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Osmar Figueiredo Filho

Diretor Comercial do CTC

Op-AA-32

A necessária ruptura tecnológica

Entre 1970 e 1980, o setor sucroalcooleiro obteve expressivo desenvolvimento tecnológico, alcançando ganhos significativos de produtividade e lucratividade. Esses avanços permitiram que o País chegasse à liderança na produção de açúcar e etanol, despertando o interesse de investidores de todo o mundo. Contudo, por diversas razões,  nos últimos 20 anos, o setor estacionou na chamada melhoria contínua, que se mantém em torno de 1,5 a 2% ao ano.

O fato de o índice de crescimento nos últimos 3-4 anos ter permanecido abaixo dos anteriores, além de agravar o problema, confirma um diagnóstico preocupante: o
País está perdendo a liderança conquistada pela experiência e criatividade no setor. Essa conclusão é reforçada ao se verificar que, na última década, as culturas da beterraba e milho, utilizadas para produzir açúcar e álcool, superaram a cana-de-açúcar em produtividade, com o emprego de tecnologias de ponta.

No plantio dessas culturas, por exemplo, foram usadas variedades transgênicas destinadas à industrialização, com expressivos ganhos de produtividade. O que fazer para continuar sendo o país mais competitivo no setor sucroalcooleiro?

Para enfrentar o que considero nosso maior desafio, é preciso provocar uma ruptura, uma quebra de paradigmas tecnológicos, que nos leve a uma inovação necessária, de modo a extrapolar o reduzido crescimento uniforme. Essa é a única maneira de garantir um salto tecnológico que deixará o Brasil em condições de competir com os produtores das culturas concorrentes que estão em fase de ascensão.

Quando o CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, desenvolve uma variedade de cana mais produtiva, adaptada a um ambiente específico, significa que essa tecnologia atende ao conceito de inovação exigido pelo mercado ou pelo ambiente e terá como consequência o desenvolvimento econômico. Como se sabe, inovação tecnológica significa a introdução ou a modificação de produto ou processo no setor produtivo, com consequente comercialização.

E é isso que chamamos de ruptura tecnológica, indispensável para retomar a competitividade no cenário internacional. No momento, a nossa meta consiste na utilização de ferramentas da biotecnologia na área agrícola e na produção de álcool de segunda geração para atender à indústria.

Enxergamos nisso a única forma de romper o crescimento anual de 1,5 a 2%, passando a ganhos acima de 3 a 4%, e podendo, eventualmente, chegar a 20%. A intenção é retomar a liderança para produzir açúcar, álcool e eletricidade, com menores custos e sem aumentar a quantidade de área plantada. Mas, para viabilizar a sustentabilidade econômica desse projeto, o CTC precisa de uma quantidade significativa de recursos.

De início, decidimos que tudo o que o CTC, transformado em sociedade anônima desde o ano passado, obtiver em termos de incremento da produtividade e produção será dividido com os clientes, que usarão as novas tecnologias.

E tudo o que os clientes obtiverem de ganho de produtividade será dividido com o CTC, que transferiu a tecnologia e ficará com uma parcela do ganho. Ao entregar uma variedade de cana mais produtiva ao cliente, por exemplo, dividimos com ele o ganho obtido no campo.

Essa melhoria tecnológica repercutirá nos índices de produtividade de todo o setor, e o País como um todo também sairá ganhando. Pode ser que o consumidor não perceba isso no primeiro momento, mas, a partir do instante em que ele tiver mais produtos a um menor custo, constatará que essa transgenia, colocada na variedade diferenciada, proporciona um efeito econômico positivo.

Da mesma forma, quando se trata de melhor aproveitamento da biomassa, utilizando o bagaço de cana e a palha que está  no campo, empregamos parte de cada um e transformamos em etanol de segunda geração. Isso quer dizer que, com a mesma quantidade de área e biomassa produzida e sem aumentar o plantio, é possível obter mais etanol, com menor custo de produção. Atualmente, isso acontece apenas com o aumento da quantidade de cana plantada – o que é uma relação quase direta.

Vamos também buscar financiamento de fundos de investimento, do Bndes, fazer parcerias e jointventures. Com essa reestruturação do CTC, poderemos investir mais em pesquisas, trazendo pessoal qualificado do Brasil e do exterior, além de investir na reciclagem dos pesquisadores atuais.

O cliente percebe o ganho proporcionado pela tecnologia e remete uma parcela dos lucros para o CTC, permitindo que a empresa continue sua incessante busca por novas tecnologias que gerem outras rupturas, como no caso das variedades transgênicas e etanol de segunda geração.

Quando se fala em variedades transgênicas, temos em vista diversos  alvos: variedades com mais fibra, com mais açúcar, resistentes à seca e às pragas, tudo dependendo do gene que se coloca nela. A produção de variedades transgênicas permite abrir um leque com diversas utilidades. Vamos mostrar aos clientes de todos os estados do País o quanto eles estão ganhando com a tecnologia, por meio de experimentos que demonstrem claramente os benefícios proporcionados por essas variedades, além de oferecer mudas para o plantio das mesmas.

Como estratégia inicial, o objetivo é trabalhar em cada uma das regiões do País, com variedades regionalizadas, desenvolvidas pelos polos de melhoramento genético da cana-de-açúcar do CTC. De acordo com nosso cronograma, para essa safra (2012/2013), estará definida a estrutura de ação para trabalhos de campo de forma regionalizada no Brasil. Equipes do CTC atuarão em estados do Nordeste, no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Espírito Santo.

A área comercial terá que atuar regionalmente com material de demonstração específico, levando as mais diversas variedades com as características  mais importantes para cada realidade. Já na produção do etanol, entre outras ações, está em estudo o desenvolvimento de uma planta de demonstração para a produção de etanol celulósico, como parte do processo de venda dessa tecnologia.

O grande desafio da área comercial é relacionar tudo o que se desenvolve em termos de pesquisa com o ganho econômico para o cliente: quanto mais ele ganhar, mais poderá partilhar esse ganho com o CTC. Às vezes, por exemplo, uma inovação não oferece tanto retorno quanto se esperava e vice-versa, por isso temos sempre que andar juntos. Agora, como sociedade anônima, vamos incrementar esse conceito de ganha/ganha, utilizado desde os nossos primórdios.

Isto é, sempre desenvolvemos tecnologia e sempre a transferimos, contudo, quando o CTC era uma organização sem fins lucrativos, a transferência era feita apenas para os nossos filiados, não sendo possível atuar em todo o Brasil. Tínhamos 154 clientes (os atuais acionistas do CTC) distribuídos no País, mas, hoje, o nosso grande desafio é colocar as variedades CTC em todas as 430 unidades de produção existentes no Brasil.

Nesse novo e desafiador cenário, a área comercial será um instrumento para alcançar mais rapidamente esse objetivo, diminuindo os custos e aumentando a produtividade e os lucros. A ideia da regionalização é consequência das características de cada uma das regiões que exigem tecnologia diferenciada para poder reduzir os custos de produção. Também orientamos os produtores sobre as melhores técnicas de manejo para cada ambiente de produção, permitindo que eles aproveitem 100% do potencial de cada variedade.

Tudo isso é possível porque o CTC funciona como uma equipe entrosada, com total interação dos seus diversos departamentos e sem as amarras da burocracia. Um formato que permite unir o desenvolvimento com a criatividade, gerando tecnologias que fazem a diferença, apoiadas em sólidas estruturas administrativa e econômica. Essa é a única forma de retomarmos a competitividade no cenário internacional.