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Arnaldo José Raizer

Coordenador de P&D de Variedades do CTC

Op-AA-24

O CTC e o melhoramento genético

O CTC, Centro de Tecnologia Canavieira, comemorou, recentemente, 40 anos do seu programa de melhoramento genético, que nasceu da visão empresarial em instituir um centro de desenvolvimento tecnológico da cana--de-açúcar. Em todos esses anos, os investimentos foram revertidos em variedades mais produtivas, mais adaptadas e resistentes, devido ao pioneirismo, à determinação e ao trabalho de inúmeros melhoristas.

O passo inicial foi dado por cientistas de diversos países em cooperação com pesquisadores do Brasil: instituir o germoplasma para as futuras hibridações. Os primeiros “genitores” das futuras variedades SP e CTC foram plantados em 1969, em Camamu, Bahia, compostos por espécies ancestrais da cana-de-açúcar e por variedades estrangeiras. Com o passar do tempo, foram feitas novas introduções e a formação de genótipos adaptados ao ambiente canavieiro nacional.

O CTC mantém um completo banco de germoplasma, atualmente com 6.000 genótipos, considerado o maior e mais diversificado do mundo, representando reserva genética de importância mundial para a cultura da cana-de-açúcar. Frutos das primeiras liberações comerciais, já na década de 80, os cultivares nacionais passam a ocupar cada vez mais as áreas canavieiras.

Porém novos desafios são impostos ao setor, e os pesquisadores são chamados a responder com variedades ainda melhores. Alguns marcos nas áreas agrícola e industrial foram: o pagamento pelo teor de sacarose; o alto índice de florescimento nas variedades cultivadas; a ocorrência de importantes doenças, como o carvão, a ferrugem marrom e o amarelinho; o aumento da incidência da broca, das cigarrinhas e do bicudo da cana, entre outros.

Na década de 90, surge a biotecnologia e suas ferramentas de melhoria, com base no genoma da cana-de-açúcar. As mudanças econômicas e a desregulamentação do setor canavieiro exigem maiores produtividades e menores custos de produção, ou seja, maior eficiência agrícola e industrial é esperada da fábrica de energia no campo, as variedades de cana-de-açúcar.

Nos últimos 10 anos, iniciou-se a expansão para áreas mais restritas, com solos mais pobres e em regiões mais secas; a moagem se estendeu e já inicia em março; o plantio é realizado praticamente durante o ano todo; surgem novas pragas e doenças. Novas técnicas agronômicas, novos insumos, o uso da irrigação, de adubos e resíduos são avaliados economicamente.

A mecanização, do plantio à colheita, e o sistema de cana crua mudam o perfil varietal; as plantas devem ser mais uniformes, eretas e ricas, brotar bem e rápido; as soqueiras devem produzir suportando o tráfego de máquinas. As fábricas demandam mais geração de energia, excedentes de biomassa da matéria-prima são transformados em energia renovável. As variedades de cana-de-açúcar, base da cadeia produtiva, devem responder bem a esses novos ambientes de produção.

Novamente a pesquisa tem um papel fundamental: programas de melhoramento genético, novas práticas agrícolas e novos modais de corte, de carregamento, de transporte e, até, de processos industriais. Se, no passado, a pesquisa brasileira gerou a tecnologia que deu suporte ao crescimento do setor, hoje, geram-se tecnologias que procuram solucionar desafios detectados na prática agroindustrial, para a produção de alimentos e energia de modo sustentável. Novas hibridações e genitores mais específicos, novos critérios de seleção e linhas de pesquisa são desenvolvidas no CTC.

Busca-se precocidade, tolerância à seca, rusticidade, aumento da biomassa, produção de energia, ampliação da base genética, avaliação de organismos transgênicos e uso de marcadores moleculares. Já sob a nova forma de atuação, o CTC desenvolveu 20 novas variedades de cana-de-açúcar, com as denominações de CTC1 a CTC20. Essas novas variedades representam o que há de mais avançado no desenvolvimento varietal e tem ocupado espaço crescente nas unidades associadas.

Nas últimas cinco safras, as áreas de plantio dobraram a cada ano; em 2010, estimamos que 28% do plantio será com variedades CTC. Nossa expectativa é de que, nos próximos anos, essas variedades sejam cultivadas em 40% de toda a área agrícola brasileira, mantendo os ganhos atuais de 3% em produtividade ao ano. Inicialmente, focado no estado de São Paulo, nos últimos sete anos, o CTC promoveu uma forte descentralização de seu programa de melhoramento, com a criação de 13 polos regionais, chegando à configuração de um polo por associada.

Com uma rede experimental representativa, poderoso banco de dados, a experiência de seus melhoristas e a participação das equipes técnicas das associadas, produzimos um portfólio genético variado e rentável. Equipes de pesquisa e transferência de tecnologia atuando em conjunto disponibilizam variedades mais adaptadas.

Projetos para produção de mudas e ferramentas de planejamento e recomendação varietal indicam a melhor variedade de cana-de--açúcar, para cada associada e para cada ambiente de produção, e minimizam as perdas decorrentes de plantios incorretos. Nos próximos anos, as variedades CTC serão cada vez mais específicas para cada empreendimento agrícola, com o objetivo de tirar o máximo desempenho da combinação planta, solo, clima, manejo agrícola e eficiência industrial.