Diretor da Job Economia e Planejamento
Op-AA-04
A euforia que percebemos atualmente quanto às boas perspectivas para a agroindústria canavieira e, particularmente, para as exportações de álcool, são perfeitamente justificáveis, tanto sob a ótica econômica, como estratégica. É importante ressaltar que esta condição não foi obra do acaso, mas foi construída, prevista e anunciada, ao longo dos últimos trinta anos no Brasil.
Inicialmente, deve-se destacar que houve uma extraordinária redução dos custos de produção ao longo destas três décadas. Quando foi lançada a primeira fase do Programa Brasileiro de Álcool, Proálcool I, em meados da década de 70, após o primeiro choque do petróleo, o custo de produção de longo prazo do álcool anidro era da ordem de US$ 90, por barril.
Atualmente, é de US$ 37. A redução de custos verificada foi de 58%. Estes valores estão atualizados e corrigidos pelo IGP-DI, da FGV. E por que isso aconteceu? Graças a um trabalho de longo prazo de pesquisa e desenvolvimento feito pelo Governo e, principalmente, pelos produtores. Neste particular, cabe destacar o Centro de Tecnologia da Copersucar, CTC, hoje Centro de Tecnologia Canavieira, que vem investindo, desde a criação do Proálcool I, em tecnologia e gestão operacional da agroindústria como um todo.
Além disso, o antigo Planalsucar, hoje representado por universidades federais, deu contribuições relevantes para melhoria de resultados na lavoura. Este investimento em P&D foi reforçado pelas desvalorizações cambiais de 1999 e 2002, pelo forte processo de reestruturação administrativa e pela profissionalização ocorridos, estes dois últimos, a partir de 1998, fruto da desregula-mentação do setor e de preços exageradamente baixos, no final da década de 90.
No caso do petróleo, a situação de excesso de oferta e preços baixos, verificados na década de 80 e início dos anos 90, foi sendo gradativamente eliminada pela não realização de investimentos em prospecção e refino e pelo crescimento da demanda, principalmente, nos EUA e Ásia. A partir de 1999, a situação de oferta e demanda mundiais de petróleo começou a mudar e, desde 2004, o mercado mundial de petróleo vem operando a plena capacidade.
Em 2005, os preços têm se mantido em torno US$ 50, por barril, e novos investimentos devem e estão sendo feitos para que oferta e demanda se equilibrem no médio e longo prazo. É importante ressaltar que a volatilidade dos preços desde o ano de 2004 aumentou bastante em função deste estrangulamento da capacidade de produção e do elevado risco político, associado aos principais produtores de petróleo, principalmente aqueles localizados no Oriente Médio.
Ou seja, o produto petróleo vem representando alto risco econômico-financeiro para os participantes deste mercado e, do ponto de vista estratégico, a diversificação de fontes competitivas de suprimentos é muito conveniente. Em resumo, podemos esperar que petróleo barato - preços abaixo de US$ 30 por barril, não deve ocorrer com freqüência, daqui para frente. Petróleo na faixa de US$ 30-40 por barril pode acontecer no longo prazo, quando os novos investimentos estiverem maduros, se as reservas mundiais conhecidas não estiverem comprometidas.
Petróleo em torno de US$ 35 por barril já é suficiente para viabilizar o álcool anidro em mistura com gasolina. Além disso, não podemos esquecer que o protocolo de Kyoto está em vigor e que o etanol é um combustível limpo, que gera direitos de crédito de carbono. Do lado da demanda podemos esperar que países importadores de petróleo e importadores de matérias primas e alimentos, como Japão, Coréia do Sul e China venham a importar e usar álcool anidro na gasolina, no médio prazo.
Países e regiões como EUA, UE, Índia, Tailândia, Austrália, Colômbia, que têm condições de produzir seu próprio álcool, devem importar em complemento a suas produções domésticas. Finalizando nossas considerações, podemos dizer que o potencial do mercado mundial de álcool combustível, de acordo com a New York Board of Trade, NYBOT, é de 60 bilhões de litros, no final desta década.
Deste total, aproximadamente 85% serão consumidos no Brasil, EUA e UE., seguramente países auto-suficientes e exportadores, com exceção da UE, que poderá importar parte de suas necessidades. Neste cenário, se considerarmos um mercado internacional de álcool da ordem de 12-14 bilhões de litros para 2010, certamente veremos o Brasil com uma exportação anual de 6-7 bilhões de litros, assumindo algo em torno de cinqüenta por cento do mercado mundial.