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Newton Macedo

Consultor da Araújo & Macedo Consultoria

OpAA70

Impactos da rotação de culturas na entomofauna da cana-de-açúcar

A rotação de cultura tem se tornado uma prática crescente em áreas de renovação dos canaviais do Centro-Sul do País. Praticada há tempo com o plantio das Crotalária juncea e C. spectabilis, visando melhorar o ambiente de produção através da fixação de nitrogênio e matéria orgânica ao solo, e controle de fitonematoides, no caso da C. spectabilis, atualmente, a rotação de cultura tem se expandido significativamente com os plantios de soja ou amendoim, os quais, além de melhorar química e fisicamente o ambiente para a cultura sucessora, geram receita ao produtor.


Uma questão que se depara diante dessa mudança nas práticas de renovação dos canaviais é: o que pode ocorrer com o comportamento da entomofauna nos novos ambientes que se formam?


Entomofauna é um termo que abrange todas as ordens de insetos que habitam os diferentes nichos ecológicos, no presente caso, o ambiente cana-de-açúcar pós-rotação de cultura. Dentre eles, temos insetos benéficos, inimigos naturais das pragas, e as pragas propriamente ditas.


Para a natureza, não existem pragas. Praga é um conceito humano que define populações de insetos capazes de provocar danos econômicos em plantas, animais ou desconforto aos humanos. Exemplos de pragas em cana: broca-do-colmo; cigarrinha-das-raízes; Sphenophorus; Hyponeuma; Migdolus; lagarta-elasmo; broca-gigante; cupins etc. e nematoides (agente patogênico, aqui, também considerado como praga).


Isso posto, podemos considerar diferentes situações para entendermos os possíveis impactos da rotação de culturas na entomofauna no canavial que a sucede. A literatura sustenta que a rotação aumenta a quantidade e diversidade de espécies de insetos, mas isso depende da cultura rotacionada, uma vez que as diferentes culturas exigem diferentes tratos culturais com seus respectivos impactos na entomofauna.


Vamos exemplificar:

1. As Crotalárias, tanto a juncea como a spectabilis, aumentam e diversificam a entomofauna, melhorando o equilíbrio entre as pragas e seus inimigos naturais, podendo diminuir os danos de algumas pragas no canavial que as sucedem. Essas plantas, durante o seu desenvolvimento, atraem uma legião de insetos, muitos não presentes no ambiente da cana, e, a reboque dos mesmos, vêm seu inimigos naturais que eventualmente agirão sobre algumas pragas da cana. Ex.: predadores: Calosoma; staphinílideos; crisomelídeos; tesourinhas; neuropera e parasitoides: Trichogrammas e dípteras (moscas). A Crotalaria spectabilis, comprovadamente, tem um efeito supressor à população de nematoides do gênero Pratylenchus, com benefício para a cana-planta que vem na sequência. A propósito do emprego da spectabilis, o conhecido consultor Engenheiro Agrônomo Júlio Campanhão, com vista a recuperar soqueiras com baixa produtividade, mas com aceitável stand, recomenda o plantio intercalar de duas linhas dessa leguminosa, em canas colhidas no 2º. semestre. Não há estudos analisando o impacto dessa prática nos inimigos naturais da broca, mas certamente vai provocar um aumento da entomofauna benéfica, com possível redução no ataque da broca na cana.


2. A soja e o amendoim, muito utilizados em áreas de meiosi, e em áreas contínuas, também, em princípio, trariam o mesmo benefício, mas, por causa do estabelecimento concomitante de pragas nessas culturas, o uso de inseticidas torna-se uma necessidade e aniquila as populações das pragas, bem como dos inimigos naturais. Mas, conforme a literatura, no momento do plantio da cana, normalmente já ocorreu o restabelecimento dos principais inimigos naturais das pragas da cana (principalmente formigas predadoras).


3. Por outro lado, nas áreas já infestadas por Sphenophorus levis, os inseticidas usados nas culturas de rotação irão também exercer um certo controle nesses insetos sobreviventes do controle mecânico na destruição da soqueira. Assim, tem-se uma menor pressão das pragas no estabelecimento do novo canavial subsequente à rotação.


4. No caso do amendoim, há um efeito supressivo das populações de nematoides do gênero Pratylenchus, (o mais importante em cana), que, embora seja um agente patogênico, é, normalmente, qualificado como praga.


5. A colheita de cana crua provoca o recrudescimento de ataque da cigarrinha-das-raízes, do Sphenophorus, da broca-do-colmo e da Hyponeuma. Temos observado, em campo, uma aparente redução de colônias de formigas predadoras em áreas de cana crua, mas ainda não temos encontrado trabalho de pesquisas publicadas sobre o assunto. Suspeito que a cobertura de palha sobre o solo tem dificultado a sobrevivência de colônias e o estabelecimento de novas, de formigas predadoras vorazes, como Solenopsis, Pheydole e outras. Além de outros fatores, isso pode explicar um aumento nas populações de broca, cigarrinha-das-raízes e Hyponeuma. Por outro lado, reduziu significativamente o ataque de elasmo. Quanto à rotação, independente de outros benefícios que essas culturas trazem para o produtor, do ponto de vista entomológico, observam-se alguns benefícios, pelo menos no controle das populações de algumas pragas, e não agravamentos em outras.


6. Situações específicas nas quais são importantes para o produtor rotacionar com gramíneas e, nesses casos, na maioria, trata-se de milho para silagem; quando se planta milho transgênico com resistência ao ataque de lagartas, temos observado uma menor pressão de população de broca-do-colmo, porque o milho é um excelente hospedeiro da broca, e o milho transgênico funciona como uma armadilha, bloqueando a sequência de gerações nas áreas de plantio, especialmente no primeiro corte subsequente à rotação. Um exemplo que temos a citar é o caso do conhecido Grupo Campanelli, referência no setor como produtores de cana e de carne bovina com animais confinados.


7. Quanto ao mapeamento de pragas em áreas de cana, quando o objetivo é estabelecer uma estratégia de controle, um exemplo bem-sucedido que temos é o caso do Migdolus. E, nesse caso, o controle é focado em práticas específicas no momento da destruição da soqueira e do plantio da cana, as quais não interferem na rotação de cultura na área.

Outro exemplo que permite reduzir custo no controle a partir de um mapeamento de nível de ataque da praga pode ser feito com o ataque de Sphenophorus em soqueiras. Experiência também empregada com sucesso nos canaviais do Grupo Campanelli. Com a pretensão de resumir o que foi dito, a rotação de culturas com cana-de-açúcar, de forma geral, mesmo que não traga benefícios significativos no controle de pragas importantes, como broca, cigarrinha-das-raízes e outras, pelo menos no caso do Sphenophorus e dos nematoides (Pratylenchus), os resultados positivos não podem ser ignorados.