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Maurílio Biagi Filho

Conselheiro da Bioenergética Aroeira

Op-AA-30

Passado, presente e futuro do etanol

Na inauguração da Usina São José, o Ministro Lobão, falando sobre o Proálcool, descreveu as maravilhas que o etanol, como programa, trouxe e traz para o País e hoje se dispõe a atender a todos os países do mundo. Lembrei-me, naquele momento, de um trabalho que foi entregue ao então Presidente Geisel chamado “Fotossíntese como Fonte Energética”.

Ao contrário do que se pensa, o Proálcool foi um programa que nasceu do pessoal do petróleo e não da cana. Ele começou de um movimento que surgiu em 1973, através da Associgás – a Associação das Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo, que, na época, tinha o Dr. Lamartine Navarro como vice-presidente.

Mais precisamente, foi o seguinte: Preocupado em preservar as principais metas do 2o Plano Nacional de Desenvolvimento, conter a inflação, manter o crescimento acelerado e conservar o equilíbrio do balanço de pagamentos, o general Ernesto Geisel, ainda na condição de futuro presidente da República, solicitou ao então diretor comercial da Petrobrás e futuro ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, que consultasse o setor privado sobre a questão.

Ueki entrou em contato com o Dr. Lamartine, solicitando que estudasse a utilização de fontes não convencionais de energia para fornecer subsídios ao novo governo. A Associgás se transformou no fórum de debates sobre a crise do petróleo, sob a coordenação do Dr. Lamartine, que contava com a colaboração do engenheiro Cícero Junqueira Franco, grande especialista em tecnologia de produção de álcool, de alguns acadêmicos e com os empresários Maurílio Biagi – meu pai –, Orlando Ometto, Renato Barbosa, das Usina da Barra, Nova América, Santa Elisa e da Zanini.

A conclusão do grupo resultou no documento intitulado “Fotossíntese como fonte de energia”, entregue ao Conselho Nacional de Petróleo em março de 1974, que se tornaria a semente do Programa Nacional do Álcool - Proálcool. Nós temos um passado da cana, o Brasil foi colonizado com cana, tem todas as mazelas da cana, os senhores de engenho, os usineiros, depois veio a época dos IPO (abertura de ações do mercado de capitais).

Agora, o que nos importa é saber qual é o presente e o futuro da cana. O presente da cana é uma fase de transição, é um modelo que se esgotou, em 2008. Estamos vivendo, agora, o terceiro período, que é a entrada em cena dos novos players, representado, por exemplo, por empreiteiras como a Odebrecht. Estão presentes neste fórum, especificamente sentados nesta mesa de debate, 300 milhões de toneladas de cana, mais da metade da cana brasileira. Vejam a importância que este fórum, como evento, alcançou.

Mas não está sentada aqui a Presidenta Dilma. E isso acontece porque, até agora, não conseguimos desenvolver um bom relacionamento com o Governo Federal. Precisamos pensar sobre isso. Política é relacionamento, política é uma coisa um pouco diferente do que nós, produtores, sabemos fazer. Nós sabemos produzir, e bem. Mas não sabemos fazer política.

Está provado aqui. Com o governo do estado de São Paulo, as coisas têm se conduzido de forma diferente. Dias atrás, estava no Palácio dos Bandeirantes, e o Governador passou e me chamou, perguntou-me como estavam as coisas. Eu falei: “Governador, está acontecendo isso, isso e isso”, e ele pegou o telefone na hora, ligou para o Marcos Jank, presidente da Unica e resolveu o assunto na hora, simples quanto isso.

O Presidente Lula foi o máximo. Ressalta-se que o barco da cana interessava para ele. Ele tinha um programa que, agora, é capaz de a gente conseguir realizar, de integrar as Américas, desde o México, com cana. Esse era o sonho dele. Com exceção do Chile, todos os outros países têm cana. Ele tentou, com empenho, fazer isso.

Todo governo precisa trabalhar suas prioridades. Penso que não seja o momento para se lançar o trem-bala. Mais adequado seria lançar 100 novas destilarias de etanol, ou dar condições para que isso pudesse ser feito por nós. Está começando a haver esse movimento de repugnação pela corrupção. A sociedade brasileira já não admite mais que isso continue existindo.

