O cenário produtivo de cana-de-açúcar está constantemente em evolução, e a verticalização da produtividade é o foco dos produtores da cultura. Observamos que a agricultura simples aliada a potentes ferramentas tecnológicas contribuíram para a melhora significativa da produtividade nos últimos anos. Não menos importante, é o contato diário do técnico com a lavoura, uma vez que ele é ainda a maior fonte de informação para a melhor tomada de decisão e/ou ajuste de manejo nesse complexo sistema de produção.
O preparo de solo e suas correções nutricionais, a rotação de cultura, a seleção e a alocação adequada da variedade de acordo com o ambiente de produção, a implantação da lavoura através de um excelente plantio, as estratégias ajustadas no manejo de plantas daninhas e os controles de pragas e doenças geram grande consumo de energia das equipes de planejamento e de execução das diversas atividades relacionadas ao cultivo de cana-de-açúcar.
Boas práticas visando à ação de manejo a cada estágio de desenvolvimento da cultura tornaram-se comuns por meio de novos estudos de excelentes fisiologistas presentes nas instituições de ensino. Com todos esses fatores citados e executados com sucesso e muito capricho, há ainda o fator clima sendo protagonista dessa história, principalmente nos últimos anos, que nos fez estudar para desenvolver a busca de novas alternativas.
O Centro-Sul do Brasil é considerado um grande polo produtor de açúcar, etanol e energia, iniciando a colheita de cana-de-açúcar ocasionalmente entre os meses de março e abril e estendendo-se até meados de dezembro, de forma a garantir o máximo aproveitamento da janela climática. Pensando em qualidade de matéria-prima e operacionalização da mecanização, os meses de início e final de colheita ocasionam desconforto devido às condições de umidade do solo.
Já nos meses do meio de safra, dispomos de condições perfeitas para execução da colheita e de maiores concentrações de açúcares, entretanto enfrentamos condições de intenso estresse hídrico. Assim, os dois principais desafios para otimização de uma safra de cana-de-açúcar são:
1. Iniciar e finalizar com uma matéria-prima contendo indicadores de açúcares (TPH) interessantes, o que é possível principalmente com o uso de maturadores químicos e/ou nutricionais nas janelas de meses com umidade no solo.
2. Atravessar o período de estiagem, com manutenção da produtividade (TCH), sendo este o principal e mais desafiador, que nos instiga a criar estratégias para mitigação dessa perda, que pode ser de até 20% (mesmo corte colhido em abril versus setembro) em anos de estresses hídricos mais expressivos.
Dessa maneira, visando amenizar esses problemas, as pesquisas e os estudos contínuos da fisiologia e da morfologia da planta estão demonstrando um caminho bastante promissor, pois condições ambientais desfavoráveis permitem que a planta altere seu metabolismo, reduzindo perdas e se preparando para passar esse período estressante (seca definida de maio a setembro), no qual o solo terá condição limitada de água armazenada.
Nesse contexto, o conceito pré-seca, staygreen ou folha mais verde, destaca-se como uma importante ferramenta para minimizar a redução de produtividade, onde as principais aplicações são à base de potássio, fósforo, magnésio e aminoácidos, realizadas próximas da última chuva de outono – historicamente, na segunda quinzena do mês de maio em nossa região.
Morfologicamente, nessa época, como mecanismo de defesa, a planta fecha os estômatos para minimizar a sua perda de água e as trocas gasosas com o ambiente, reduzindo o consumo energético, sendo esta uma das principais formas de manter as células hidratadas por um maior período e, consequentemente, um equilíbrio metabólico para manter as demandas de que precisa para passar a condição em que ela se encontra, mesmo que esse metabolismo não esteja no auge.
Automaticamente, a planta tem um gasto energético mínimo e busca aprofundar o sistema radicular à procura de melhores condições de umidade para se manter ativa, com espessamento da parede celular e enrolamento de folhas e ferramentas morfológicas para retenção de líquidos.
Nos aspectos fisiológicos, há toda uma síntese, tanto de aminoácidos, açúcares, entre outros. Toda vez que citamos as condições de estresse, a prolina e o glutamato são aminoácidos importantíssimos para esse período, facilmente encontrados em fontes de aminoácidos disponíveis no mercado.
Além de toda a atividade antioxidante de enzima oxidante, estão a superóxido dismutase, a catalase e a peroxidase, que são enzimas que a planta sintetiza para amenizar o efeito de radicais livres, que acaba sendo tóxico para o desenvolvimento. Quando ela entra nesse período de estresse, naturalmente e até em uma tentativa de sobreviver, começam a ser sintetizados radicais livres, e, automaticamente, a planta precisa produzir enzimas que os degradam, daí a importância de entrar com estímulos, principalmente dos aminoácidos, que são precursores de boa parte dessas enzimas antioxidantes. Essa é a razão de a formulação conter aminoácidos em sua composição, nesse manejo de manutenção das folhas verdes.
O manejo deve fornecer os elementos necessários que participam de forma muito direta de todos esses processos fisiológicos, subsidiando, como se fosse uma matéria-prima, para que a planta tenha condições de trabalhar esses nutrientes e, assim, desenvolva todas suas atividades enzimáticas.
Ainda, destacamos a função de alguns importantes elementos nesse conceito “folha verde”, como o fósforo (P), que atua no transporte de energia ATP. Com as condições hídricas inadequadas, esse transporte passa a ser limitado, provocando uma desarmonia hormonal, reduzindo a concentração de oxina na planta, de forma que se sobressaiam outros hormônios, principalmente o ácido abscísico, que sinaliza para a planta que os estômatos devem permanecer fechados.
Outro importante elemento que podemos destacar é o potássio (K): além de ser responsável pelo transporte de carboidrato na planta, está ligado diretamente à atividade estomática dela, interferindo na taxa fotossintética. Entretanto, isso ocorre naturalmente em qualquer espécie vegetal, portanto a proposta é desenvolver na cana-de-açúcar, onde o potássio tem o objetivo de manter túrgidas as células-guarda nos estômatos, locais em que ocorrem todas as trocas gasosas para manter a turgidez dessas células-guarda e manter os estômatos abertos.
E há, ainda, o magnésio (Mg), componente da clorofila, molécula imprescindível para realizar a fotossíntese, estimulando a planta com um elemento que compõe a molécula, participando diretamente em uma maior taxa fotossintética, principalmente para as folhas mais jovens e que tendem a permanecer mais ativas.
Aminoácidos, sinais metabólicos, atividade fisiológica, sínteses hormonais e até mesmo atividade enzimática que passa a ser alta, principalmente as enzimas, possuem um papel de processo de desintoxicação ou antioxidação na planta para fornecer condições para essas células terem uma planta viva nesse período.
Em suma, a normalidade climática da safra, por si só, nos traz muitos obstáculos para garantir a produtividade, a longevidade e a lucratividade do canavial, e, quando se somam a isso as frequentes incertezas climáticas, nosso papel como profissional do campo é ainda mais desafiador. Por isso, o constante aprendizado via experiências diversas e a implantação de novas estratégias em nosso dia a dia, em conjunto com o famoso “arroz com feijão”, são ferramentas infalíveis no aprimoramento e na inovação da tão tecnificada cana-de-açúcar.