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Luís Roberto Pogetti

Presidente do Conselho da Copersucar

Op-AA-30

Nós vamos ter que pedir para parar de se investir

Nos últimos meses  – e com frequência cada vez maior –, temos visto manchetes, nos jornais, muito ruins sobre o setor sucroenergético. Acho que se está olhando para a parte vazia do copo. Ocorre que, nesse caso, a parte cheia é muito maior. Minha intenção é fazer um exercício olhando para uma agenda positiva do setor, que, por ser simples, merece ser mais bem detalhada: basta valorizar o que nós já fizemos, que é muito maior do que aquilo que se tem por fazer. Basta olhar para a parte cheia do copo.

Um premissa importante é que o produtor de nosso setor tem uma vocação para crescimento. Até 2008, tínhamos como história comum primeiro investir e depois procurar o mercado, e, não raras vezes, investiu-se até demais, trazendo consequências para os preços dos produtos, devido à produção excedente.

Gostamos de investir, queremos investir sempre. Prova disso é que, em cinco anos, dobramos a produção e investimos US$ 50 bilhões nesse movimento. Ora, quem não quer, não gosta ou tem medo de empreender não investe tanto dinheiro em um prazo tão curto. Por que paramos de investir? Em 2008, a crise financeira abalou a estrutura de capitais da maioria das empresas brasileiras e, no caso específico do nosso setor, em processo de alavancagem elevada por conta de um mercado futuro que estava por vir.

De 2008 para cá, pela falta de recursos, o grande foco não foi a expansão, mas sim a reorganização do negócio, a reorientação, a readequação. Era hora de arrumar a casa. Vivemos, então, um suspiro econômico e financeiro depois de um processo muito agressivo de crescimento.

No que diz respeito ao canavial, também pela falta de recursos, não houve expansão nem renovação nesse período, e, assim, hoje, o canavial está envelhecido. Ainda estamos colhendo o fruto da dificuldade financeira de 2008. Além disso, o clima não ajudou. Tivemos três anos, incluindo este, bastante atípicos. Em 2009-10, excesso de chuvas.

Na safra 2010-11, tivemos seca e uma produtividade abaixo do que se esperava. E, nesta safra 2011-12, fruto da cana envelhecida e de geadas não comum no setor, temos uma estimativa de produtividade média de 71 toneladas/hectare, a mais baixa média da década.

As 48 usinas que compõem a Copersucar têm uma capacidade de moagem de 115 milhões de toneladas de cana, 22% da produção do Centro-Sul. Começamos a safra com uma estimativa de moagem entre 102 e 105 milhões, entretanto vamos moer apenas 91 milhões de toneladas. Temos, então, 24 milhões de toneladas de crescimento possível em relação aos números desta safra. Basta que o canavial volte a ser produtivo.

Fizemos um mapeamento para saber qual era o plano de investimento até 2015, e, em 95% de nossas usinas, o crescimento virá da expansão daquele investimento em greenfield que era modular. E é um investimento que custa cerca de 50% de um greenfield e será da ordem de 31 milhões de toneladas de cana. Teremos que investir em cana, o equivalente a 50% do greenfield.

Então, podemos sair dos 91 para 146 milhões de toneladas de cana, cuidando do canavial e investindo em uma parcela de cerca de 25%, apenas em 50% de um novo greenfield. Por que nós podemos fazer isso? Porque parte desse investimento já foi feito e devemos assim agir porque o mercado é firme e forte. Não fazer significa que o investimento de 50%, que já foi feito, está ocioso e não está remunerando o capital já colocado na usina.

Se nós extrapolarmos esse raciocínio para o Centro-Sul, com uma capacidade atual de moagem de 500 milhões de toneladas de cana, passaremos para 620 milhões de toneladas. Ou seja, temos 120 milhões de toneladas de oportunidade de crescimento de produção só por conta de trabalharmos o canavial. Com esse mesmo raciocínio, poderemos moer, em cinco anos, o equivalente a 790 milhões de toneladas de cana.

Isso representa sair dos 32% de atendimento da frota flex nesta safra, para 45%, de fato, ainda distante dos 60% a que já chegamos. Nós não podemos achar é que o carro a álcool – hoje na figura do flex – vai acabar. O carro flex é uma conquista da sociedade brasileira. É uma flexibilidade que só o Brasil tem e que todo mundo quer ter. Então, se o Brasil conquistou isso, como podemos admitir uma manchete de jornal dizendo que o carro a álcool pode acabar? Ele sim permite que se tenha o arbítrio da escolha do combustível.

