Diretor de Relações Institucionais da ETH BioEnergia - Grupo Odebrecht
Op-AA-17
Uma revolução inacabada está em curso. Irreverente, insistente e atraente, assim é a biotecnologia, o ponto de encontro entre diversos personagens que conversam de modo inovador sobre variados temas. O Brasil faz biotecnologia com qualidade e tradição. Por suas características físicas e geográficas, o país apresenta condições ímpares de desenvolvimento sustentado na agroindústria, na exploração da biodiversidade e geração de biomassa. Com a produção de cana-de-açúcar não seria diferente.
Não há como imaginar a competitividade do etanol brasileiro, sem associá-la com a biotecnologia que desenvolvemos. Nos últimos anos, foi ela a responsável por impulsionar o agronegócio. Dos campos experimentais e dos laboratórios de pesquisas dos grandes centros tecnológicos, saíram as bases para tornar o etanol de cana o biocombustível mais competitivo no mundo.
O Brasil tem sido o grande laboratório mundial para uso de etanol como combustível. O país assegura uma base científica para trabalhar geneticamente com as variedades da cana. Investe recursos públicos e privados na expansão da produção, observa a aceleração da demanda por veículos leves, dotados como motores flexíveis, entrega etanol nos mais remotos portos do globo, sustenta uma política agrícola livre de subsídios, como reconhece a Organização Mundial do Comércio, e procura maximizar o aproveitamento energético das sobras da cana.
A competitividade brasileira está baseada na melhoria e ampliação de variedades da cana e no sistema de produção simultânea, tanto do açúcar, quanto do etanol. As vantagens foram obtidas com base em condições geográficas, ambientais e espaciais muito particulares, mas exigiram pesquisa e tecnologia, para levar o país à posição que ocupa no mercado internacional.
Usamos apenas um terço do poder energético da cana - o caldo, para produzir açúcar e etanol. A biomassa, formada pelo bagaço e pontas da cana que compõem os outros dois terços, é utilizada para gerar energia elétrica. A expectativa é utilizá-la, também, no médio prazo, para produzir etanol celulósico e derivados da alcoolquímica.
Novas tecnologias, ainda não competitivas comercialmente, permitirão a fabricação de etanol com baixo custo, a partir da celulose. Quando a pesquisa obtiver sucesso, o país terá condições de multiplicar a utilização de energia da cana e de dar um enorme salto em relação ao mundo. Como uma resposta às necessidades ou apenas por conta da curiosidade humana, a biotecnologia tende a se tornar uma rotina.
Ainda no início dos anos 80, o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, criou a primeira variedade comercial de cana cultivada em larga escala para abastecer o Proálcool. Este ano, o CTC trabalha na produção em laboratório de quantidades de álcool de celulose, com a expectativa de pôr em operação uma usina piloto de etanol de celulose até 2010.
Da mesma forma, pesquisadores da Embrapa estão empenhados em aumentar a produtividade dos canaviais e expandir o seu cultivo em novas fronteiras agrícolas, como o Centro-Oeste. Outras empresas, como a CanaVialis, que desenvolve variedades de cana, a Allelyx, dedicada à biotecnologia, e a Biocell, criada para estudar formas de produzir etanol celulósico, concentram-se na transformação biológica da celulose da cana em açúcar, com a utilização de enzimas.
A Dedini, fabricante de equipamentos para a indústria canavieira, tem um projeto para usar ácidos, em vez de enzimas, na transformação de bagaço em etanol. Com o emprego de tecnologia, o setor sucroalcooleiro aumenta continuamente a produtividade nas lavouras. Além do melhoramento genético tradicional, alguns laboratórios estão investindo no desenvolvimento de canas transgênicas, algumas resistentes à seca e a vários tipos de pragas, como vermes nematóides, broca de cana e broca gigante.
A equação é simples: quanto mais cana, mais açúcar, mais celulose, mais etanol e mais energia. O objetivo é reduzir o uso de pesticidas e permitir a ocupação em terras menos férteis, beneficiando, assim, a produção de etanol. Atualmente, somente com o melhoramento tradicional de variedades é possível aumentar em 30% a produtividade agrícola da cana. Este é um dos fatores que tornam o etanol brasileiro competitivo no mercado de combustíveis.
É por isso que a ETH Bioenergia acredita e investe nessas inovações tecnológicas, pesquisa e implementação das melhores práticas sustentáveis para o cultivo, colheita de cana e produção de açúcar, álcool e cogeração de energia. Somos parceiros de empresas nacionais e internacionais de biotecnologia, que desenvolvem estudos para a produção de etanol, feito a partir da fermentação do bagaço da cana (celulose), conhecida como segunda geração, e também do seu processo de gaseificação, terceira geração.
Participamos também do desenvolvimento de pesquisas de melhoramento genético da cana-de-açúcar, que se adapte melhor aos mais variados tipos de clima e solo. Ainda é cedo para dizer se venceremos a corrida do etanol de amanhã. Os resultados comerciais das pesquisas com etanol de celulose vão aparecer nos próximos cinco a dez anos.
Estamos no começo e é fundamental que o país invista. É tecnologia brasileira que não pode ser desperdiçada. Não podemos ficar de fora do vagão da biotecnologia. Somente assim garantiremos uma fatia significativa do mercado de biocombustíveis e consolidaremos nossa capacidade de ditar as regras do jogo. Já saímos na frente com a vantagem de, hoje, conhecermos a cana melhor do que ninguém.