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Tadeu Luiz Colucci de Andrade

Gerente do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento do CTC

Op-AA-10

Geração de tecnologias e a expansão da cana-de-açúcar

A rápida expansão do setor sucroalcooleiro supera até mesmo as previsões de analistas, empresários e pesquisadores mais otimistas. O crescimento é de tal ordem que já se tornou impossível chegar a um consenso sobre o número de usinas e destilarias projetadas e/ou em construção no País. Se isso mostra a capacidade do empresariado do setor, cria também brechas para o surgimento de problemas tecnológicos, que podem se manifestar em breve, caso não tenhamos pesquisas eficazes, para darem suporte à essa expansão.

A pesquisa deve, prioritariamente, se antecipar aos problemas e não apenas reagir à constatação de um fato, mas o que se observa, na prática, é que os investimentos na expansão do plantio estão sendo priorizados, em detrimento à pesquisa. O nível técnico que atingimos hoje é fruto de pesados investimentos em tecnologia realizados no passado, durante a estruturação de centros de excelência, como o CTC e o Planalsucar.

Estes eram as únicas instituições de pesquisas que desenvolviam tecnologia para o setor sucroalcooleiro como um todo. Com a extinção do Planalsucar, o CTC manteve-se como o único gerador de tecnologia do País, para as áreas agrícola e industrial. Algumas universidades passaram a ter núcleos de pesquisa em áreas pontuais do setor sucroalcooleiro, mas sempre carentes de recursos necessários para uma produção adequada de novas tecnologias.

A crise dos anos 90 abalou o investimento em pesquisa: linhas de pesquisas foram abandonadas e a formação de novos pesquisadores deixou de ser prioridade. Diante da nova onda de crescimento desta década, os impactos da redução ocorrida naquele período também já começam a se manifestar. Boa parte da expansão atual está ocorrendo em regiões não tradicionais, ocupando, principalmente, antigas áreas de pastagens.

Por serem novas, essas regiões não foram priorizadas na seleção das variedades hoje existentes, de modo que não é razoável que se espere dessas lavouras produtividades equiparadas com tradicionais áreas de cultivo. Considerando que são necessários anos para se obter uma nova variedade de cana-de-açúcar, podemos imaginar o impacto disso na lucratividade das empresas instaladas nas novas áreas de expansão.

Nestas novas fronteiras, a cana-de-açúcar estará sujeita também a pragas e doenças que hoje não estão presentes nas tradicionais áreas de cultivo e, portanto, de controles não definidos pela pesquisa. Se nas áreas tradicionais de cultivo, os ambientes de produção já estão caracterizados, nas áreas de expansão, estes são totalmente desconhecidos, com isto a escolha de variedades, sistemas de cultivo, etc, também ficam comprometidos.

A irrigação que, para as áreas tradicionais de cana-de-açúcar, nunca assumiu um papel limitante da produção, nas novas fronteiras será de relevante importância e, portanto, pesquisas deverão ser realizadas para determinar os parâmetros a serem usados. A pesquisa com biotecnologia, que hoje caminha de forma inadequada, devido às barreiras regulatórias, deverá ser uma ferramenta para viabilização de variedades mais produtivas e com maior adaptabilidade aos diferentes ambientes de produção.

Além disto, variedades obtidas através da biotecnologia proporcionarão cultivos com menos defensivos, contribuindo para a sustentabilidade da cultura da cana-de-açúcar. O sistema de colheita de cana sem queima, hoje com tecnologia disponível para as áreas tradicionais, deverá ser desenvolvido também para as novas fronteiras. Como os ambientes de produção são diferentes, o comportamento da cultura, pragas, doenças, práticas de cultivo etc, ainda não são totalmente conhecidos.

A cogeração, que aos poucos assume importância como um produto para o setor sucroalcooleiro, poderá ser muito mais eficiente com o uso da gaseificação da biomassa. Com esta tecnologia, produziremos seis vezes mais energia por quilo de biomassa que o sistema atual. No entanto, esta tecnologia, hoje em desenvolvimento, ainda necessita de pesados investimentos para sua finalização.

Além da utilização da biomassa para a produção de energia, a tecnologia de hidrólise da biomassa contribuirá para uma maior produção de álcool por hectare. Nesta tecnologia, bagaço e palha passam a ser novos insumos para a produção de álcool. Na utilização da biomassa como matéria-prima para a produção de álcool, teremos duas linhas tecnológicas.

Uma delas é a rota química que hoje, no Brasil, já possui uma planta piloto em funcionamento. Outra será via hidrólise enzimática, cuja viabilização demanda intensa busca por enzimas, formas de processamento da palha e bagaço e novas cepas de leveduras. Atento a todas estas necessidades tecnológicas, o Centro de Tecnologia Canavieira, CTC, mantém linhas de pesquisas que dão suporte ao setor sucroalcooleiro nesta sua nova onda de crescimento.

Mantido por produtores de cana, açúcar e álcool, o CTC é uma empresa privada, sem fins lucrativos. Seus associados têm suporte técnico para decisões estratégicas: tanto para identificação de áreas de expansão, quanto na adoção da melhor tecnologia agrícola e industrial. A busca de variedades mais adaptadas aos novos ambientes de produção, que gerarão maior produtividade, com resistência genética reforçada a pragas e doenças, está no intento estratégico do CTC, para assegurar o sucesso empresarial na expansão da cultura canavieira. Pesquisas do CTC nas áreas agrícola e industrial garantirão o suporte e a diferenciação tecnológica para o cultivo da cana nas áreas tradicionais, assim como e, principalmente, para as áreas de expansão.