As chamadas plantas Full Flex, que utilizam como matéria-prima o milho e a cana-de-açúcar, podem ser a revolução logística e energética para a crescente demanda de produção de etanol no Brasil. São Paulo, maior produtor e consumidor de etanol no Brasil, está diante de uma revolução silenciosa na produção desse biocombustível.
Com a crescente demanda por etanol e a necessidade de melhorar a eficiência energética das usinas, o estado se encontra em uma encruzilhada: manter o modelo convencional de produção de etanol a partir da cana-de-açúcar ou investir nas plantas Full Flex, capazes de processar tanto cana quanto milho. Essa decisão não se limita a questões tecnológicas, mas envolve uma análise cuidadosa de infraestrutura, custos, demanda de mercado e logística. A mudança para o etanol de milho pode representar um avanço estratégico significativo, além de otimizar os custos operacionais e ampliar a competitividade do setor.
O estado possui uma infraestrutura privilegiada para a produção e comercialização de etanol. São Paulo é um estado estratégico por sua proximidade com os maiores centros produtores de milho e sorgo do Brasil e, também, pela excelente estrutura portuária, o que facilita a exportação das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Essa logística eficiente torna a produção de etanol de milho uma opção viável, compensando os custos de transporte e garantindo acesso aos mercados internos e externos. A produção de etanol de milho é uma tendência crescente no Brasil, e São Paulo, com sua infraestrutura consolidada, está bem-posicionado para realizar essa transformação. Ao adotar plantas Full Flex, as unidades de etanol no estado ganham a flexibilidade necessária para processar tanto a cana quanto o milho, aproveitando a proximidade com os centros de produção do grão e com a rede de distribuição.
A introdução de plantas Full Flex no estado representa uma mudança estrutural importante para a indústria de etanol. Diferentemente das usinas convencionais, que processam apenas cana-de-açúcar, as plantas Full Flex possuem a capacidade de processar milho e sorgo, além da cana. Essa flexibilidade permite uma produção mais eficiente e adaptável às oscilações do mercado, com a possibilidade de produzir etanol a partir de diferentes matérias-primas, dependendo da disponibilidade e do custo das mesmas.
Além da flexibilidade de matéria-prima, as plantas Full Flex se destacam pela inovação tecnológica, especialmente no que diz respeito à eficiência energética. A adoção de tecnologias avançadas de destilação a vácuo, como o uso de vapores reciclados (V1, V2 e V3), otimiza o balanço térmico e reduz os custos operacionais. A integração térmica entre os sistemas das plantas melhora a eficiência no uso de biomassa, permitindo que o processo de destilação utilize energia de forma mais eficaz.

Essa eficiência energética é um dos principais atrativos das plantas Full Flex, pois reduz a necessidade de aquisição de biomassa externa, como o cavaco, que representa uma parte significativa dos custos operacionais nas usinas convencionais. O uso contínuo de biomassa de cana durante quase 340 dias ao ano garante a autossuficiência energética das plantas, o que, por sua vez, diminui a dependência de fontes externas de combustível e torna a operação mais sustentável e economicamente viável.
Não podemos esquecer, entretanto, que toda a estrutura administrativa já consolidada contribui para a redução significativa do CAPEX, enquanto a produção de etanol de milho no Brasil enfrenta desafios operacionais, especialmente no que diz respeito à adaptação das plantas existentes e ao retorno sobre o investimento (ROI) das novas tecnologias.
No entanto, com o avanço das inovações tecnológicas e a consolidação de modelos de destilação a vácuo e compressão térmica de vapor, esses desafios podem ser superados. A adoção das plantas Full Flex permite que usinas canavieiras já existentes se adaptem a essa nova demanda, aproveitando a infraestrutura já construída para a produção de etanol a partir da cana.
Um exemplo claro da viabilidade dessa adaptação está na comparação entre uma planta convencional de moagem de 3,5 milhões de toneladas de cana e uma planta Full Flex que processaria 600 mil toneladas de milho. A transição entre esses dois modelos de produção não é complexa, pois as tecnologias necessárias para a adaptação já estão amplamente disponíveis no Brasil.
A conversão de uma usina para o modelo Full Flex, além de ser economicamente viável, é uma estratégia inteligente para otimizar o uso de recursos e reduzir os custos de operação. Outro aspecto importante da transição é a redução de custos operacionais. Em uma planta convencional, a compra de biomassa e os custos operacionais representam cerca de 20% do custo total de produção.
Com o uso da biomassa de cana durante a maior parte do ano, as plantas Full Flex podem reduzir significativamente a necessidade de adquirir biomassa externa, como o cavaco. Além disso, a adaptação para a produção de etanol de milho permite o aproveitamento dos coprodutos, como o DDG (Dried Distillers Grains) e WDG (Wet Distillers Grains), amplamente utilizados na alimentação animal.
A flexibilidade proporcionada também permite que os produtores ajustem a produção de etanol de acordo com a demanda do mercado, o que contribui para a competitividade da indústria paulista. Ao diversificar as fontes de matéria-prima, as usinas têm mais controle sobre os custos e podem adaptar sua produção conforme as condições do mercado, seja em termos de preço do milho ou da cana, ou ainda da demanda por etanol anidro ou hidratado.
A implementação destas plantas em São Paulo pode ser uma resposta às mudanças do mercado de etanol e, também, uma oportunidade para o setor canavieiro paulista inovar e se tornar mais competitivo em um cenário global. A adoção de novas tecnologias, aliada à flexibilidade nas matérias-primas, permitirá que as usinas do estado se adaptem rapidamente às mudanças no mercado de etanol, mantendo a competitividade e a sustentabilidade da indústria.
Concluo meu raciocínio pensando que o despertar de São Paulo, reduzindo seu conservadorismo e criando uma visão com competência industrial, levará a mudanças fortes no balanço Brasil em produção do etanol de milho, assim como uma revolução na produção de proteína animal no estado. Com certeza, a pecuária, a avicultura e a suinocultura paulista serão gratas.