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Ismael Perina Junior

Presidente da Orplana

Op-AA-28

A união será determinante para a sobrevivência do pequeno produtor

O setor sucroenergético apresentou, nesses últimos anos, crescimentos espetaculares, invejáveis a qualquer outro setor, da ordem de 10% ao ano, promovendo uma enorme movimentação nas regiões onde esse desenvolvimento vem acontecendo. Os números são assustadores, pois praticamente dobramos a nossa produção de cana-de-açúcar nos últimos dez anos.  

Esse crescimento permitiu a geração de inúmeros empregos diretos e indiretos nos centros produtores e nas cidades vizinhas, que tiveram implantação de pequenas indústrias e fortalecimento do comércio local. A qualidade de vida das pessoas também, sem sombra de dúvidas, apresentou uma melhora considerável, pois a renda aumentou.

Boa parte desse crescimento foi promovido por um batalhão de produtores rurais que vislumbraram nessa atividade melhorias de desenvolvimento, quer no âmbito profissional ou mesmo pessoal. A classe dos produtores de cana-de-açúcar possui algumas características peculiares, e talvez a mais interessante delas seja o grande número de pequenos produtores que, ainda hoje, têm nessa atividade a sua fonte de renda.

Quando se pensa no setor sucroenergético, no gigantismo que ele vem alcançando e na sua exposição na mídia, imagina-se um ambiente em que pequenos produtores não têm espaço, que a produção de cana-de-açúcar é desenvolvida somente pelas usinas ou grandes produtores rurais. Mero engano. Se considerarmos os dados da Orplana, aproximadamente 90% dos agricultores produzem individualmente abaixo de 12.000ton de cana-de-açúcar.

Esse contingente, que, via de regra, desenvolve essa atividade há anos, representa pequenas empresas, onde o trabalho é feito pelos próprios familiares. Além disso, há geração de empregos diretos e indiretos, em quantidade bastante interessante, o que é responsável pelo movimento da economia em diversas regiões.

Além disso, é notória a movimentação que essas pessoas promovem no comércio local, permitindo melhor distribuição de renda e diminuindo as possibilidades de migração para as cidades ou para os grandes centros urbanos. Com esse novo cenário de produção de cana sem queima, esses produtores têm de ficar muito atentos se quiserem continuar produzindo.

É importante saber que as condições da lavoura mudaram, que as dificuldades aumentaram e que os custos sobem a cada ciclo. Uma gestão profissional será determinante para a sua própria permanência na atividade. E, dessa forma, é necessária uma mudança de postura. Em um passado recente, pequenas áreas de cana-de-açúcar podiam ser facilmente colhidas.

O produtor realizava a queima e o corte manual. Agora, com o advento da colheita de cana crua, é necessário glebas maiores e mais uniformes. Os talhões devem ser maiores e, provavelmente, os vizinhos deverão acompanhar essa mesma situação. Portanto é imprescindível a organização em grupos, o que facilitará o desenvolvimento da atividade e, principalmente, a colheita.

No passado, já tivemos a formação de diversos consórcios de produtores que facilitaram esses trabalhos de colheita e também de plantio. Agora, é o momento de o produtor se preparar para essa nova situação. Outro ponto que vejo também com bastante apreensão é a concentração por parte das indústrias, movimento a que estamos assistindo acontecer em uma velocidade impressionante.

A formação de grupos de produtores pode influenciar num outro importante aspecto, que é o da comercialização. Não temos dúvidas de que as pressões negociais aumentarão e não trataremos mais com o dono da usina, como foi comum para muitos até agora. Iremos negociar com seus representantes, que, muitas vezes, são substituídos de uma safra para outra.

Dessa forma, o histórico de relacionamento deixa de ter a importância que tinha no passado, e o foco deve ser dado a uma negociação mais profissional. Assim, grupos de negociação podem representar algum ganho para o produtor, que enfrenta cada vez mais problemas com o resultado de sua atividade.

Vejamos, então: se nos organizarmos para a realização de trabalhos conjuntos, iremos colaborar, e muito, para a diminuição de custos, que hoje é um fator fundamental a ser trabalhado. Com isso, será possível um aumento em nossa renda, e, por outro lado, se esse agrupamento permitir que façamos uma melhor negociação, ficaremos com melhores resultados.

Temos a obrigação de buscar esse novo tipo de comportamento. Independente disso, quando olhamos para as usinas, no aspecto mais abrangente, percebemos que temos que participar mais de nossas entidades representativas e fortalecê-las.

Nossas associações de produtores de cana e cooperativas certamente continuarão sendo o grande respaldo para os produtores e serão elas que ajudarão esses produtores a continuar desenvolvendo sua atividade canavieira. A história já mostrou o alto grau de importância dessas organizações nas regiões produtoras deste País.