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Igor Montenegro Celestino Otto

Diretor-superintendente eleito do SEBRAE-GO

Op-AA-42

A esperança

Somos vencedores de adversidades. As incontáveis crises pelas quais o setor sucroenergético passou ao longo dos últimos séculos no Brasil contam uma história de superação. Para ficar somente nas mais recentes, passamos por crises, por problemas climáticos, por acirramento da concorrência, por declínio de mercados, por intervenção governamental, pela abrupta desregulamentação, pela retirada de incentivos, pela ausência de políticas públicas, por perda de competividade, por precariedade da infraestrutura, por controle de preços, dentre outras.

Já vimos um pouco de tudo e certamente ainda veremos mais. Alguns negócios ficaram pelo caminho, mas o setor seguiu em frente e prosperou mesmo assim. Iniciamos agora um novo ciclo no País e creio que continuam existindo boas razões para sermos otimistas em relação ao amanhã. O Brasil possui uma agroindústria sucroenergética altamente estruturada, com elevado nível de conhecimento da atividade.

O clima é o mais apropriado para a atividade, em todo o mundo (apesar das mudanças climáticas que começam a impactar todas as regiões do planeta). Os nossos empreendedores são experientes e competentes, possuindo total domínio da atividade. Temos uma grande força de trabalho qualificada e um conhecimento tecnológico avançado.

O crescimento previsto da população nas próximas décadas vai demandar cada vez mais alimentos, sendo uma oportunidade para o mercado açúcar. Possuímos uma imensa frota nacional de veículos flex-fuel, que é uma enorme oportunidade de expansão de mercado. E com a busca mundial por novas alternativas energéticas, o mercado internacional de biocombustíveis e o mercado interno de energia elétrica da biomassa continuam sendo muito promissores.

De outro lado, o segmento sucroenergético também enfrenta desafios imensos. Grande alavancagem financeira e alto nível de endividamento das empresas. Intervenção governamental no mercado, afetando o equilíbrio dos preços dos combustíveis. Ausência de dinamismo na economia brasileira. Persistente retração da economia mundial. Perda de renda dos consumidores do mercado interno e externo.

Falta de capacidade financeira para investimento em modernização e melhoria de produtividade. Elevação dos custos dos insumos e do processo produtivo como um todo. “As tendências negativas e positivas parecem ocorrer de forma simultânea” – como disse o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, no seu recente livro O Futuro – “mas o fato de que algumas são bem-vindas e outras não, exercem um efeito sobre a nossa percepção do fenômeno. As tendências indesejadas muitas vezes são ignoradas, em parte porque não gostamos de pensar nelas. Qualquer incerteza sobre elas que sirva para justificar a falta de ação costuma ser recebida com entusiasmo, ao mesmo tempo em que provas de sua concretude encontram forte resistência acompanhada de um esforço de negação da realidade para além das evidências. Da mesma forma que o otimismo ingênuo pode conduzir à decepção, a predisposição ao pessimismo nos impede de ver a esperança legítima em um caminho que nos permita superar os perigos que o futuro reserva”.

Passado o momento eleitoral, onde se exarcebaram as paixões de um lado e de outro do espectro político, é chegada a hora do bom senso. Temos uma presidente reeleita legitimamente pela população brasileira, que iniciará um novo mandato de quatro anos a partir de janeiro de 2015. Ao encerrar a eleição a presidente fez um discurso chamando a sociedade para um amplo diálogo, em favor do desenvolvimento nacional.

Portanto, é tempo de uma reconciliação no Brasil. É preciso entender esse tempo, para que possamos trabalhar juntos – empresas, trabalhadores e governo – para reedificar o setor sucroenergético e colocando-o novamente no patamar que merece. Uma agenda estratégica precisa ser colocada imediatamente sobre a mesa para iniciar um novo diálogo visando a restauração da competitividade do setor sucroenergético brasileiro.

Uma pauta mínima para iniciar o processo precisa conter os seguintes temas:

1. Promover um rápido reequilíbrio dos preços dos combustíveis no País;
2. Criar um mecanismo de incentivo para reduzir o nível de alavancagem financeira das empresas do segmento, com o objetivo de retomar a capacidade de investimento do segmento;
3. Ampliar o apoio às iniciativas que promovam o aumento da produtividade agrícola e industrial, inclusive por meio do retrofit (modernização) das fábricas;
4. Acelerar os investimentos em novas variedades de cana mais produtivas e mais adaptadas às condições edafoclimáticas de cada região do País;
5. Implantar novas políticas públicas de apoio à geração de bioeletricidade;
6. Expandir os investimentos em infraestrutura logística, visando reduzir os custos de transporte e aumentar a competitividade;
7. Apoiar a formação de estoques reguladores para a entressafra, criando mais linhas de crédito para estocagem e facilitando o acesso a esse crédito para as empresas em maiores dificuldades financeiras;
8. Abrir linhas de financiamento subsidiado para pesquisa & desenvolvimento de novos produtos e de novos processos produtivos.

É tempo de conciliação, de retomar o crescimento e o protagonismo do setor sucroenergético brasileiro. É tempo de ter esperança em dias melhores. Vamos arregaçar as mangas e fazer acontecer.