Diretor executivo da JOB Economia e Planejamento
Op-AA-25
Como temos ressaltado nos últimos anos, o nosso futuro começou no ano de 2004, quando o petróleo iniciou uma trajetória de preços em alta, refletindo um equilíbrio apertado entre oferta e demanda global. Identificamos, naquela ocasião, uma demanda de energia crescente, associada a um crescimento econômico global, cada vez menos dependente dos países ricos.
No caso do petróleo, observamos uma oferta restrita, com custos marginais de longo prazo crescentes, devido a novas reservas também com custos crescentes de prospecção, exploração e preservação ambiental. Esse raciocínio aplica-se, igualmente, para eletricidade. Dessa forma, os fundamentos de mercado para açúcar, etanol combustível e eletricidade cogerada nas usinas são muito positivos por uma razão simples: o Brasil, neste momento, apresentase com as melhores condições econômicas para atender a crescente demanda mundial de açúcar, de eletricidade e de combustível limpo e renovável.
O álcool combustível, que no período 1995-2004 era um produto “tupiniquim”, passou à condição de commodity energética com pretensão global política e ambientalmente correta. Essa condição nada tem a ver com os anos de penúria do produtor durante as décadas de 80 e 90, quando o petróleo, relativamente barato, induzia políticos, professores de universidades, empresários e parte do governo, todos com visão míope, a considerar o álcool combustível como um mal desnecessário.
Que lições nós, brasileiros, aprendemos no período 1995-2004? Abaixo citamos algumas que nos chamam mais a atenção.
1. A melhor forma de sustentar uma atividade econômica no longo prazo é por meio da competividade. Dessa forma, os produtores investiram em pesquisa e desenvolvimento para reduzir, de forma significativa, o custo de produção do álcool, enquanto se esperava que o petróleo, recurso natural finito, mostrasse sua impossibilidade de sustentar no longo prazo, com preços relativamente baixos, uma demanda mundial crescente.
2. A estratégia brasileira de substituição de importações (reduzir a dependência do petróleo importado) mostrou-se correta no longo prazo. Tanto que o governo dos EUA está hoje, trinta anos depois, adotando essa mesma estratégia com seu programa de combustíveis renováveis.
3. A presença do Estado na economia mostra-se importante como mecanismo de apoio na fase inicial de qualquer novo setor de atividade econômica. Contudo a perpetuação dessa condição inibe a eficiência econômica e o crescimento dos negócios, a partir do momento de consolidação da atividade.
4. Má gestão é muito eficiente para eliminar empresas do mercado. Uma boa gestão é aquela focada em resultados que se resumem em custos mínimos possíveis e receita máxima possível. A receita do sucesso é simples. Sua prática é difícil.
5. Riscos de mercado existem e podem ser minimizados com um bom monitoramento de seus movimentos e boa estratégia de proteção. Além disso, uma boa administração financeira é fundamental para maximizar lucros no longo prazo.
6. A tentativa de perpetuar um modelo de gestão “tradicional” em um mercado em transformação é suicida. A criatividade, a inovação e a coragem de tentar a mudança acabam sendo bem remuneradas.
Que futuro nos espera?
1. Grandes grupos atuando na agroindústria canavieira do País, com gestão profissional e eficiente. A integração vertical do negócio fará parte de suas operações. Neste particular, os grupos econômicos sem esta opção, terão desvantagem competitiva.
2. Empresas e grupos menores têm demonstrado um viés para algum tipo de associação, buscando sua sobrevivência econômica.
3. Empresas e grupos menores isolados, conforme nossa experiência na JOB Economia, terão, como condição básica de sobrevivência, sua operação com a máxima eficiência, aproveitando-se de vantagens comparativas particulares. Com isso, poderão garantir resultados ótimos que podem redundar em boas oportunidades de venda do negócio.
4. A intermediação entre vendedor e comprador tende a diminuir. Os grandes grupos mostram-se com disposição de buscar o cliente final. Os contratos comerciais de longo prazo estão aumentando sua participação nos volumes comercializados de açúcar e álcool.
5. A logística de exportação de açúcar e álcool está melhorando e deve continuar nesse padrão por razões de viabilidade econômica dos investimentos em infraestrutura.
6. A comercialização da safra terá cada vez menor sazonalidade de preços e será cada vez mais nacional e menos regional. Com isso, usinas localizadas em regiões importadoras, como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Nordeste passam a ter vantagens competitivas até então pouco importantes.
7. A terceirização de serviços no agronegócio de açúcar e álcool será crescente.
8. Também crescente será a necessidade de certificação voltada para a preservação da saúde, segurança, meio ambiente e responsabilidade social.