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Dib Nunes Junior

CEO do Grupo IDEA

OpAA86

Variedades milagrosas não existem
Para começar, é bom ressaltar que dificilmente extraímos o máximo das variedades de cana, porém podemos obter muito mais delas, desde que saibamos manejar os fatores que afetam as suas produtividades. Então, vem a pergunta: o que fazer para extrair o máximo do potencial das variedades de cana-de-açúcar? 
 
Para responder a esta questão, deve-se lembrar que a variedade de cana é apenas um dos componentes do sistema produtivo e que é muito comum não apresentar o mesmo desempenho observado nos experimentos conduzidos pelas instituições de pesquisas. 
 
São diversos os motivos que afetam esse comportamento. Em primeiro lugar, destaque-se que as variedades são seres vivos e que não duram para sempre. De acordo com os dados históricos do setor, elas têm prazo de validade em média de 8 a 10 anos de uso. Depois desse tempo, é como se ocorresse uma incompatibilidade com o ambiente em que ela é cultivada (solo, clima, microrganismos do solo, doenças diversas, nematoides, mecanização etc.). 

Quando submetidas a condições mais agressivas de produção e a uma expansão por diferentes ambientes de produção, começam a se acentuar seus “defeitos” e apresentar visível declínio. Isto já aconteceu com importantes variedades como a NA56-79, SP70-1143, RB72 454, SP71-6163, SP71-1406, RB85 5156, RB86 7515 e, no momento, está acontecendo com a RB86 6928. 

Apesar da frequente renovação varietal, se nota que tanto as produtividades agrícolas como o teor médio de sacarose das variedades não têm apresentado uma melhoria substancial nos últimos anos. As médias agrícolas no Centro-sul, onde se cultiva 90% da cana do Brasil, estão girando ao redor de 75 toneladas por hectare, e o teor de sacarose raramente ultrapassa a média de 136 Kg de ATR por tonelada de cana, valores esses que estão estagnados e são totalmente dependentes das condições climáticas.

É importante ressaltar que são muitos os fatores interferentes que contribuíram para derrubar as médias que, há 15 anos, eram bem melhores. Dentre os principais fatores que afetam o desempenho das variedades, está a colheita mecanizada em lavouras não sistematizadas, sulcação sem paralelismo e muito declivosas, onde o arranquio e abalo de touceiras na linha de cana aumentam as falhas e reduzem a população de colmos. Da mesma forma, o plantio mecanizado apressado e sem qualidade deixa muitas falhas no stand dos canaviais. 

Cada 1% de falhas correspondem a uma perda de 0,8t/ha de cana em um canavial de 85t/ha. São também supressores de produtividade das variedades os solos mal preparados, sem a devida correção em profundidade, tratos culturais insuficientes ou aplicados longe das exigências mínimas da cultura.

Tudo isso agravado por: outras operações agrícolas durante os tratos culturais; altas infestações de plantas daninhas que roubam, no mínimo, 5% da produtividade na grande maioria dos produtores; pragas e infecções por doenças foliares e o ataque oculto de nematoides às raízes que reduzem a capacidade de absorção de água e nutrientes, além dos canaviais esgotados com muitos cortes.

O plantio de variedades em ambientes de produção incompatíveis com as exigências varietais e a falta de planejamento para alocação correta de variedades nos blocos de colheita podem derrubar as produtividades. Por outro lado, aqueles cultivares colhidos fora da sua melhor época perdem produtividade e ATR. Ainda podem sofrer interferência de florescimento, isoporização, tombamento excessivo e doenças como a murcha ou a ferrugem alaranjada e causar perdas significativas de produtividade. 

Muitas empresas, ao escolher uma variedade para plantio, não levam em conta importantes características varietais como: velocidade de crescimento e sua relação com a época em que o bloco será colhido. No Centro-sul do Brasil, variedades de crescimento lento não devem ser colhidas a partir da segunda quinzena de setembro. Frequentemente, muitas dessas características são negligenciadas ou esquecidas pelo gestor que planeja a formação do canavial. 

Ao planejar o plantio, um dos segredos do sucesso na escolha das variedades está relacionado com as condições em que será realizada a colheita. Hoje em dia, o que se vê são gestores que, ao escolher a variedade para plantio, se utilizam exclusivamente da tabelinha da Exigência em Ambientes de Produção versus Período Indicado à Melhor Maturação. Essas informações são importantíssimas, porém, para maximizar os resultados, é preciso ir mais além.

Um problema que mascara as informações sobre a performance das variedades são as avaliações muito genéricas e subjetivas e, o pior, na maioria das vezes, sem precisão, pois são médias de médias, uma verdadeira mistura de cachorros com porcos, ou seja, uma mistura de tudo: ambientes de produção, estágios de corte, áreas com e sem resíduos, áreas com e sem irrigação, áreas com alto índice de falhas, áreas com pragas etc. Quando não há histórico dos problemas e virtudes das áreas e nem do potencial de produtividade desses ambientes, esses erros se sucedem. Já observamos que nem mesmo os tratos culturais aplicados são considerados na análise e passam por cima de inúmeros outros fatores de produção. 
 
Por exemplo: uma variedade que floresce pode apresentar perdas da ordem de 30% em peso rapidamente quando colhida a partir de agosto. Como evitar que isso aconteça? Ao se escolher uma variedade com possibilidades de florescimento, basta analisar se esta característica é compatível com a data programada de colheita do respectivo bloco.

Uma rigorosa avaliação das performances das variedades precisa ser realizada frequentemente, considerando a TCH, ATR, TAH e as suas Margens de Contribuição.

Enfim, tomem muito cuidado com as comparações que já vêm prontas e com as médias das médias. Montem seus próprios sistemas de avaliação, com o máximo rigor possível, porque, sem boas informações, podemos estar alavancando a expansão de uma variedade ruim e perdendo preciosas informações de outras bem mais lucrativas. 

Hoje, muito se fala em práticas regenerativas dos ambientes de produção, uso de bioinsumos, hormônios, aminoácidos, produtos estimulantes de metabolismo, micronutrientes, etc. O uso de matéria orgânica e de resíduos industriais e o aumento do uso de corretivos de solo podem contribuir para melhorar as performances das variedades. Tudo isso, por enquanto, está sendo utilizado em suplementação ao tradicional NPK mais corretivos, em benefício das variedades.  

Nenhuma variedade vai produzir bem se estiver pisoteada, falhada, sem proteção contra pragas, doenças e plantas daninhas, sem nutrição adequada, mal alocada e colhida em época errada. Converse com a cana, pergunte, olhando para ela, o que está precisando ou o que está faltando e corra para fornecer. E depois de tudo disso, caro leitor, me conte o que foi que você descobriu?

Como se vê, as variedades sozinhas não fazem milagres, é preciso lhes dar todas as condições ideais de desenvolvimento para se extrair o máximo de suas potencialidades.