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Ismael Perina Junior

Presidente da Orplana

Op-AA-32

Com pesquisas, as dificuldades são menores

A história da humanidade tem nos mostrado o quanto a pesquisa é importante para o nosso desenvolvimento, principalmente no que diz respeito à produção de alimentos, fibras e energia. Através dela, foram possíveis ganhos de produtividade nos diversos segmentos, fazendo com que o grande crescimento populacional não comprometesse o abastecimento.

Saindo um pouco desse contexto amplo, analisando nosso segmento sucroenergético e, mais ainda, visualizando o segmento da produção de cana-de-açúcar, acho fundamental analisarmos o passado recente do Brasil, principal país produtor da matéria-prima.

Tomando por base os últimos 30 anos, nossa produtividade agrícola não só apresentou um grande salto, como também a qualidade da matéria-prima melhorou bastante. Se verificarmos um pouco mais, veremos que as safras, anteriormente, iniciavam-se mais tarde, geralmente em meados de junho, e encerravam-se em meados de novembro.

Pesquisadores foram ao trabalho e, hoje, temos variedades com boa maturação natural já nos primeiros dias de abril, e algumas outras com bons resultados até meados de dezembro. É importante lembrar que essa condição é ainda melhor com o uso de maturadores artificiais.

Isso se deve a grandes esforços dos técnicos e instituições de pesquisa, dentre elas o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, que, através de cruzamentos, conseguiu esses avanços. Desde a sua fundação, o CTC tem no seu DNA a busca por melhorias, tanto na produção agrícola como nas condições industriais.

Passado o tempo, assistimos, hoje, devido a fatores principalmente de ordem financeira e climática, a problemas com nossa produtividade e assim podemos pautar alguns pontos sobre o futuro. Nesse momento, me atenho a comentar sobre pesquisa e desenvolvimento voltados para a produção agrícola. Instituições como o CTC serão responsáveis por aprimorar as condições atuais de produtividade, fundamentais para o nosso sucesso ou sobrevivência.

Como exemplo, cana-de-açúcar mais produtiva, com maiores teores de sacarose e de fibra, dependendo da finalidade principal dessa matéria-prima; menor necessidade de uso de insumos químicos, tanto fertilizantes como agrotóxicos; boa resistência à seca, canas que não florescem nunca, resistentes a geadas, pragas e doenças das mais diversas e com boa aceitação à colheita mecânica e pisoteio são nossas necessidades. Com essas melhorias inseridas nos materiais novos, certamente, teríamos o melhor dos mundos, com ganhos representativos e custos de produção reduzidos. Lucro na certa.

Entretanto sabemos que a caminhada é longa. Os trabalhos de melhoramento em cana-de-açúcar, devido a várias características específicas, são longos e requerem grande quantidade de recursos financeiros, que são extremamente deficitários, avaliando-se nossa condição atual. Nesse aspecto, temos que valorizar, principalmente, nossos pesquisadores, não só do CTC, mas de todas as empresas que, até hoje, conseguiram levar as pesquisas a bom termo. Sabemos o quanto é difícil alcançar sucesso com recursos insuficientes e, muitas vezes, sem o apoio necessário.

O futuro certamente não permitirá que continuemos assim. Assistimos, nesses últimos anos, a um grande incremento nas produções de beterraba e milho, nossos concorrentes diretos na produção de açúcar e etanol, o que nos sugere que devamos trabalhar muito para que a competitividade da cana-de-açúcar continue com as vantagens que sempre lhe foram peculiar.

Nossas tecnologias na busca constante por ganhos, utilizando-se de ferramentas como a transgenia e aceleradores no processo de multiplicação, serão fundamentais para que isso aconteça. O Brasil, como grande usuário de cana-de-açúcar para produção de açúcar, etanol e bioenergia, deverá ser o grande protagonista na pesquisa dessas novas tecnologias, pois a necessidade é nossa, e será ele o grande responsável por essa “revolução”.

Os direcionamentos praticamente estão aí na cabeça de muitos pesquisadores e, como exemplos, poderíamos citar: o uso completo do bagaço na produção de etanol; o da palha alimentando caldeiras; variedades resistentes à broca, cigarrinha e outras pragas e também às doenças causadas por bactérias, vírus e fungos; a propagação através de materiais vegetativos como se fossem sementes, diminuindo enormemente os custos que temos nas operações de plantio, e muitos outros mais. Para isso, são imprescindíveis recursos humanos e financeiros. E essa, talvez, seja a nossa grande tarefa, a de viabilizar essas pesquisas.

Ainda bem que temos o CTC, um centro de excelência, que vive um momento de definições cruciais. É preciso, nesta hora, juntar esforços dos mais variados para que o grande salto seja dado na direção do futuro.

Participação de todos, num esforço comum para dar sustentação ao desenvolvimento de pesquisas necessárias para o crescimento, com investimentos públicos e privados, que permitirão a toda a cadeia produtiva colher os frutos desses investimentos e à população, os seus benefícios, além de permitir que o Brasil continue sendo o grande exemplo de utilização de combustíveis renováveis do mundo.