O agronegócio brasileiro sempre foi marcado por sua capacidade de se reinventar e responder com agilidade aos desafios impostos pela natureza, pelo mercado e pela sociedade. Ao longo das últimas cinco décadas, o País se tornou referência mundial na produção de alimentos, fibras e energia renovável, sobretudo pela ciência aplicada ao campo, que viabilizou a tropicalização de cultivos, o desenvolvimento de novas tecnologias de manejo e o melhoramento genético vegetal e animal.
Entretanto, o que se observa no presente é uma mudança de escala: se antes as inovações demandavam anos, até décadas, para chegar ao mercado, hoje a velocidade das implantações é fator estratégico para a competitividade e para a sustentabilidade da produção.
No centro dessas transformações, a pesquisa científica tem atuado na construção de sementes cada vez mais resilientes, capazes de enfrentar estresses hídricos, pragas e doenças com maior eficiência. O objetivo é duplo: ampliar o potencial produtivo e, ao mesmo tempo, aumentar o valor nutricional, sobretudo proteico, dos alimentos.
Em um mundo onde a demanda por proteínas cresce de forma acelerada, atender a esse desafio é fundamental para garantir segurança alimentar global. O Brasil, como potência agrícola, tem o compromisso de continuar avançando nesse campo, não apenas para manter sua liderança, mas também para contribuir de forma responsável com a alimentação mundial.
Contudo, há um ponto que não pode ser negligenciado: a democratização dessas inovações. Não basta que sementes mais eficientes e produtivas fiquem restritas às grandes propriedades, com maior acesso a recursos tecnológicos e financeiros. A base da produção nacional está nas mãos de milhões de pequenos e médios produtores, homens e mulheres que sustentam o abastecimento interno, garantem diversidade produtiva e movimentam economias locais. São eles que, em larga medida, formam a matriz produtiva do Brasil. Sem incluir esse público no acesso às inovações, cria-se um hiato que compromete tanto a competitividade do setor quanto o equilíbrio social no campo.
O desafio, portanto, é acelerar o ciclo de transferência de tecnologia da pesquisa para a prática cotidiana dos pequenos agricultores.
Isso envolve desde políticas públicas que facilitem o acesso a sementes melhoradas e insumos até programas de capacitação, assistência técnica e extensão rural que ajudem na correta utilização das ferramentas. A inovação não pode ser apenas científica; precisa ser acompanhada de inovação em governança, modelos de financiamento e estratégias de disseminação do conhecimento.
Nesse cenário, as startups do agro, conhecidas como agtechs, ganham protagonismo. Essas empresas emergentes têm desenvolvido soluções tecnológicas escaláveis e acessíveis, pensadas justamente para quebrar as barreiras tradicionais da adoção tecnológica. Sensores de baixo custo, aplicativos de gestão da propriedade, plataformas de rastreabilidade, soluções de irrigação inteligente e bioinsumos adaptados às condições locais são alguns exemplos de como a criatividade empreendedora vem se traduzindo em instrumentos de democratização da inovação. Diferentemente de modelos tradicionais, em que o custo inicial e a complexidade técnica eram impeditivos, as startups têm-se dedicado a oferecer alternativas que qualquer produtor possa utilizar, independentemente do porte da propriedade.
A velocidade das implantações passa, assim, a depender de uma engrenagem tripla: ciência, mercado e inclusão. A ciência gera conhecimento e soluções disruptivas, o mercado estabelece escalabilidade e eficiência econômica, e a inclusão garante que tais soluções cumpram sua função social e ambiental. É nessa convergência que o agro brasileiro tem condições de alcançar um novo patamar, mais competitivo e sustentável.
Um aspecto relevante é que a inovação no agro não ocorre de forma linear, mas em rede. Universidades, centros de pesquisa, cooperativas, associações de produtores e empresas precisam atuar em sinergia para acelerar o tempo de maturação das tecnologias. O caso dos corredores de inovação agropecuária, iniciativas que aproximam ciência, empreendedorismo e campo, mostra que a construção de ecossistemas de inovação é fundamental para que a tecnologia não fique restrita aos laboratórios ou incubadoras, mas chegue rapidamente às mãos de quem planta e colhe.
Em São Paulo, numa iniciativa da Embrapa, com forte apoio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), foi criado um corredor que conecta São José dos Campos a Ribeirão Preto, incluindo institutos, universidades e centros de pesquisas de Campinas, São Carlos e Piracicaba. E, dentro dessa proposta de fomentar as inovações, estão sendo construídos pelo Senar oito centros de excelência: Cana-de-Açúcar e Bioenergia, em Ribeirão Preto; Inteligência Artificial e Turismo Rural, em São Roque; Agricultura Familiar, no Mirante do Paranapanema; Irrigação, em Jaguariúna; Agroindústria, em Avaré; Cacau e Banana, em Miracatu, no Vale do Ribeira; Cacau e Seringueira e de Genética Bovina, em São José do Rio Preto; e de Agricultura Urbana, na capital.
Vale lembrar que a velocidade de adoção tecnológica também está ligada a fatores culturais. Muitos pequenos produtores ainda têm receio de mudar práticas tradicionais ou enxergam a inovação como algo distante da sua realidade. Nesse sentido, é preciso fortalecer programas de educação e capacitação que mostrem, na prática, como o uso de sementes mais produtivas ou o acesso a plataformas digitais pode significar maior rentabilidade, menor desperdício e maior segurança contra riscos climáticos.
No futuro próximo, o ritmo de implantação de inovações tende a ser ainda mais acelerado, impulsionado pela inteligência artificial, pela biotecnologia avançada e pela agricultura de precisão em larga escala. Mas o êxito desse processo não será medido apenas pela capacidade de gerar soluções tecnológicas, e sim pela capacidade de torná-las inclusivas. Em outras palavras, o avanço do agro brasileiro dependerá menos da inovação em si e mais da velocidade com que essa inovação se torna acessível e aplicável a todos os produtores.
Dessa forma, o Brasil poderá consolidar sua posição como potência agroambiental global, não apenas por volume de produção, mas pela capacidade de produzir de forma sustentável, inovadora e inclusiva. A velocidade das implantações das inovações será, nesse sentido, o diferencial competitivo que separará países que lideram a revolução agroalimentar daqueles que permanecem na retaguarda. No caso brasileiro, a combinação de ciência de ponta, startups visionárias e inclusão dos pequenos produtores tem todos os elementos para transformar o campo em um laboratório vivo de inovação com resultados concretos para a economia, para o meio ambiente e para a sociedade.