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Luiz Francisco L. F. da Silva

Diretor da Benri - Biomass Energy Research Institute

Op-AA-46

Evolução da performance operacional
A performance operacional das unidades produtoras de açúcar e etanol está na pauta do dia, pois a crise que o setor atravessa, causada pelas mais diversas razões, faz com que a busca por eficiência seja a bola da vez. Não queremos dizer que a eficiência só esteja sendo buscada neste momento, mas sim constatar a importância de qualquer redução de custo, principalmente em tempos de crise.
 
Nesse cenário, a principal pergunta que temos que responder é onde devemos focar para obtermos o menor custo de produção. Uma das respostas para essa questão é desenvolver as práticas operacionais nos diversos setores da produção, com a finalidade de melhorar as eficiências. Só será possível a evolução das performances operacionais, se soubermos onde estamos e aonde podemos chegar, pois a nada levará, se colocarmos todos os nossos esforços em um setor que já está otimizado e deixar em segundo plano outro que necessite de melhorias.
 
O Benri desenvolveu uma metodologia exatamente para fazer essas medições, e, nesta oportunidade, gostaríamos de mostrar os índices de performance médios de várias unidades produtoras contidas no banco de dados Benri. As informações que seguem são baseadas na comparação da safra 2014/2015 com a safra 2015/2016 até o dia 31/08. Na safra 2015/2016, está ocorrendo uma variação significativa nos índices e nos níveis de precipitação, o que deve continuar até o final da safra em decorrência do fenômeno denominado El Niño.

As consequências para a safra mais chuvosa são muitas, desde o campo até a indústria, como listaremos. A produtividade agrícola está maior. Passou de 80,41 ton/ha na safra 2014/2015 para 90,68 ton/ha na atual safra, e esta tendência deve se confirmar até o final da safra. Por outro lado, a quantidade de ART - Açúcares Redutores Totais contidos na cana está menor, de 141,60 kg ART/ton de cana na safra 2014/2015 para 139,40 kg ART/ton de cana na safra 2015/2016. 

 
Até o momento, a produtividade maior, de 12,77%, está compensando a menor quantidade de açúcar contido na cana (1,55%). Esse balanço indica que, até o dia 31/08/2015, se produziram 11,02% a mais de açúcar por hectare de cana, passando de 11.386 kg ART/ha para 12.640 kg ART/ha na safra 2015/2016. Em consequência dessa maior produtividade e do regime hídrico atual previsto para a safra 2015/2016, é grande o risco de haver maior volume de cana bisada para a safra 2016/2017.
 
Também em decorrência de fatores climáticos, esta safra está com florescimento de cana acentuado. Outro ponto importante a ser considerado nesta safra é a sinergia da alta produtividade agrícola com a incidência de ventos, pois está tombando muita cana. Assim, as dificuldades operacionais da colheita estão maiores. 

Na busca por ganhos operacionais, não podemos deixar de citar a colheita mecanizada, que ainda tem ajustes operacionais relevantes a buscar, como variedades mais adequadas para o sistema, preparo de solo, treinamento de pessoal e evolução na tecnologia de equipamentos para a colheita e o plantio.

O somatório de todos esses fatores levaram a ganhos significativos na eficiência da colheita mecanizada, o que demonstra uma evolução nessa operação. Fatores que devem ser observados, que levam a ganhos de eficiência e diminuição de custos, que não podemos deixar de citar aqui, são: a redução do consumo de mudas no plantio mecanizado, o menor consumo de óleo diesel nas colhedeiras, a utilização de todos os recursos que o equipamento (colhedeira) fornece.

O que se observa nas auditorias é que nem todos estão sendo utilizados. Não esquecendo a busca de maior eficiência no rendimento de colhedeiras (tempo efetivo de operação), principalmente com o desenvolvimento do sistema de manutenção preventiva. Focando na operação industrial, o índice que mede a eficiência geral da indústria que utilizaremos é o RTC - Recuperado Total Corrigido. Essa eficiência industrial (RTC) subiu, em média, 0,38% nesta safra, passando de 92,16% na safra 2014/2015 para 92,51% na safra 2015/16. Resultado de melhorias nas etapas do processo de produção, como serão demonstrados mais à frente.

 
No mesmo período desta safra, está ocorrendo uma diferença de 6% entre os maiores RTC e os menores (veja os detalhes no quadro em destaque), variação significativa que diferencia as unidades de menores custos para as que passam por maiores dificuldades. O valor médio do aumento do RTC entre a safra passada e esta parece pequeno, mas, só como ilustração, realizamos a seguinte simulação: uma unidade que processa 3 milhões de toneladas de cana na safra com um mix de 50% (açúcar/etanol) e com perdas médias no processo de cerca de 10,40%. Considerando os valores médios do preço de açúcar R$ 55,00/saco e do etanol R$ 1,52/litro, os 0,38% correspondem a R$ 1.440.081,30 na safra, que é faturamento a mais com o mesmo custo. 
 
Entre as eficiências dos processos intermediários da indústria, a extração que teve o maior aumento percentual foi 0,20%. A média da safra 2014/2015 foi de 95,70% contra 95,89% na atual safra. O melhor desempenho da extração ocorreu pelas melhorias das condições da matéria-prima, que teve uma quantidade de impurezas minerais e vegetais menores (impureza mineral de 9,79 kg/ton em 2014/2015 foi para 8,9 kg/ton em 2015/2016, e a impureza vegetal foi de 81,1 kg/ton para 76,37 kg/ton em 2015/2016), mesmo em um ano mais chuvoso, reflexo de um cuidado maior nas operações. 
 
A fibra da cana também está mais baixa, de 12,76% na safra 2014/2015 passou para 12,52% na safra 2015/2016. Essa diminuição de 1,88% foi fundamental na melhoria da extração.  Melhorias também foram observadas nas perdas determinadas 0,20%, consideradas aqui as águas de lavagem de cana ou esteira, multijatos, águas residuais, além da torta de filtro. Também ocorreu uma diminuição das perdas indeterminadas, na ordem de 0,13%, justificada pela diminuição do mix de produção para açúcar que caiu de 53,36% na safra 2014/2015 para 49,90% na atual safra, queda de 6,48%. Essa operação diminui perdas por destruição de açúcar no processo de fabricação.
 
Avaliando o risco do volume de chuvas acima do normal, na indústria, principalmente no início desta safra, verificaram-se casos em que se perdeu toda a levedura na fermentação (devido ao excesso de paradas por um tempo longo, a levedura acaba sofrendo mais). Esse problema está quantificado na diminuição do rendimento da fermentação, que foi na ordem de 0,12%. Mesmo com toda a dificuldade enfrentada pelo setor nos últimos anos, essa análise evidencia uma evolução nas práticas operacionais dos diversos setores da produção, com ganhos significativos na eficiência das operações agrícolas e industriais, necessários para a retomada do crescimento e a lucratividade para o setor sucroenergético.