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Pedro Robério de Melo Nogueira

Presidente do Conselho de Administração da Novabio, Associação de Produtores de Açúcar Etanol e Bionenergia

OpAA68

Farol aceso para a frente
Procurando contextualizar uma visão macro sobre os mercados mundiais de açúcar e do etanol, abstraindo aspectos e tópicos passageiros ou pontuais de curto prazo, desenvolvidos muito recentemente por outros articulistas da Revista Opiniões, chamamos à reflexão uma visão de mais longo prazo e de possível tendência a partir de um racional desenvolvimento de fatos e circunstâncias atualmente em vigor. 
 
Antes de procurarmos explicitar os preços e suas tendências, a volatilidade de produção por razões climáticas e as oportunidades de margem pela precificação conjuntural do câmbio, nos fixamos em fundamentos que se delineiam no presente, mas que, por certo, determinarão o futuro e devem ser considerados na plataforma de projetos futuros nas empresas do setor. 

A despeito de possuirmos uma excelente e firme base agrícola da matéria-prima cana-de-açúcar que proporciona oferta significativa de açúcar e de etanol, faz-se necessário que todos os mercados para os produtos finais sejam preenchidos de forma rentável e crescente, num ambiente de competitividade econômica estável regular. Isso nem sempre se verifica, ainda que o Brasil, há muito, vem defendendo um comércio sem barreiras, em função de sua larga e consolidada competividade.

Mercado mundial de açúcar:
 
Participamos desse mercado, de forma direta e empresarial privada, desde 1989. Nesse período, evoluímos para uma participação relevante. Nos firmamos como grande produtor mundial e principal exportador. 

Um registro estimulador que destacamos, pouco lembrado, é que, nos anos de 1959/1960, o Brasil era o 4º produtor mundial, superado por Cuba, Estados Unidos e Rússia. Dez anos depois, continuávamos nessa posição com países acima se alternando nas primeiras posições. 

Foi em 1979/1980 que assumimos a 2ª posição mundial, com a Índia assumindo o quarto lugar. Em 1989/1990, impulsionada por estímulos governamentais domésticos, a Índia assumiu a liderança mundial, e o Brasil, pelo estímulo à produção de álcool decorrente
do Proálcool, caiu para a 2ª posição. Já em 1990/2000, a Índia mantinha a liderança, e o Brasil, mantendo a 2ª posição, assegurava a sua trajetória de expansão sustentada para, em 2009/2010, assumir a 1ª posição, com folga, em relação à Índia, agora a 2ª colocada, situação que permanece até o presente. 

Nesse período, o Brasil manteve correlação de participação no mercado mundial alternando a sua presença como maior exportador com a Índia, em função, apenas, dos subsídios governamentais internos concedidos pelos indianos. Assim, vamos nos firmando na régua econômica e de mercado livre como um regulador desse mercado, assim como os produtores mais competitivos do mundo.

Nesse trajeto evolutivo, o mercado mundial de açúcar se apresenta como um dos fundamentos importantes para a sustentação econômica do setor sucroenergético nacional e da demonstração da relevância do agronegócio brasileiro no mundo. Ficam inequívocos o ambiente adequado e nossa evidente vocação para a natural elevação de nossa participação global.

É fato que essa elevação carece de outros fatores que a influenciarão positiva ou negativamente. Entre os principais elementos, estão: a proteção e subsídios por parte de outros países concorrentes; as adversidades climáticas, comuns na produção agrícola primária, que poderão impactar a oferta de uns em detrimentos de outros países; a efetividade da busca pelo aumento da produtividade em todos os players, que se refletirá numa maior tolerância a preços relativamente menores; a dinâmica do preço do petróleo e seus derivados; o aumento de mandatos para mistura de etanol na gasolina na Índia, aumentando o seu uso de cana-de-açúcar para  a produção de etanol; e a provável redução da destinação para produção de açúcar. Tudo isso sem deixar de considerar revisões, sempre esperadas, na legislação agrícola protetiva dos EUA e da União Europeia.

Mercado mundial de etanol:

Esse mercado está intimamente relacionado à questão ambiental global, mais especificamente as metas de redução de gases estimuladores do efeito estufa na atmosfera. É sabido que, adicionalmente à discussão da necessidade de redução de desmate e da preservação de matas e florestas, incluem-se, de forma relevante, a emissão de CO2 pela produção de energia a partir de fontes fósseis e a importante participação das emissões veiculares, geradas pelo sistema de transporte.
 
O mercado mundial de etanol hoje ocupado pela nossa produção ainda não guarda relação direta com esse mercado de energia e combustíveis limpos em acelerada formação. Logo, é racional assentar que, pela condição de segundo maior produtor mundial de etanol e com espaços disponíveis para a sua expansão, tanto pela ocupação de novas fronteiras agrícolas ainda disponíveis legal e corretamente, quanto pelo aumento da produtividade em franco processo de desenvolvimento, somos o natural candidato a se tornar, possivelmente, o maior player desse mercado, sinalização que deve estar no radar de nossas empresas produtoras.

Objetivando esse promissor cenário mundial, sem excessos de entusiasmo verde-amarelo, consideremos os seguintes eventos de maior relevância: 
• O Brasil permanece como 2º produtor mundial de etanol e com grande possibilidades de expansão;

• O imposto sobre carbono frequenta, a cada momento, a aspiração dos países desenvolvidos, como forma de evitar a poluição ambiental advinda desses gases e de criar um funding para a implantação, desenvolvimento e expansão de fontes de energia alternativas e renováveis; 

• O Brasil, na vanguarda desse movimento, já implantou o revolucionário programa de biocombustíveis RenovaBio, que estabelece um rigoroso critério operacional de méritos na sua produção para torná-lo, sem dúvidas, modelo de ESG de produção e comercialização no conceito de ciclo de vida do combustível; 

• Após a pandemia da Covid-19, acentuou-se a percepção e urgência da necessidade de preservação do ambiente, tornando-o mais amigável à qualidade de vida e, sem menor significado, à purificação do ar que respiramos, como antídoto natural à proteção do sistema respiratório dos habitantes do planeta;

• A manifestação de países como a Índia e o Reino Unido em aumentar o mandato de mistura de biocombustíveis na gasolina demonstra, claramente, que é mais rápida e eficaz a descarbonização dos combustíveis fósseis no sistema de transporte;

• A possibilidade concreta de otimização do uso do hidrogênio, presente nos biocombustíveis, na geração de energia para a alternativa de motorização nos veículos, através do uso das células de combustíveis, harmonizará plenamente o uso dos biocombustíveis que, de forma primária na sua produção, reduzem a emissão de CO2 para a atmosfera com a inovação e tecnologia em curso na motorização veicular por eletricidade.

Alimento e Energia:
 
Ademais, e não menos importante, cabe considerar que, no caso da produção brasileira de açúcar e etanol, onde a matéria-prima cana-de-açúcar tem predominância, a flexibilidade, numa escala industrial importante, possibilita uma administração de opção de produção e oferta para os diversos mercados de um ou outro produto, evitando movimentos de superofertas conjunturais ou escassez pontuais. 

Essa realidade permite uma administração segura, estável e confiável desses mercados. A demanda evolutiva que se apresenta no planeta não subtrai mais alimento e mais energia limpa.