Ter 45% do mercado representa atender a uma demanda da ordem de 47 bilhões de litros. Considerando R$ 1 por litro, estamos falando de um mercado de 47 bilhões de reais. Faz sentido um esforço para atender a um mercado desse tamanho? Qual é o principal obstáculo? É custo. Os preços deflacionados do setor não subiram, mas o custo subiu muito.

Então, os prejuízos apareceram. O custo subiu quase 40%, em cinco anos, por conta da mão de obra, gastos sociais, ambientais, em mecanização, neste caso, redundando em produtividade. Só que a produtividade ainda não chegou, e, enquanto ela apenas tende a chegar, esbarramos na dificuldade de justificar os planos de investimento.

Cabe aqui um esforço conjunto, não basta achar que o governo vai resolver o nosso problema. Nós temos que abrir essa conversa de forma adulta e madura, com confiança recíproca para buscar uma solução de interesse comum. O etanol não é um negócio de interesse só do setor sucroenergético, é algo que envolve a vocação do País.

Nós estamos falando de um negócio que gera divisas, que representa um PIB de 48 bilhões de dólares, que emprega diretamente 1,5 milhão de pessoas. Se considerarmos o emprego indireto, – pelas características da atividade que exercemos –, deve superar 15 milhões de pessoas. Falamos, portanto, de um negócio de interesse do País. E a solução não é única, não é mágica, precisamos atuar em várias frentes, e, no âmbito fiscal-tributário, o ICMS é o melhor exemplo.

É necessário o estabelecimento da igualdade de tratamento entre os estados. O estado de São Paulo saiu na frente, em vanguarda absoluta em relação aos demais estados, e isso ampliou o mercado de etanol no nosso setor. Ainda no âmbito fiscal-tributário, cabe reconhecer o direito à devolução para o etanol de parte da externalidade positiva que ele cria para o meio ambiente e a saúde pública. Ora, se um produto cria economia para o estado, para o meio ambiente e a saúde pública, é legítimo que pelo menos parte da economia gerada seja devolvida ao produto.

No âmbito de fomento e desenvolvimento, dispor de linhas de créditos adequados, por exemplo, financiamentos racionais, em harmonia com a sua capacidade, com prazos de pagamentos condizentes com os prazos de retorno dos investimentos. No que se refere ao foco de fomento tecnológico, aí cabe uma promoção do CTC, que tem, hoje, um projeto do etanol celulósico que é complementar à estrutura da produção instalada.

Portanto, não é uma planta concorrente, mas um processo complementar à estrutura existente, que pode ampliar em 30% a capacidade de produção do etanol. Esse projeto já está em estágio de planta de demonstração comercial, e seus custos são competitivos, bastante próximos dos custos do etanol de primeira geração.

Com um pouco de esforço, nós já estamos falando de um ganho de 30% de produtividade, que pode acontecer nos próximos três anos, dependendo exclusivamente do foco que venhamos a dar. Nesse cenário todo, um fato que merece atenção e cuidado é o planejamento das políticas públicas; num cenário institucional do setor, é o de definir qual exatamente é o papel efetivo do etanol na matriz energética do Brasil no longo prazo.

Finalizando, eu não tenho dúvida de que, se retomarmos a viabilidade, a competitividade do etanol, nós vamos ter que pedir para parar de se investir, pedir para parar de expandir, porque a vocação de empreendedor no setor existe de forma latente, porque a demanda é firme, consistente e presente. O conhecimento do negócio existe, é plenamente dominado, provas disso são este Fórum Internacional sobre o Futuro do Etanol e as feiras  – Fenasucro e Agrocana – de Sertãozinho.

E, como fator de destaque nisso tudo, precisamos dizer que os recursos naturais do nosso País dão um show de bola em relação ao mundo. Temos todos os recursos naturais importantes disponíveis, em condições absolutamente sustentáveis. Concluo observando que é realmente necessário mostrar para a sociedade que a parte cheia do copo é muito maior que a vazia. Temos que arregaçar as mangas e trabalhar para continuar levando o etanol para o lugar que ele merece estar, no que diz respeito ao País e ao setor sucroenergético.