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Mauro Alexandre Xavier e Marcos Guimarães de Andrade Landell

Pesquisadores Científicos do IAC

Op-AA-41

Incorporando os benefícios da inovação varietal

O setor de produção e processamento de cana-de-açúcar no Brasil desfruta de um importante ativo representado por um conjunto de insumos básicos e essenciais: as modernas cultivares. A adoção da estratégia de seleção regional associada à frequência de liberações de cultivares é resultado do trabalho ininterrupto das instituições de pesquisa e desenvolvimento (P&D), principalmente os programas de melhoramento.

Tais programas e suas equipes dedicam, para o desenvolvimento de suas atividades, de dez a quinze anos, período necessário para que ocorra uma robusta e ampla caracterização fenotípica dos novos pacotes varietais. Essa dinâmica possibilitou, nas últimas décadas, construir um grande ativo ou “cardápio varietal”, o qual está à disposição do setor sucroenergético nacional, independentemente das siglas institucionais.

Nesse cenário, as equipes técnicas das unidades de produção de cana-de-açúcar têm possibilidade de realizar suas escolhas a partir de um amplo e diversificado pacote tecnológico. Essa amplitude, em tese, é garantia de segurança biológica; no entanto requer, para sua utilização, uma base técnica mais elaborada. Na prática, apesar de o setor ter à disposição cultivares, manejos fitotécnicos, métodos e profissionais qualificados, o indicador de concentração varietal ainda é um paradigma a ser discutido.

A simples análise da atual escala de cultivo da cana-de-açúcar no Brasil (aproximadamente dez milhões de hectares) e o “mosaico” de ambientes em que é cultivada são sinalizadores naturais da necessidade de explorar estratégias de seleções que agreguem ganhos da interação genótipo/ambiente nos programas de melhoramento. Essas mesmas estratégias devem ser “traduzidas” para as áreas comerciais, ou seja, a diversidade edafoclimática dessa ampla área cultivada com a cultura enseja uma utilização peculiar em cada um dos macronichos ambientais da canavicultura brasileira.

Nesse sentido, há oportunidades de desenvolvimento de sistemas de multiplicação de cana-de-açúcar que permitem uma rápida incorporação da tecnologia varietal, mudando radicalmente o cenário presente. O programa Cana do Instituto Agronômico desenvolveu e apresentou o sistema de mudas pré-brotadas, MPB. A proposta da inovação é estabelecer um novo conceito de plantio e a formação de áreas de multiplicação de cana-de-açúcar. 

A característica principal é a simplicidade do processo de produção da muda, MPB, que se desenvolve em oito etapas, em um período de 60 dias, conforme a ilustração. Esse fato permite que a inovação seja utilizada em diferentes escalas de produção em usinas, associações de fornecedores, pequenos, médios e grandes produtores, promovendo, enfim, ampla socialização do conhecimento. 

A mudança de conceito na forma de plantio desencadeia uma série de desdobramentos com ganhos que podem ser agregados ao longo de todo o sistema de produção. Os ganhos são principalmente de logística operacional, redução de até 90% no consumo de mudas e qualificação do processo de produção e formação das diversas categorias de viveiros de multiplicação. A simplicidade e a inovação desse sistema abrem novas demandas de desenvolvimento e geram perspectivas de novos cenários e padrões produtivos que deverão contribuir para uma nova canavicultura do século XXI, sem dúvida, mais sustentável.