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Fernando José Prati

Gerente Agrícola Corporativo do Grupo Toniello

Op-AA-28

Na contramão da tendência, mas aliado da técnica

O setor sucroalcooleiro sofreu profundas mudanças na última década. A sociedade mundial exige a busca por novas fontes de energia, que sejam renováveis e menos poluentes que as atuais, e, com isso, o etanol surgiu como uma grande opção de mercado.

Com o aumento da competitividade e grandes investimentos de capital estrangeiro, a busca por novas tecnologias que proporcionem aumento de produtividade tornou-se de fundamental importância. O solo, até então tratado como mero substrato, pois, segundo algumas pessoas, “a cana aguenta desaforo”, passou a ser visto como um fator importante no aumento de produtividade, se mais bem explorado e trabalhado durante o seu preparo.

Ultimamente, com a febre de redução de custos, diminuíram-se muito os gastos com preparo de solo, fazendo-se cultivos mínimos, e, cada vez mais, se deixou de verificar as consequências que isso poderia acarretar. Uma simples planilha de Excel passou a substituir qualquer análise técnica. Um verdadeiro assassinato tecnológico.

Não podemos, de forma alguma, confundir redução de custos com redução de investimentos. Como diz um amigo meu: “é possível ganhar mais, gastando mais”. É fácil de explicar, façamos uma analogia. Os nossos filhos, para crescerem fortes e saudáveis, precisaram de uma boa  alimentação, balanceada e saudável.

Se eles deixassem de ingerir vitaminas, proteínas, carboidratos etc., cresceriam raquíticos e estariam muito mais suscetíveis a doenças, tendo, assim, uma expectativa de vida muito curta. Em contrapartida, se você gastou mais na alimentação e na formação de seu filho, gastará menos com remédios e hospitais e o terá saudável por muito mais tempo.             

Com a cana é a mesma coisa, se você deixar de corrigir o solo, ou der uma pequena área para exploração radicular, não descompactar, etc., sua cana terá uma produtividade baixa e vida curta (baixa longevidade de soqueira), ocasionando, assim, um aumento nos custos finais, em nome de uma redução aparente e momentânea do custo de preparo do solo. 

É com essa visão que gostaria de relatar a nossa experiência em preparo de solo para cultura da cana-de-açúcar, que já possui mais de 15 anos de sucesso e é peça fundamental no nosso “Programa de Crescimento Vertical”, implantado nas empresas do Grupo Toniello e que proporcionou sairmos de uma produtividade de 87 ton/ha em 1995 para 105 ton/ha no ano de 2010.

Os nossos principais objetivos com o preparo de solo são conseguir uma maior longevidade de soqueira, garantir um stand ideal (sem falhas) ao longo dos cortes (principalmente devido à agressividade do corte mecânico), garantir uma maior resistência a períodos secos, devido à exploração mais profunda das raízes, aumentar a área de nutrientes disponível para a planta e, consequentemente, aumentar a produtividade.

Começamos com uma análise de solo bem representativa da área, feita em duas camadas, de 0 a 25 e de 25 a 50 centimetros de profundidade, com o objetivo de “construirmos” uma área de exploração radicular de 50 cm, totalmente corrigida e apta para a planta.

De posse dos resultados, corrigimos esse solo através de calagem, gessagem e fosfatagem, de acordo com as necessidades. Esses produtos são homogeneizados através de gradagem e incorporados em profundidade através de aração. Sabemos que tanto o fósforo como o calcário possuem baixa locomoção no perfil do solo e, portanto, se quisermos uma correção em profundidade, teremos que os colocar lá.

Cabe aqui ressaltar um benefício muito importante e paralelo, que é a profundidade de sulco. Se tivermos um solo corrigido a 50 cm e que permite um bom desenvolvimento radicular, não precisamos sulcar fundo, 15 a 20 cm bastam, pois as raízes irão buscar os nutrientes e a água em profundidade, formando uma soqueira forte e mais resistente aos abalos mecânicos das colhedeiras; com isso, teremos um gasto menor de potência de trator para sulcar e, consequentemente, para quebrar o lombo e nivelar o terreno.

Após a correção do solo, passamos uma plaina, com o objetivo de nivelar esse solo, corrigindo pequenas saliências e depressões. O resultado é fantástico, pois possibilita um grande benefício em futuras operações, como sulcação (uniformidade de plantio), aplicação e ação de herbicidas, quebra de lombo, colheita mecanizada, longevidade da soqueira etc.

Em seguida, subsolamos para quebrar qualquer camada compactada existente no solo e que possa impedir uma boa drenagem e aeração. Para finalizar, gradagem niveladora para plantio de cereais, como soja, amendoim, milho etc.

Após a colheita dos cereais, é só plantar a cana e colher os frutos desse investimento, que serão altamente compensadores, tanto em produtividade quanto em longevidade do canavial e, consequentemente, financeiros. Tirem as suas conclusões e façam o melhor, só não abdiquem do conhecimento técnico. Para tudo existe uma explicação técnica que nos direciona para um melhor caminho. A cana aguenta desaforos, mas ela lhe agradece e retribui generosamente tudo o que você der em troca.