“A energia disponível é o principal objeto em jogo na luta pela existência e evolução do mundo”, afirmou a físico austríaco Ludwig Boltzmann (1844-1906), conhecido pelo seu trabalho no campo da termodinâmica estatística. Energia que, no contexto pós-pandemia, caracterizado por uma transição para uma economia de baixo carbono, dependerá cada vez mais da tecnologia e da inovação para torná-la acessível a uma sociedade que quer avançar dentro das práticas de ESG. O setor sucroenergético brasileiro, muito bem posicionado nesse caminho, continuará oferecendo importantes contribuições para pavimentar um futuro melhor, baseado em energia limpa e renovável para nossa alimentação, locomoção e plena utilização da eletricidade.
O etanol representa um exemplo poderoso nessa trajetória, inclusive proporcionando sobrevida aos combustíveis fósseis em diferentes misturas, a exemplo das atuais mudanças na Índia, fazendo parte dos veículos híbridos. Em menos tempo do que imaginamos, as células de hidrogênio poderão ser uma realidade, reformadas nos tanques dos veículos elétricos abastecidos com etanol, minimizando a necessidade de investimentos adicionais em distribuição do combustível. Um processo 100% limpo e renovável, considerando o ciclo de vida do combustível – do poço à roda – ou seja, que leva em conta o CO2 emitido na sua produção, distribuição, uso no veículo e o que sai pelo escapamento, maneira mais justa de medir a real pegada de carbono.
Não é preciso dizer que essa transição acontecerá com desenvolvimento e aplicação de tecnologia e inovação de ponta, algo que o setor sucroenergético vive intensamente no seu cotidiano desde o Proálcool nos anos 1970. A Adecoagro já surgiu na agroindústria canavieira com a cultura voltada para a máxima eficiência em seus processos e com foco em baixo custo de produção. Com uma unidade em MG e outras duas formando um cluster no MS, a companhia possui, hoje, capacidade de processar 13,7 milhões de toneladas de cana por ano com um modelo de safra contínua, novidade no segmento.
Conquistamos resultados que nos colocam no topo do ranking em itens como cogeração de energia elétrica através do bagaço da cana (75kw/t de cana) e no baixo consumo de vapor (350kg/t de cana processada), números decorrentes de investimentos feitos em limpeza a seco, acionamento elétrico de moendas, caldeiras de alta pressão e de leito fluidizado, condensador evaporativo, turbinas de condensação etc.
Acredito que a melhor forma de colaborar com a discussão sobre tecnologia e inovação é trazer um pouco da experiência que construímos na Adecoagro em distintas áreas do processo e o que desenhamos para o futuro. No campo, em cerca de 180 mil ha de canaviais próprios, apostamos na agricultura 4.0 desde a formação da lavoura, passando pelos tratos culturais, colheita e transporte até a indústria.
Destacamos a utilização de recursos como imagens de satélite para prospecções, avaliações de aspectos nutricionais e de sanidade da lavoura, monitoramento e previsibilidade de incêndios e geadas. Com os drones, ficamos de olho nas plantas daninhas e nas falhas, mapeamos áreas e liberamos agentes biológicos para o controle de pragas. A recente implantação do 4G em parceria com a TIM vem revolucionando nossa comunicação e transmissão de dados, permitindo monitoramento on-line de atividades no campo e possibilitando a melhor tomada de decisões.
A maior conectividade traz mais eficiência e a redução dos gargalos. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) mantém a infestação abaixo do nível de dano econômico da cultura, de forma sustentável, racionalizando o uso de defensivos agrícolas e combatendo as principais pragas da cana-de-açúcar: broca, cigarrinha e nematoides. Já nossa biofábrica de MPB, com capacidade de produção anual de 25 milhões de mudas, verticalizou a lavoura, aumentando a produtividade por hectare através da formação de viveiros sadios.
Também agilizou a renovação do plantel varietal, reduzindo o consumo de mudas oriundas de colmos convencionais, disponibilizando, assim, mais cana para moagem. Na área industrial, a tecnologia tem transformado o modo de trabalho. Cada vez mais, os colaboradores deixam de realizar tarefas manuais para executar aquelas que exigem raciocínio. Com a automação cada vez maior das plantas, eles têm acesso a informações dos processos e das condições das máquinas, em tempo real e com muita precisão.
O foco de cada um está voltado para a eficiência e a produtividade dos processos. Podemos citar nossos cozedores contínuos, que funcionam 100% automatizados; a intensificação do monitoramento on-line de variáveis de manutenção das máquinas, como vibração e temperatura; a robotização do processo de chapisco e a implantação de alguns sistemas de inteligência artificial para controle de processos em malha fechada, em linha com a Revolução Industrial 4.0.
Fazemos nosso dever de casa, mas com visão de futuro, antecipando a transição energética. A Adecoagro está investindo em um projeto de biometano e hidrogênio verde, fruto de uma década de pesquisa no potencial da vinhaça da cana para produção de biogás em parceria com a empresa Methanum. A iniciativa possui três fases e entra, neste segundo semestre, em um momento decisivo.
A primeira etapa, iniciada em 2019, é a de produção de biogás através da vinhaça concentrada, utilizando um aquecedor que troca calor com a água da turbina de condensação. Consumimos menos vapor para essa operação, que resulta numa exportação de energia adicional de 6 mil MWh/ano. Em 2021, firmamos também um acordo com a GEF Biogás Brasil, liderado pelo MCTI e implementado pela UNIDO, órgão que faz parte da ONU, com foco em iniciativas relacionadas à produção de biogás.
A segunda fase tem sua data para começar em setembro, através de uma aliança com a Galileo Technologies, empresa com atuação mundial. Nessa etapa, a Adecoagro, utilizando apenas 5% de sua vinhaça, transformará biogás em biometano concentrado para abastecer 13 veículos leves e de transporte de cana. Se utilizarmos 100% da vinhaça para produção de biometano, poderíamos substituir 100% do diesel consumido nas operações (50 mi L/ano).
Algo, hoje, ao alcance de nossas pretensões, o que aumentaria substancialmente a nota no RenovaBio, – o consumo do combustível fóssil é o item que mais impacta essa avaliação e nos daria autossuficiência no transporte usando apenas combustível renovável. Aqui, vale registrar que os fabricantes de maquinários agrícolas também correm para oferecer ao mercado máquinas que operem satisfatoriamente movidas a combustíveis renováveis.
E, por fim, numa terceira fase, Galileo e Adecoagro, no âmbito do acordo de cooperação tecnológica, estudam a construção de uma planta de produção de hidrogênio verde, um passo importante para viabilizar a eletrificação de veículos no Brasil de maneira 100% renovável e viável economicamente. Termino este artigo realçando que todo o investimento da Adecoagro se dá através de pessoas, ou seja, colaboradores e equipes comprometidos e engajados e que se utilizam também da tecnologia e inovação para se capacitarem. Todos em busca, na vertente antecipada por Ludwig Boltzmann, em disponibilizar a energia que garante nossa existência e evolução.