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Marlene de Fátima Oliveira

Gerente Industrial da Usina Monte Alegre-PB

Op-AA-53

Uma visão ampla para a área industrial
Fazer uma análise do setor sucroenergético somente sob a visão industrial, não é tão simples quanto pode parecer, tendo em vista as fortes adversidades que também acometeram, ao longo dos últimos anos, as áreas financeira e agrícola, tanto quanto a industrial. Para começar essa avaliação, é necessária uma pequena síntese de outros aspectos, como a falta de uma política governamental, a  redução de custos, o treinamento do pessoal, as adversidades climáticas e novos investimentos, dentre outros.
 
A região Nordeste, particularmente, tem vivenciado nos últimos 5 anos um severo déficit hídrico, que provocou uma preocupante queda da produtividade agrícola e, consequentemente, no aumento de custos com irrigação. Na realidade, as unidades industriais que conseguiram atravessar esse período, foram as que partiram na frente, enxergando a irrigação não somente como um recurso necessário para elevação de ganhos de produtividade, mas como um seguro para garantia do brotamento da socaria. Nós, da Usina Monte Alegre, já atingimos mais de 80% da área de cana própria com as mais diversas modalidades de irrigação, com pivôs rebocáveis, lineares e gotejamento.
 
O mercado do açúcar, do etanol e da energia, possui uma série de características que tornam a gestão do negócio um desafio permanente. Especificamente no caso do etanol, existe uma falta de política governamental sobre o espaço que esse combustível limpo deveria ter na matriz energética brasileira. O governo libera a importação de etanol de milho dos Estados Unidos sem qualquer tributação e sem exigências das regras de estocagem que são impostas aos produtores nacionais. O produto importado goza de subsídios no seu País de origem e vem competir com produtores nacionais, que geram emprego e renda, em condições totalmente adversas.
 
Por justiça, faz-se necessário impor uma tarifa de importação de pelo menos 20%, bem como que os importadores cumpram as mesmas regras de estocagem do produtor nacional. A região Nordeste tem sido a mais impactada por essa situação, assistindo passivamente a um aumento de mais de 400% nas importações de etanol de milho dos Estados Unidos. 
 
No caso do açúcar, a proteção tarifária que é feita por grandes países consumidores, restringe a ampliação de novos mercados, sendo o Brasil o maior produtor mundial da commodity. O setor também enfrentou, ao longo dos últimos anos, uma escassez expressiva nas fontes de financiamento bancário, devido ao elevado índice de alavancagem do segmento. A taxa Selic vem sendo reduzida nos últimos meses, porém na ponta tomadora, o custo de captação ainda encontra-se em níveis bastante elevados, inviabilizando a implantação de qualquer projeto.
 
Na área agrícola, as adversidades têm sido grandes. Os investimentos em barragens, canais e equipamentos para irrigação foram muitos. Outros vários investimentos tiveram que ser feitos também no campo como manejo varietal, ampliação de áreas irrigadas, aumento das áreas de plantio de cana com novas tecnologias e investimentos na frota. Para atender a esse crescimento da área agrícola, se fez necessário ampliar a geração de energia para atender a demanda e disponibilizar essa energia para o campo. Nos últimos dez anos, a Usina Monte Alegre ampliou a sua moagem horária em quase 2 vezes para que fosse possível gerar bagaço e, consequentemente, a energia, para atender a demanda da área irrigada e, com isso, ampliar a produção de cana.
 
Moendo um pouco menos que um milhão de toneladas de cana por safra, foi necessário manter os pés firmes no chão. Os investimentos foram acontecendo paulatinamente, buscando o retorno quase que imediato, sempre de curto prazo, de forma a serem pagos, no máximo, ao longo de duas safras, buscando não comprometer o equilíbrio financeiro da empresa.
 
As usinas, de uma maneira geral, independentes do seu porte, precisam ser  alavancadas e tratar no seu dia a dia um item de fundamental importância que é a administração dos custos, como garantia de sobrevivência. A redução desse item tem preocupado todos os envolvidos nos setores dentro das empresas, juntamente com os fornecedores de tecnologias e de equipamentos, executando as modernizações constantemente, através da aquisição dos novos equipamentos que vão surgindo no mercado e da possibilidade de melhorias e redução das perdas, buscando as inovações tecnológicas dos processos garantindo, dessa forma, um equilíbrio operacional.
 
Após a análise desse cenário, percebeu-se a necessidade de que a Usina Monte Alegre deveria, para manter-se sob boas condições no mercado, fazer investimentos procurando aumentar sua moagem horária para atender a safra agrícola que já estava em crescimento anual contínuo, buscando manter o mesmo período de moagem ou até reduzindo os seus dias de safra, visando a uma redução nos custos operacional. Com o apoio de consultores, ao longo dos anos, seus investimentos foram sendo moldados, de forma que o retorno se desse na mesma safra. Esses investimentos centraram a operação de moagem, a casa de força, as caldeiras, os processos de produção de açúcar e etanol culminando com a exportação de energia.
 
As caldeiras foram ampliadas e aprimoradas, para gerar vapor com maior eficiência, consumindo menos bagaço, aumentando a temperatura do vapor superaquecido, adquirindo sopradores de fuligem retrátil, melhorando a temperatura da água de alimentação, otimizando a queima do bagaço, etc. Consequentemente gerando mais energia, que era o ponto fundamental para o crescimento da usina.

Também foram feitos investimentos com camisas de alta drenagem, possibilitando um aumento horário da moagem de cana e garantindo um bagaço com menor teor de umidade para alimentação das caldeiras. Na casa de força, foram adquiridas turbinas em múltiplos estágios, deixando a fábrica totalmente eletrificada e autossuficiente na geração de energia para consumo próprio, irrigação e exportação.
 
A redução do consumo de vapor para o processo é um desafio constante e reduzir essa variável de vapor/tonelada de cana, tem sido uma busca incansável de todos que trabalham na área industrial. 
 
Importante também ressaltar a importância da gestão humana. Ela vem avançando de forma expressiva dentro do setor sucroenergético mostrando que somos capazes de fomentar o desenvolvimento profissional de nossos funcionários. Temos uma mão de obra carente de conhecimento e, principalmente, de educação formal. No caso do Nordeste, essas carências são maiores devido à falta de oportunidades para estudar. Percebe-se que ainda há um caminho árduo a ser percorrido a fim de proporcionar à classe trabalhadora a formação e capacitação profissional. 
 
Na Usina Monte Alegre a gestão de pessoas tem crescido continuadamente com integrações, reuniões e apoios para estudo, contribuindo para a formação profissional dos profissionais e na construção de uma gestão participativa, baseada nos princípios da ética, respeito e valorização das pessoas, com um empenho contínuo para que tenhamos uma sociedade realmente mais justa e com melhores índices de qualidade de vida.