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Valmir Barbosa

Consultor Sênior da Datagro Alta Performance

OpAA66

Ferramentas de inteligência para a área agrícola
Ferramentas de inteligência é um tema aberto, sem limites tangíveis. E, nos dias de hoje, as mais diversas áreas das atividades humanas se misturam com grande facilidade. Interações e aplicações inimagináveis podem acontecer, particularmente na cadeia de produção sucroenergética, que parece melhor chamar de cadeia de negócios, que, pela sua extensão e diversidade, tem oferecido oportunidades também muito diversas.
 
Meu olhar sobre esse assunto é do ponto de vista de “o que fazer” e do “como fazer”, como os conceitos de eficácia e eficiência, que, seja qual for o nível de complexidade ou de simplicidade, precisam de ferramentas de inteligência para serem medidos e gerenciados. O processo de produção agrícola, desde a aquisição de terras até a entrega da cana na usina e logística reversa, tem uma complexidade que não pode ser subestimada.

Para assegurar a sustentabilidade, a perpetuação das empresas, fazendo uso racional dos recursos, que são limitados, é exigida elevada inteligência, com razoável nível de especialização em cada parte do processo, bem como são exigidas habilidades técnicas e humanas dos gestores para assegurar a integração positiva entre as partes do processo.

Diante das exigências desse cenário, ferramentas de inteligência potencializam a própria inteligência humana, proporcionando capacidade de realizar tarefas muito complexas em curto espaço de tempo. Essas ferramentas podem ser desde simples métodos de organização de dados até máquinas inteligentes, que interagem entre si fazendo predição e tratamento.

O sincronismo da rotação da moenda já não tem início na mesa alimentadora, mas sim em cada uma das colhedoras espalhadas pelo campo, e seu fluxo depende de eventos agrícolas ocorridos no ano passado. Ferramentas de inteligência podem nos permitir esse sincronismo.

Alguns casos de insucesso de empresas e gestores podem ter sido em consequência de subestimar a complexidade e da necessidade de ferramentas adequadas. No final dos anos 1990, havia diagnósticos do elevado grau de informalidade do setor, mesmo quando havia alto nível científico.

Os negócios e os processos eram sustentados pelas pessoas exercendo suas funções alinhavadas no dia a dia, tanto que a rotatividade de pessoal decorrente da abrupta expansão do setor nos anos 2000, seguido pela crise decorrente da frustração do mercado, resultou em uma depressão de técnicos e gestores. 
 
Simultaneamente, como é normal, ocorreram outras mudanças, mas essas teriam sido conduzidas com sucesso, caso não houvesse a tal depressão, para não dizer “vácuo”. O resultado foi a vexaminosa queda da produtividade dos canaviais nos anos 2010. Estamos agora trabalhando para consolidar uma fase de risorgimento.

Agora a realidade é diferente daquela anterior à crise, os stakeholders e as ferramentas são outras. Novas tecnologias associadas à novas ferramentas de inteligência podem levar o setor a patamares bem superiores de produtividade, de lucros e de sustentabilidade.

Porém quanto a algumas ferramentas básicas de inteligência analítica, como estatística experimental, engenharia simultânea e mapeamento de processos, é aconselhável que não fiquem esquecidas no “fundo da caixa de ferramentas”, mas sim que fiquem à mão, para uso de rotina.  Sobretudo porque existe hoje, no mercado, uma grande oferta de “hipóteses aparentemente verdadeiras”. Algumas aguardando validação e inserção, outras em uso no campo, sem ter sido suficientemente desenvolvidas.

Esse descompasso tende a frustrar expectativas, confundir diagnósticos e reduzir receitas. A receptividade à inovação tecnológica é uma postura inteligente, porém a inovação não é justificável por si só, mas sim pelo ganho que proporcionar em eficiência e em eficácia. Uma nova tecnologia tem de mostrar resultado e, para isso, existem ferramentas de inteligência estatística.

Caso contrário, pode haver perdas de oportunidades pelo desperdício de foco, pode haver introdução certa da tecnologia errada e introdução errada da tecnologia certa. Pode haver introdução de tecnologias inadequadas, com impactos percebidos no longo prazo. O processo de inovação tecnológica nas empresas deve acontecer com cautela, com embasamento em métodos científicos para validação e ajustes.

Ensaios de validação precisam respeitar os princípios da experimentação agrícola: repetibilidade, casualidade e controle local. Para desembaraçar essa complexidade, uma das primeiras ferramentas a serem utilizadas é o mapeamento dos processos. Em movimento, os processos não são lineares, tampouco unidirecionais, e aí aparecem as demandas por critérios, como ferramentas para tomadas de decisões. 

Certa vez, pelos anos 1990, assisti a uma aula do saudoso Dr. Artur Mendonça, sobre controle biológico. Disse ele, na ocasião, que “controle biológico não funciona com um método pronto, mas sim pela aplicação do conhecimento. Com conhecimento se faz o manejo. Quem procurasse um método pronto, iria se frustrar, pois o que havia era um pacote de conhecimento”.

Pensando nisso, interpretei esse conceito do conhecimento como uma “caixa de ferramenta”. Em agricultura, o conhecimento é essencial, pois processo e resultado ocorrem em momentos muito diferentes, distantes no tempo. Tanto que o conhecimento é que dá ao agricultor a referência para assertividade do processo, e, ao mesmo tempo, é o “saber como fazer” sem ter o resultado à vista.

O resultado virá tempos depois.  O agricultor acredita que, fazendo a coisa certa, na hora certa, terá Esperança E [g (X )] no resultado. O agricultor, seja qual for seu nível hierárquico na organização, que esperar o resultado imediato vai se frustrar, pois a atenção deve ser colocada na assertividade do processo, de boas práticas ao plantar e tratar, assim a produção virá.

O conhecimento é essencial para a percepção precoce de desvios e diagnósticos para correção. Frequentemente, diagnósticos precipitados ou equivocados têm levado a soluções ineficazes, a perdas de tempo, de investimento e de pessoas. Diagnósticos errados levam a soluções erradas e à continuidade das perdas. 
 
Atualmente, a complexidade das tarefas e suas interações faz necessário que se tenha arrojo para identificar e discernir oportunidades e cautela para capturar resultados positivos. Separar o joio do trigo. Isso só é possível com ferramentas de inteligência.  Isso é o que tenho visto na história recente.