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Yuji Watanabe

Presidente da Japan External Trade Organization

Op-AA-12

Japão: potência mundial das tecnologias de eficiência energética

O Japão é dependente, na quase totalidade, das importações de recursos energéticos. Desde as crises do petróleo da década de 1970, o país busca melhorar sua eficiência energética, mediante esforços conjuntos do Governo e da Livre Iniciativa. Como resultado, hoje o Japão acumula um manancial de tecnologias de economia de energia, que o colocam no mais alto padrão mundial.

A Agência Internacional de Energia -AIE, considera o consumo de energia primária per capita do Japão como referência “1”, o melhor índice entre os países desenvolvidos. Na União Européia o consumo é 1,6 vezes mais, EUA 2,7, China e Índia 9, e na Rússia 17,6 vezes mais. Se a energia requerida pelo Japão para produzir 1 tonelada de ferro for “1”, as siderúrgicas coreanas gastam 1,05, as americanas 1,2, as russas 1,25 vezes e as chinesas, 1,5.

Para gerar 1 Kwh de eletricidade, Alemanha e EUA precisam de 1,17 vezes mais energia que o Japão, a França 1,22 vezes, e a China 1,3 vezes. Uma tonelada de cimento faz com que a Coréia gaste 1,31 vezes mais energia do que o Japão, a China 1,52, os EUA 1,77 e a Rússia, 1,78 vezes. As tecnologias de eficiência energética que o Japão tem adquirido, ao longo de três décadas, podem ser divididas em três grandes fluxos.

O primeiro está nos grandes consumidores de energia, como a siderurgia, o cimento e a química. O reaproveitamento do calor de exaustão, o gerenciamento energético, etc, fizeram cair o consumo de energia, entre as décadas de 1960 e 90, para a metade, enquanto nos EUA manteve-se praticamente inalterado. O segundo consiste na melhoria do consumo de combustíveis em automóveis.

Os automóveis japoneses consomem 20% menos energia, quando comparados a veículos de peso equivalente, fabricados na UE e EUA. Os veículos híbridos (gasolina e elétrico), uma exclusividade da Toyota e da Honda, apresentam metade do consumo de energia dos carros fabricados pelas montadoras daqueles países. O terceiro está no setor de eletrodomésticos.

Condicionadores de ar fabricados no Japão consomem metade da energia elétrica de similares americanos. Televisores com tubos de raios catódicos apresentavam, em 2004, consumo 45% menor ao obtido em 1984, e aparelhos de ar condicionado, fabricados em 2004, gastavam 36% menos energia que os similares em 1995. Tecnologias japonesas contribuem para o equilíbrio mundial: O século 21 é a era da Ásia.

Não seria exagero dizer que o leste asiático (os 10 países da ASEAN, Japão, China e Coréia) sustenta o desenvolvimento econômico mundial. Destaca-se a China que, se não tiver um desenvolvimento sustentado, não terá equilíbrio dentro da economia mundial. Todavia, ao crescer 10% anualmente, a China passou a gastar mais energia: em 2003, foi responsável pelo consumo de 14% de toda a energia primária do mundo, e as previsões são de que, em 2030, esteja consumindo 2,9 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo, 2,1 vezes mais que em 2004.

O governo chinês decidiu mudar sua política industrial, para uma política de crescimento com ênfase na economia de recursos naturais, introduzindo avançadas tecnologias de eficiência energética japonesa. O Plano qüinqüenal do PCC (06/10) prevê a redução de 20% do consumo de energia, investindo US$ 10 bilhões anuais. A expectativa é de que o porte do mercado de eficiência energética naquele país chegue a US$ 38 bilhões, no último ano do plano.

Tecnologias de próxima geração- Bombas de Calor: Uma das soluções, que tem sido o foco de atenções, é o sistema de bombas de calor/termoacumulação, que viabiliza, simultaneamente, uma melhor eficiência energética e uma redução das emissões de CO2. No Japão, essas tecnologias já são utilizadas em ar-condicionados, refrigeração, aquecimento de água, geladeiras, etc, bombeando, com um mínimo de eletricidade, o calor da atmosfera, acumulando-o para uso posterior. Para obter uma unidade de calor, esses equipamentos utilizam 1/6 de eletricidade e 5/6 do calor produzido pelo sol, da atmosfera.

As crises do petróleo, ocorridas em 1973 e 1978, foram provocadas pela oferta. Uma nova crise energética está sendo prevista, desta vez desencadeada pela demanda, decorrente do aumento vertiginoso do consumo de energia. No caso do Japão, metade da energia é utilizada pelos setores manufatureiro e comercial, ficando o restante com o consumo familiar e os transportes.

Porém, na década de 90, aumentou, sobremaneira, o consumo de energia das famílias e dos transportes, bem como as emissões de CO2. Daí o empenho do Japão em desenvolver ainda mais as tecnologias das bombas de calor, posto que medidas no lado da demanda da cadeia produtiva são eficientes, para uma melhor economia energética e para conter a emissão de CO2.

Parcerias nipo-brasileiras: No século 21, o Brasil deverá atingir a supremacia energética, através de energias renováveis. A produção de cana-de-açúcar tem potencial para ser multiplicada por 10, se considerarmos as áreas cultiváveis do território brasileiro. Talvez por reconhecer globalmente esse potencial, a moeda brasileira e os índices da Bolsa de Valores de São Paulo não param de se valorizar.

O Japão, tradicional nação amiga do Brasil, está no primeiríssimo nível das tecnologias de eficiência tecnológica e industrial (automobilística, máquinas-ferramenta, etc) Além disso, dezenas de milhares de empresas japonesas estão presentes em todo o leste asiático, já consolidando uma rede de suprimento e produção, otimizadas e rentáveis, que se estende do Japão para a China e toda a ASEAN. Aumentam, assim, as possibilidades do Brasil firmar mais parcerias com o Japão, nas áreas de energia e recursos.

Por outro lado, a JETRO-São Paulo tem empreendido esforços na promoção de negócios ambientais e energéticos, incrementando seus trabalhos de business matching entre empresas japonesas e brasileiras, que possam resultar na relação ganhar-ganhar, como, por exemplo, a compra de créditos de carbono neste 1º período de comprometimento dos mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto, ou a implementação de tecnologias de eficiência energética e fábricas, que operam com essas tecnologias. Usualmente, quando se imagina projetos de MDL e eficiência energética, envolvendo a indústria do etanol no Brasil, vem à mente a cogeração, mediante o uso de bagaço de cana. Todavia, as empresas japonesas possuem tecnologias de eficiência energética que vão muito além e podem ser aplicadas aos MDL.