Presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal
Op-AA-41
Fazendo uma análise desses últimos anos do setor sucroenergético, olhando especificamente a produção de cana-de-açúcar, detectamos que o crescimento da área plantada não ocorreu, na maioria dos casos, com os necessários cuidados básicos para fundação dos novos canaviais. Um dos mais importantes aspectos, abandonado por grande parte das empresas, diz respeito à qualidade e à sanidade dos materiais a serem multiplicados.
O que se viu nesse contexto foi uma verdadeira explosão na ocorrência de doenças e pragas, levadas, principalmente, através das mudas. Situação que, agora, deverá ser corrigida. O lado positivo desse fato é que as pessoas envolvidas começam a se mexer para criar os mecanismos necessários para a correção dos rumos. O ponto básico neste momento é a necessidade urgente de prepararmos e dar qualidade aos materiais que serão utilizados como muda para propagação e multiplicação.
Sugiro a utilização de duas grandes ferramentas: A primeira é a Muda Pré-Brotada – a chamada MPB –, que é a produção de mudas (planta com aproximadamente 60 dias após sua germinação) no conceito de seleção do material, antes de ser colocado para germinação, quando se conseguem selecionar as gemas, descartando aquelas que apresentam qualquer forma de dano ou anomalia.
Ato seguinte, o material é submetido a um tratamento visando à eliminação de agentes patógenos e à eliminação de pragas, fazendo com que as mudas que irão para o campo tenham a garantia de que serão isentas de pragas e doenças. Outro fator a se destacar no processo é que, como a brotação ocorre em meio de substrato, eliminamos também a possibilidade de invasão de ervas daninhas, tanto na forma de sementes como de algum material vegetativo.
Ou seja, conseguimos dar à muda a devida qualidade e sanidade. É urgente a utilização dessa ferramenta para formação de viveiros. Destaca-se que já é possível a aquisição dessas mudas, com considerável número de opções, em um mercado onde já operam várias grandes empresas. Essa ferramenta permite, inclusive, um planejamento muito mais eficiente quando temos em foco a utilização de determinadas áreas para plantio com variedades específicas e previamente escolhidas.
Permite ainda que, devido ao aumento da velocidade de multiplicação, consigamos atingir grandes áreas com pouco material e em menor tempo, trazendo grandes benefícios e agilidade e auxiliando na correção dos rumos. Aproveitando-se dessa nova tecnologia é que temos a oportunidade de utilizar, com mais frequência, outra técnica já conhecida, a MEIOSI (Método Inter-rotacional Ocorrendo Simultaneamente), que apresenta uma série de vantagens quando se tem em foco a formação de áreas para servirem como viveiros ou comerciais com características e qualidade de viveiro secundário.
A técnica consiste em se plantar um percentual da área e que sua própria produção seja utilizada como muda para o restante da área, aproveitando aquela que fica livre para realizar a produção de soja ou amendoim, trazendo grandes benefícios em vários aspectos ou, ainda, utilizando essa área para a semeadura de leguminosas que serão utilizadas para adubação verde.
Certamente, poucas pessoas se debruçaram sobre esse assunto para mensurar os grandes benefícios que essa ferramenta promove. Como já citado, a velocidade de multiplicação aumenta consideravelmente, tendo a oportunidade de realização de roguing muito mais eficiente, pois temos duas linhas de cana e, do seu lado, a cultura plantada, que é de porte menor e permite que a vistoria seja realizada com alta eficiência. Outra vantagem é que a área utilizada com soja ou amendoim pode trazer uma receita extra, que, em muito, auxilia no custeio de implantação do novo canavial.
O custo de formação reduz, e muito. Caso se consiga uma boa produção de muda, na proporção de 1 para 7 (uma linha planta sete linhas), praticamente se iguala ao custo quando utilizamos nossa área comercial para essa multiplicação. Os resultados obtidos em minha área de produção superaram essa proporção, mesmo com condições climáticas desfavoráveis, como as que ocorreram nos últimos meses de janeiro e fevereiro deste ano de 2014.
A qualidade da cana que será utilizada para multiplicação é outro ponto forte a ser destacado. São colmos com idade de, praticamente, sete meses, cujas gemas apresentam brotação muito vigorosa, diferentemente daquelas que utilizamos, que geralmente apresentam idade entre onze e doze meses de idade. A sanidade das canas que serão utilizadas como muda é melhorada, principalmente por receber parte do tratamento fitossanitário que é realizado na cultura de soja ou amendoim, no tocante, principalmente, a doenças fúngicas e algumas pragas.
Soma-se a tudo isso a disponibilização de uma maior área para colheita que, antes, era utilizada para fornecimento de mudas nas áreas comerciais, ou seja, temos maior área efetiva para colher na safra. Não posso deixar de comentar que a Meiosi permite a produção de alimentos em terras de canaviais promovidos pela utilização da mesma de uma maneira muito mais eficiente e, certamente, diminuindo a pressão feita por entidades e pessoas que, erroneamente, criticam a produção e os produtores de cana-de-açúcar.
Podemos ter outro celeiro de produção de alimentos em áreas de produção de cana-de-açúcar, aumentando o leque de benefícios promovidos pelo setor, com impactos extremamente fortes no quesito sustentabilidade. Nesses últimos meses, eu me envolvi bastante na tentativa de propagar a utilização dessas tecnologias e busquei também verificar pontos negativos de seu uso que poderiam trazer dúvidas quanto à sua eficácia; e, declaro, se existirem, são poucos.
Está tudo pronto, é só utilizar, e os investimentos a serem feitos para sua utilização são praticamente zero. Cabe principalmente aos técnicos avaliarem a relação custo/benefício de sua utilização e agilizarem o processo. Tenho convicção de que a utilização dessas técnicas e ferramentas extremamente simples nos ajudará a corrigir erros, promover melhorias e fazer com que os índices de produtividade voltem a crescer, certamente colaborando um pouco para minimizar o grande dano provocado pela falta de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento deste grande setor sucroenergético.