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Juliano Vilela Fracasso

Pesquisador do Instituto Agronômico - IAC

Op-AA-56

Falta de critérios custa caro
Nossa canavicultura está espalhada por vários estados produtores, abrangendo uma área de 8.738,6 milhões de hectares. Nessa situação, nós estamos convivendo com muitas pragas de interesse econômico, entre elas, podemos destacar a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva spp.), a broca-da-cana (Diatraea saccharalis), Sphenophorus levis, entre outras; podemos também, nesse contexto, citar os problemas com nematoides, que podem reduzir a produtividade em até 30% quando em altas populações.
 
O manejo das pragas na cana-de-açúcar, nos dias atuais, é uma prática indispensável, visto os grandes danos que podemos observar ao longo do ciclo dos canaviais. Os problemas relacionados com as pragas vão desde a redução da produtividade e da qualidade da matéria-prima levada à indústria até a diminuição da longevidade do canavial, problemas esses que podem se agravar com o passar dos ciclos da cultura, gerando enormes perdas, e que, muitas vezes, só podem ser bem manejadas na reforma do canavial, com um custo muito maior, se comparado a um manejo previamente definido.

Para um bom manejo integrado das pragas, é preciso conhecer não só a eficiência dos métodos de controle, mas também os locais onde esses métodos devem ser aplicados, informações que podem ser conseguidas por meio dos levantamentos populacionais ou por amostragens. 
 
Nos últimos anos, o setor está passando por uma fase crítica no que diz respeito ao controle de pragas, devido ao corte de custos muito forte, especialmente no que diz respeito à mão de obra. A diminuição das equipes de campo tem um reflexo muito grande nas tomadas de decisões quando o assunto é manejo de pragas: não é possível tomarmos uma decisão coerente diante de uma falta de informação; isso é um tiro no escuro. 
 
É verdade que os métodos de levantamento de pragas utilizados hoje em dia exigem um número razoável de pessoas para sua execução, e seria muito importante conduzir mais trabalhos, visando obter métodos de amostragens de execução mais rápida e fácil, mas que fornecesse informação confiável. 
 
Porém, enquanto não há tais métodos, é imprescindível continuar a usar os que estão disponíveis no momento. Os trabalhos científicos são geralmente conduzidos em áreas comercias que apresentam o problema com a praga em questão; sendo assim, conseguimos focar o manejo em áreas que correspondem exatamente ao tipo de problema com o qual o setor está convivendo.

Para o desenvolvimento desses trabalhos, precisamos, certamente, avaliar as populações da praga em questão para que nossa base de comparação entre os tratamentos tenha uma referência confiável, e é justamente nesse foco que está um dos maiores problemas do manejo de pragas no setor: a falta de informações amostrais que nos sirvam de base para o manejo.
 
Sem as informações bem definidas, o manejo de pragas está sendo muito comprometido, ou seja, essas informações inconsistentes, muitas vezes, têm levado a tomadas de decisões incoerentes e possivelmente a graves erros de controle; em última análise, em muitos casos, se está jogando dinheiro fora. Como exemplo de erro grave no controle de pragas, podemos citar o caso envolvendo a cigarrinha-das-raízes (Mahanarva spp.). 
 
Devido à falta de bons levantamentos populacionais (amostragens), fez-se, em muitos locais, aplicação indiscriminada de inseticidas, muitas vezes de forma “preventiva”; por causa disso, populações dessa praga, em várias regiões, estão com diferentes níveis de resistência para os inseticidas. Certamente, o programa de manejo de pragas tem um custo de implantação.

Para que seja tomada uma decisão de controle tecnicamente embasada, precisamos de informações sobre as populações da praga, que são obtidas por meio de amostragem, que permite definir qual a melhor estratégia de manejo para determinada praga em determinada situação; sem essas informações preliminares, não é possível garantir que o manejo tenha sucesso. 
 
O controle de pragas em cana-de-açúcar exige uma disciplina na aplicação das ferramentas do manejo integrado para que realmente seja possível ampliar o efeito dos métodos de controle. Para tal, sempre será necessária uma base confiável de consistência ao programa de manejo implantado.
 
Diante de tantos dilemas enfrentados pelo setor,  essa é uma questão de grande importância, que o desafia a inovar e a otimizar as equipes de amostragem de pragas; as dúvidas podem ser um incentivo para uma busca racional de novas formas de  amostragem,  que utilizem cada vez menos trabalho braçal, com uma oferta de informações mais confiáveis.