A inovação incremental tem sido a forma predominante de redução de custos ou melhoria de produtos, processos e serviços existentes. A razão de sua popularidade é em função de seu baixo risco e de baixa necessidade de recursos quando comparada à inovação radical (tecnologias que quebram paradigmas) e disruptiva (inovações transformacionais).
O crescimento do setor sucroenergético brasileiro não decorre apenas de vantagens naturais, como localização geográfica, solo, clima e temperatura, mas sim como resultado de esforços cumulativos e da curva de aprendizado que se estendeu em toda a cadeia de valor. Nesse contexto, a inovação incremental teve, e continua tendo, papel fundamental no setor sucroenergético. A inovação incremental também faz parte da estratégia de inovação de grandes corporações que, apesar de reconhecidas pela sua trajetória de desenvolvimento de soluções radicalmente inovadoras, vêm se mostrando cada vez mais adeptas à inovação incremental, evidenciando que há muito espaço para pequenas melhorias com grande possibilidade de retorno (não é difícil notar que as novas gerações de celulares Apple não apresentam inovações radicais em sua tecnologia).
Apesar disso, é evidente que os principais executivos nas empresas buscam tecnologias radicais e disruptivas que, além de inspirarem e motivarem seu pessoal, posicionam sua empresa como líder isolada no mercado, pelo menos durante o tempo necessário para que os concorrentes possam alcançá-los. Convencer que a inovação incremental é tão importante quanto a inovação radical é particularmente difícil em alguns casos, porém se trata de um processo contínuo de melhoria e otimização de produtos, processos e serviços que mantém a organização em condições favoráveis para financiar o desenvolvimento de tecnologias revolucionárias.
Pequenas melhorias podem resultar em grandes mudanças ao longo do tempo e representam um aprendizado contínuo para a empresa e seus colaboradores. Mudanças incrementais são fundamentais para um crescimento organizacional de baixo risco, porém o balanceamento entre iniciativas incrementais, radicais e transformacionais (disruptivas) é fundamental para o crescimento e a sustentabilidade do negócio no curto e no longo prazo, principalmente para aqueles que buscam navegar em oceanos azuis (referência ao livro A estratégia do oceano azul, escrito por W. Chan Kim e Reneé Mauborgne).
Um dos principais direcionadores do processo inovador no setor sucroenergético está relacionado ao ambiente externo, ou seja, o atual cenário político e econômico, criando um senso de urgência em torno de ações para melhoria da produtividade e redução de custos operacionais. Nesse contexto, inovações incrementais têm prioridade em relação às radicais e disruptivas, cujo menor risco e maior rapidez na quantificação dos resultados permitem fôlego extra, enquanto perdurar este cenário de incerteza e instabilidade. Conforme palavras do professor Peter F. Drucker, “a empresa que não inova inevitavelmente fica obsoleta e declina.
E, num período dinâmico como o atual, o declínio será rápido”. Apesar de grandes oportunidades de redução de custo e melhorias incrementais, tanto na área agrícola quanto na industrial, o processo de inovação em um setor tão complexo como o sucroenergético é um desafio à parte. Entender as múltiplas dimensões do processo de inovação certamente ajudará a superar esse desafio. Uma das dimensões do processo de inovação diz respeito à origem, podendo ser top-down (de cima para baixo) ou bottom-up (de baixo para cima).
A inovação top-down é desenhada pela alta administração, está alinhada à estratégia organizacional e traduz-se numa série de planos de ação que, também de forma top-down, são repassados às equipes gerenciais até chegar no operacional. Já a inovação bottom-up tem início nas equipes operacionais, e os resultados alcançados criam ainda mais valor à estratégia organizacional. São ideias simples, pequenas modificações, ou mesmo grandes sacadas de “como fazer melhor o que já estamos fazendo”, que podem fazer a diferença no contexto global.
A inovação bottom-up tem, na área agrícola, um grande potencial de criar valor, principalmente devido à sua representatividade do custo total de produção de açúcar e etanol, às extensas áreas cultivadas, à grande quantidade de máquinas, à intensidade de operações e aos processos agrícolas, que se estendem por praticamente o ano todo. Esperar que a inovação bottom-up, tanto na área agrícola como industrial, aconteça de forma espontânea certamente terá resultados decepcionantes, necessitando que a empresa crie ambiente e condições que promovam e potencializem o processo de geração e comunicação das ideias e soluções.
Enquanto na inovação top-down um bom gerenciamento de projetos e um eficaz sistema de gestão de indicadores de desempenho podem ser suficientes, a inovação bottom up precisa focar outros aspectos, principalmente relacionado ao indivíduo, quanto a forma que ele enxerga seu trabalho e à compreensão que possui sobre como seu esforço contribui para o todo. Estudos recentes mostram que a percepção de um ambiente dinâmico e aberto ao diálogo, com boa comunicação entre níveis horizontais e verticais, além da maior conectividade nas relações internas, potencializa o processo de geração de ideais bottom-up.
Por outro lado, pressão top-down para que os colaboradores inovem em seu dia a dia definitivamente não é o melhor caminho. É preciso criar um ambiente favorável, transparente e motivador a fim de alavancar a contribuição espontânea e efetiva das equipes operacionais. Conclui-se que manter e potencializar inovação incremental é uma excelente aposta para o setor sucroenergético, considerando o atual cenário político e econômico. As inciativas devem ser prioritariamente direcionadas à redução de custos e à melhoria dos processos, exigindo das corporações um ambiente favorável, motivador e estruturado para que as ideias, as atitudes e as grandes sacadas surjam e, cumulativamente, possam criar significativo valor para o negócio.