As coisas ficavam embaixo do tapete, mas agora não ficam mais. Precisamos estar mais próximos para sugerir. Para ajudar. Precisamos saber o que o Governo Federal pensa a nosso respeito, sabemos apenas pelos jornais. Precisamos conquistar esse espaço.

Agora, esse futuro é a fase das petroleiras. Estamos vivendo um momento excelente do setor. Não há crise alguma. Temos preços excelentes, todo mundo está ganhando dinheiro, o que, então, está nos segurando para que avançemos mais? Por que todo mundo não está investindo? Porque nós não conseguimos enxergar longe, tanto faz o preço do petróleo estar a US$ 30/barril como a US$ 150, que o preço da gasolina será o mesmo. Se for anualizado, o lucro da Petrobras, neste semestre, daria para comprar 50 usinas.

Com o lucro da Exxon de quatro anos atrás, daria para comprar o parque industrial brasileiro inteirinho. Nós estamos falando de um negócio pobre que se chama etanol, quando você compara com o rico negócio que chama petróleo. É outro mundo. Nós precisamos pensar nisso. A Cosan comprou a Esso; eles agora estão vendo que existem dois pesos e uma medida. Porque é muito diferente a rentabilidade.

O Grupo Odebrecht está vendo agora o que é a rentabilidade do setor do etanol e o que é a rentabilidade do resto do grupo, que mantém esse setor. Então, nós precisamos fazer uma análise se essa é a ponderação ou se estou sendo exagerado. Acho que precisamos, agora, de um senso de realismo para dar esse salto.

Qual é o senso de realismo? Eu até brinquei com o William, Editor da revista Opiniões, outro dia, sobre a minha opinião a respeito desse assunto. Escrevi um artigo para a revista sobre o que penso sobre isso, está lá. Leia esse artigo na revista (ou no site www.revistaopinioes.com.br).

Participei, desde o início, da construção desse programa do Proálcool como fonte energética, fiz peregrinações por esse Brasil inteiro junto com meu irmão Luiz Biagi, que foi um pioneiro, juntamente com o Lamartine Navarro, desse programa, e participei de reuniões como as que estamos fazendo com pecuaristas e dizendo “gente, isso aqui é fantástico, gente, isso aqui é ótimo para o Brasil, gente, isso aqui é o combustível verde e amarelo”.

A Petrobras produzia muito pouco petróleo, e a primeira grande revolução que o programa trouxe foi fazer a Petrobras aumentar, e muito, a produção de óleo. Esse foi o primeiro efeito positivo do Programa Nacional do Álcool, muito pouca gente sabe. Então, um erro nosso foi sempre dizer que nós competíamos com o petróleo. Nós somos aditivo de um dos subprodutos do petróleo, que se chama gasolina. Somos muito importantes.

Nós podemos ser 10% do aditivo de toda a gasolina do mundo. O único país que tem e pode manter esse modelo chama-se Brasil. Por isso é que nós precisamos ir devagar, apresentar-nos devagar e fazer Brasília entender.

Sempre brinquei dizendo que a gente dá mais importância para Washington do que para Brasília. Temos, hoje, um déficit de 10 bilhões de litros de etanol. Temos 3 bilhões de litros por ano de aumento de consumo. Nós podemos trabalhar muito, precisamos de muito capital, nós precisamos de 200 novos greenfields para fazer isso voltar a ter a produção necessária.

Por outro lado, precisamos pensar um pouco que todo esse programa foi financiado pelo açúcar. Sem o açúcar, nós não estaríamos aqui hoje. Quando montamos as 170 destilarias por ocasião do Proálcool, eram apenas destilarias. Depois de alguns anos, todas elas estavam produzindo açúcar. As destilarias autônomas não se mantinham se não tivesse o açúcar para dar garantia. E isso continua mais ou menos válido até hoje.

O atual Ministro da Agricultura confessou que não conhece absolutamente nada de agricultura. Então, que se pare com essas nomeações políticas. Diferentemente, age nosso governador, que faz nomeação técnica, que vai buscar alguém que é do ramo, que conhece. São essas reflexões que eu queria deixar aqui para nós todos, para que possamos pensar um pouco por que o Presidente Lula fez uso da cana para mostrar o Brasil, como uma coisa importante que nós tínhamos.

Foi a um monte de países e dizia que tinha um enorme orgulho de falar da cana, e ele não era usineiro. Esse era o negócio do país dele, era um negócio que era um grande referencial que o Brasil tinha.