É notável a evolução da agroindústria da cana-de-açúcar percebida nas últimas décadas. Partimos de uma atividade que era basicamente realizada manualmente no campo para um modelo eficiente de negócio, praticamente 100% mecanizado. Mas não paramos por aí. Estamos acompanhando as tendências que movem nosso mundo e embarcamos em uma evolução transformadora, quase uma revolução similar àquela que transformou a indústria no século XVIII, carregada pela força de máquinas a vapor.
Estamos falando da chamada Indústria 4.0, que traz os benefícios das tecnologias de ponta − destinadas a melhorar a produtividade, a qualidade, a segurança e, principalmente, a economia de recursos físicos, financeiros e ambientais − para o campo e para o setor sucroenergético.
Dos laboratórios de entidades parceiras e de nossos viveiros de mudas, por exemplo, são utilizadas as mais avançadas tecnologias para o desenvolvimento de pesquisas e para a produção de variedades de cana-de-açúcar resistentes a pragas e mais adaptadas a determinados tipos de solo ou de clima. O uso de agentes biológicos no combate a pragas também é outro dos benefícios que vêm das pesquisas de base tecnológica.
Mas, quando falamos de tecnologias 4.0, pensamos mesmo é em robótica, na inteligência artificial, Big Data, uso de algoritmos, IoT (ou Internet das Coisas), aprendizagem de máquina. A cada dia, vamos adotando mais e mais dessas soluções tecnológicas para melhorar nossos resultados, seja no campo, seja na usina.
Um dos principais exemplos do uso eficiente dessas tecnologias está na adoção de Torres de Controle da Logística da Cadeia CTT (corte, transbordo e transporte) por empresas do setor sucroenergético como a nossa. Na BP Bunge Bioenergia, temos o SmartLog, um hub de informações logísticas 4.0 que faz o monitoramento de aproximadamente 1.200 equipamentos agrícolas, intervindo e gerando dados para a tomada de decisão, em tempo real, nos processos de toda a cadeia CTT.
Um dos exemplos práticos do uso dessa tecnologia está justamente no momento da colheita, em que as colhedoras são equipadas com tecnologia embarcada (computadores de bordo, ou mesmo painéis integrados às máquinas mais modernas) conectada à nuvem por telefonia móvel ou, dependendo da localidade, conexão via satélite, que, por sua vez, é acessada pelo SmartLog.
A torre faz a gestão de informações necessárias à definição dos parâmetros da colheita a ser feita no local, como quantidade ideal de máquinas utilizadas, velocidade e tempo de uso de cada equipamento para atingimento de resultados. O mesmo tipo de tecnologia se aplica à estrutura de apoio para reabastecimento dos ativos, bem como a necessidade de tratores de transbordo e de caminhões rodotrem que escoam a cana-de-açúcar colhida para fora do campo até as usinas.
O sistema de gestão permite também o controle e registro das velocidades dos caminhões nos trajetos estabelecidos, reduzindo o número de infrações cometidas pelos condutores e ampliando a segurança na operação.
Sensores na entrada dos difusores das usinas, onde é descarregada a cana-de-açúcar recém-colhida, obtêm informações, por exemplo, sobre como está a quantidade de impurezas nas amostras, para que as colhedoras sejam reguladas e corrigidos eventuais problemas. Em campo, torres com câmeras de alta definição permitem que os operadores do SmartLog tenham acesso a imagens de todo o processo de colheita, assim como de descarregamento na usina. Cada profissional do SmartLog atua no controle de monitores com imagens em vídeo e com dados da operação.
Com esses recursos, e com uma comunicação eficiente, apesar das distâncias, é possível, em tempo real, ajustar o corte da cana-de-açúcar às variações de metas de produção que venham a ocorrer, mesmo num mesmo dia. Esse tipo de tecnologia permite otimizar o uso das colhedoras e dos caminhões de transporte, gerando, inclusive, economia de diesel, o que redunda em menor impacto ambiental na operação.
Em campo, além das máquinas conectadas, há coordenadores de colheita que também ficam conectados com smartphones ou tablets, recebendo, em tempo real, dados e orientações sobre as metas e as entregas necessárias em cada operação de colheita diária, de acordo com os planos de produção e com o que efetivamente está sendo realizado nas usinas, para que não haja descompasso entre o que se colhe e o que será produzido logo a seguir.
Temos ampliado esse sistema integrado de gestão para outras áreas da indústria canavieira, como o plantio e os tratos do canavial. O SmartLog é também responsável pela identificação, via imagens de satélite, de focos de incêndio nas plantações de cana-de-açúcar, para o acionamento mais ágil e eficiente das Brigadas de Combate a Incêndio.
Vale lembrar também que, hoje, temos sistemas dedicados e específicos de otimização de rotas de tráfego para veículos. O sistema trata as informações de maneira geográfica, ajudando, por exemplo, na operação de ambulâncias e caminhões-pipa no combate e prevenção a incêndios, ou no transporte da cana. O aplicativo indica as melhores rotas a serem seguidas ou o melhor posicionamento dos veículos para atenderem a ocorrências o mais rápido possível em todas as áreas sob sua responsabilidade.
Os drones são outro implemento utilizado na companhia e que vêm ganhando cada vez mais aplicações na manutenção dos canaviais. Os equipamentos são usados para capturar imagens que identificam falhas no plantio, por exemplo. Antes, esse trabalho era feito por pessoas que identificavam e recolhiam amostras da área plantada.
Além disso, drones e os chamados vants (veículos aéreos não tripulados) são usados para realizar o levantamento planialtimétrico dos campos com mapeamento dos terrenos, tarefa destinada à futura terraplanagem de áreas, o que, antigamente, era feito manualmente por topógrafos; para identificar e pulverizar localmente áreas atacadas por ervas daninhas; para mapear linhas de cana e programar as colhedoras com piloto automático durante a colheita; para o monitoramento geral da lavoura; e para a distribuição de larvas da vespa cotesia flavipes no canavial no combate à praga da broca-da-cana, entre outras funções.
A tecnologia é um ativo praticamente vivo, que evolui a cada instante. Nesse processo de evolução dos sistemas de gestão do campo, seguimos em frente, sabendo que temos muito a fazer, a aprender, a corrigir e a agregar nessa trajetória. Também sabemos que essa evolução depende de fatores importantes, como o pleno acesso à conectividade de qualidade no campo, à redução de custos das tecnologias e à disponibilidade de mão de obra qualificada para operar essas transformações. Ao final, temos de estar cientes de que há muitos desafios e trabalho sério a serem feitos e precisamos formar parcerias firmes e comprometidas com outros setores para que consigamos aproveitar cada vez mais todo o valor e as potencialidades das tecnologias 4.0 para o nosso setor sucroenergético.