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Guilherme Linares Nolasco

Presidente da UNEM - União Nacional do Etanol de Milho

OpAA68

futuro do etanol de milho brasileiro
Momentos difíceis geram grandes oportunidades. Não iremos facilmente superar a dor de nossas famílias atingidas por esta pandemia, mas uma coisa é certa: o mundo não será mais o mesmo. Grandes mudanças de hábitos e costumes irão valorizar setores sustentáveis que possam trazer benefícios à saúde e ao meio ambiente.
 
Quando foi criado o Proálcool na década de 1970, o objetivo era diminuir a dependência nacional do petróleo em razão da crise mundial ora instalada. O que ninguém poderia prever é que tal iniciativa, depois de 40 anos, teria o potencial de se tornar um grande programa mundial de energia renovável para os motores a combustão.
 
A pandemia potencializou um processo de busca por investimentos “verdes”, sustentáveis, socialmente corretos e com requisitos de governança que vão ao encontro da palavra do momento: “ESG”, da sigla, em inglês, para Governança Ambiental, Social e Corporativa.

O Brasil terá papel fundamental para liderar essa agenda do uso do etanol como matriz energética renovável, seja pela tecnologia abarcada pelas multinacionais do setor automobilístico no carro flex, ou mesmo pela adição de etanol à gasolina em grandes proporções (27%), a exemplo do que já acontece no mercado nacional.

A retomada da agenda global ambiental pela gestão do presidente norte-americano Joe Biden reforça a importância do restabelecimento imediato de relações internacionais profícuas entre os dois maiores players mundiais do etanol. Os Estados Unidos tendem a intensificar a mistura de etanol à gasolina; a Índia se prepara para adicionar 20% de etanol até 2025, com possibilidade de adotar a tecnologia de motores flex; a China segue com grande potencial para incrementar a mistura... Enfim, as possibilidades de crescimento do mercado do etanol serão limitadas somente à capacidade de oferta do biocombustível no mercado mundial.
 
Enquanto isso, o segmento de etanol de milho no Brasil continua crescendo a passos largos; fechamos a última safra com volume de 2,65 bilhões de litros, ou seja, 1 bilhão de litros de crescimento em relação à safra passada. 

Projetamos crescer em torno de 700 milhões de litros na atual safra, marcada por ampliações da capacidade de produção de usinas já em operação. A partir do final de 2022, deveremos inaugurar mais operações, fruto de projetos represados durante o ano de 2020.

Alicerçados em uma ampla cesta de receitas, estratégias sólidas de compras antecipadas de milho, valorização das receitas com os coprodutos (farelos e óleo de milho) e cogeração de energia, o setor vai ocupando seu espaço, superando a exposição dos custos de produção frente à precificação do biocombustível.

Apesar da impressão – equivocada – de que o setor exige grande volume de terras para a produção, devemos sempre enfatizar que o etanol de milho brasileiro utiliza matéria-prima vinda de segunda safra. 

Coadjuvante da cultura da soja, até poucos anos, o milho não incorporava ganhos diretos ao produtor, sendo visto apenas como uma estratégia de rotação de culturas, controle de pragas e cobertura do solo para a prática do plantio direto da safra seguinte de soja.

Com a chegada da indústria de transformação do milho em biocombustível, o produtor passou a ter previsibilidade de renda com a chamada “safrinha”, possibilitando investimentos em tecnologia para aumentar a produtividade e a consequente oferta de milho, em um círculo virtuoso de crescimento de toda a cadeia do etanol de milho.

De forma indireta, para cada tonelada de milho processada na indústria de etanol, 30% retornam ao mercado como farelo para nutrição das cadeias de produção de proteína animal, possibilitando uma alternativa proteica de baixo custo para a avicultura e a suinocultura e o adensamento da produção pecuária, intensificando o ciclo do boi e desencadeando o efeito “poupa terra”, pelo aumento do suporte de animais por hectare por meio da suplementação no cocho.

Em algumas análises, a demanda por cavaco de madeira para produção de energia e vapor seria um gargalo para a produção de etanol de milho, mas, na realidade, se consolida como mais uma oportunidade de ativação de um cluster de energia renovável, por meio do incentivo, fomento e financiamento de florestas plantadas.
 
O RenovaBio vem selar todos esses aspectos favoráveis que o setor agrega na mitigação de carbono com um bônus de receita adicional. Além disso, certifica a cadeia produtiva à exploração de infinitas possibilidades de acesso a mercados internacionais, viabiliza a atração de investimentos e permite a criação de uma narrativa única sobre os impactos para as políticas de saúde pública e ambiental desencadeadas pela utilização do etanol como principal matriz de energia. 

Estamos muito focados em fazer o dever de casa visando a mercados internacionais para o etanol de milho brasileiro. A Unem tem contribuído para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) na construção de ajustes necessários para contemplar o etanol de milho na RenovaCalc. Buscamos captar as externalidades da rota de produção de milho de segunda safra, na cadeia de custódia do cereal até à indústria, e também mecanismos que possam elevar a elegibilidade do segmento, pois já somos muito bem avaliados, com expressiva nota de eficiência energética no programa.

Atualmente, algumas usinas se encontram em processo de certificação internacional visando ter maior remuneração sobre as mitigações de carbono, a exemplo do programa CARB da California-USA, com a certificação LCFS, assim como em outras certificações secundárias que possibilitam o acesso a recursos voltados para investimento em economias verdes.

Com a mudança do eixo de exportações de commodities do Brasil Central, cada dia com maior participação do Arco Norte/Nordeste via BR-163, e futuramente via FICO, Ferrovia Norte-Sul e Ferrogrão poderão trazer vantagens competitivas na logística de exportação do etanol produzido a partir do Centro-Oeste, a partir dos portos do Nordeste.

A perspectiva concreta é de que o setor de etanol de milho continuará a crescer sustentado pela ampliada cesta de receitas da atividade, diversificação de mercados e agregação de valor pela busca constante de ativos ambientais, direta e indiretamente captados por todos os elos dessa cadeia.