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Guido Mantega

Presidente do BNDES

Op-AA-19

Governo amplia investimento para enfrentar crise global

O governo brasileiro está preocupado com a crise financeira e com seus impactos na economia real e não medirá esforços para manter o crescimento do país e evitar uma desaceleração muito forte. São muitos os desafios. O principal é reverter a tendência de estagnação que ameaça alguns setores, conforme números recentemente divulgados pela indústria nacional.

Os dados são preocupantes. Mas, o governo está alerta e acompanhando todos os movimentos. Com base nos fundamentos econômicos sólidos, mantidos ao logo dos últimos seis anos, o Brasil tem se destacado no enfrentamento da crise, em comparação com os demais países. É possível que o país saia ainda mais fortalecido desta turbulência.

A estratégia principal do governo, na fase mais aguda da crise, é aumentar o investimento público nos setores prioritários. Anunciamos um incremento de R$ 100 bilhões, via BNDES, para financiar projetos dos setores de infraestrutura, energia, petroquímico e bens de capital, entre outros, com foco na manutenção e geração do emprego.

A determinação do presidente Lula é de que os ministérios mantenham os programas de investimento e reduzam despesas de custeio. Os programas sociais serão mantidos e fortalecidos. Dentro da nossa política anticíclica, contamos ainda com um aporte adicional de R$ 142 bilhões para o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento.

Desde o recrudescimento da crise, a partir de setembro de 2008, o governo vem atuando para mitigar os riscos da crise financeira sistêmica. Reduzimos o compulsório para fornecer mais liquidez no mercado interbancário e aumentamos recursos para capital de giro direcionado aos setores mais sensíveis aos choques externos, como construção civil (R$ 3 bilhões), pequenas e médias empresas (R$ 5 bilhões) e setor automobilístico (R$ 4 bilhões).

No caso específico do setor agrícola, que já obteve apoio do governo numa abrangente renegociação de dívidas rurais, antes da agudização da crise, o reforço foi amplo. Autorizamos o Banco do Brasil a antecipar desembolsos para financiar a safra 2008/2009, disponibilizamos recursos adicionais de vários fundos, no total de R$ 5 bilhões, aumentamos o crédito direcionado com compulsório (R$ 5,5 bilhões) e os recursos da poupança rural, de 65% para 70% (R$ 2,5 bilhões).

Ainda para fomentar investimento no setor agrícola, permitimos o financiamento indireto de produtores, via compra de CPR - Cédula de Produto Rural, de agroindústrias e tradings e disponibilizamos crédito de R$ 500 milhões da poupança rural a médios produtores, por meio do Proger Rural, com taxa de juro equalizada pelo Tesouro Nacional.

Bancos públicos (BNB e Basa) que operam com o crédito rural comprometeram-se a alocar R$ 1 bilhão para o financiamento rural, com recursos do FNE e R$ 350 milhões do FCO, respectivamente, adicionalmente ao projetado para o próximo ano agrícola. Além disso, elevamos os preços mínimos de garantia para a safra 2008/2009 de vários produtos. Recentemente, o governo liberou R$ 700 milhões, a serem destinados para capital de giro às cooperativas agrícolas.

O governo está dialogando com os bancos sobre a necessidade de redução dos custos dos empréstimos. Esse é o momento de reduzir juros para possibilitar o aumento do consumo e, consequentemente, da demanda, que movimenta a economia de um país. O spread e a taxa de juros ao tomador final tendem a cair. Essa tendência será ditada pelos bancos públicos, que já estão reduzindo os custos dos empréstimos.

O Banco Central também já reduziu a taxa básica de juros e os recursos adicionais liberados para o BNDES, com encargos menores, serão parcialmente repassados aos bancos privados. É importante destacar que para combater a crise, assim como o governo está aumentando os investimentos públicos e atuando para ampliar a oferta de crédito e baratear o custo dos financiamentos, o empresário brasileiro também deve ser ousado e afastar o temor da crise.

A atividade não pode parar e deve continuar gerando emprego e renda. É preciso manter a produção, porque a demanda não caiu.O governo não está inerte diante da crise. Temos fundamentos econômicos sólidos, nossas empresas e nossos bancos estão sólidos. O Fundo Soberano do Brasil também reforça a política anticíclica do governo. São R$ 14,2 bilhões poupados e que podem ser utilizados em momentos de turbulência.

Desta forma, apesar da retração da indústria no último trimestre de 2008, que pode persistir no primeiro trimestre de 2009, ainda sob o impacto da fase mais aguda da crise, a tendência é de que esse cenário dissipe-se ao longo do segundo semestre. É possível, portanto, que o país mantenha sua trajetória de crescimento, ainda que num ritmo menor que nos últimos anos.