x4, com mesma potência, foi customizada em 5 configurações diferentes, para diferentes terrenos e topografias.
As principais customizações ocorrem na relação diferencial, na redução, no câmbio, na distância entre eixos e na quinta roda. Há uma configuração de caminhão ideal para cada região e para cada operação. Com isso, conseguimos a condição ideal de rotação de motor, velocidade média, trocas de marcha, desgaste de embreagem, entre outros, permitindo o máximo de eficiência em produtividade, consumo de combustível e custo de manutenção.
Porém ter frota nova e com a melhor configuração para cada tipo operação não é garantia de sucesso. É preciso operar corretamente o equipamento, com rotações, marchas e velocidades ideais. Isso evita o desgaste prematuro dos componentes, reduzindo ainda mais o consumo de combustíveis.
Além disso, uma operação eficaz reduz fortemente o risco em questões de segurança. Chegamos ao nosso terceiro fator crítico de sucesso: ter mão de obra preparada. E, novamente, podemos nos aliar à tecnologia. Computadores de bordo de alta performance em telemetria custam entre 1% e 2% do valor do caminhão.
Esses equipamentos permitem que sejam definidos os parâmetros ideais de operação de cada veículo (RPM, utilização de freio motor, velocidade, freada brusca, arrancada brusca, utilização de marcha, pressão, temperatura etc). Depois de definidos os parâmetros, esses computadores passam a monitorar a operação em tempo real e a registrar eventuais violações.
Com isso, podemos identificar os operadores que precisam ser treinados e quais os principais tipos de não conformidades. Experiência recente dessa tecnologia em 40 caminhões mostrou que, nas primeiras semanas, 12% dos motoristas cometeram 55% das violações dos parâmetros preestabelecidos. Com os treinamentos específicos e direcionados, em três meses, as violações mensais foram reduzidas de quase 30 mil para muito próximo de zero.
Com os equipamentos sendo operados em parâmetros quase ideais, a redução do consumo de combustível foi de 17,3%. Menos combustível queimado significa menos CO2e (gás carbônico equivalente) na atmosfera. De acordo com a FBDS (Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável), a queima de 1 litro de diesel emite 2,68kg de CO2e.
Um hectare de floresta, entre 20 e 30 anos, captura o equivalente a 290 toneladas de CO2e. Com economia dos 17,3% no consumo de diesel dos 40 equipamentos, durante 5 anos, deixaram de ser jogadas na atmosfera 8,9 mil toneladas de CO2e . Seriam necessários 310 mil m2 de floresta para capturá-lo, durante 20 a 30 anos. Frequentemente, pensamos que as alternativas para aumento de produtividade e redução dos custos estão sempre na direção oposta à preservação ambiental. Essa experiência nos mostra que podemos unir esses dois objetivos das empresas responsáveis.