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Marcelei Daniel da Silva

Gerente de Tecnologia Agrícola Corporativo Brasil da Adecoagro

AsAA25

Manejo e sustentabilidade na agricultura moderna
Nos últimos anos, a sustentabilidade tem sido amplamente debatida, e a agricultura tem avançado na adoção de práticas e técnicas que promovem a utilização racional dos recursos naturais. Aliados a um manejo inovador, que busca a otimização da produtividade e a resiliência das lavouras, os novos modelos de cultivo contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
 
Diferentemente da conservação de solo tradicional, baseada na construção de grandes barreiras (terraços) para conter o fluxo das enxurradas e evitar a erosão, com ampla exigência de mecanização, alto consumo de diesel e intensa movimentação da camada superficial, hoje, o Manejo Integrado do Solo adota práticas menos invasivas.

Essa abordagem preserva a camada fértil, rica em matéria orgânica, mantém a atividade biológica e reduz a vulnerabilidade das lavouras, priorizando o uso inteligente dos recursos naturais, sendo possível aumentar a infiltração e escoamento de água de maneira uniforme dentro das lavouras com projetos de sistematização de solo que dispensam terraços. Essa mudança de paradigma impulsiona uma produção mais sustentável e alinhada às demandas ambientais atuais.

Tradicionalmente, o preparo de solo é realizado em 100% da área cultivada. No caso das culturas de grãos, o sistema de plantio direto consolidou-se como prática predominante, trazendo vantagens como a conservação do solo e da umidade. Já na cana-de-açúcar, cultura semiperene e de múltiplas colheitas, o sistema ainda é pouco explorado. Mesmo assim, há alternativas tecnicamente viáveis e sustentáveis, como a rotação de culturas e o preparo e correção de solo localizado e canteirizado, em maior profundidade.

Essas estratégias favorecem a construção de um perfil de solo mais estruturado e, com isso, o desenvolvimento de um sistema radicular mais profundo. Com raízes bem estabelecidas, a planta se torna mais eficiente no uso da água e mais resiliente a estresses climáticos. Ao mobilizar menor volume de solo, o método reduz custos, favorece a fixação biológica de nitrogênio e diminui as emissões de gases de efeito estufa. Somado a isso, a busca de fontes de corretivos e condicionadores de solo com maior reatividade e eficiência agronômica reduz as doses aplicadas e eleva o aproveitamento dos insumos.

O emprego de novas tecnologias como a introdução de cultivares mais produtivas e resilientes aumenta a eficiência do sistema produtivo. A alteração do método de plantio de cana também trará um avanço significativo: o sistema tradicional com plantio de colmos demanda grande volume de mudas.

Em média, é necessário 20% da área do canavial para formar outro. A transição para métodos mais próximos ao uso de sementes, como o MPB (Muda Pré-Brotada) atual, suas versões aprimoradas ou outras técnicas inovadoras, visa reduzir esse consumo excessivo, garantindo sanidade, rápida atualização do plantel e demanda de equipamentos mais leves para esta atividade.

Nos tratos culturais, drones, sensores, algoritmos de Inteligência Artificial e ferramentas de análise de imagem revolucionam o monitoramento de pragas e plantas daninhas. Essas tecnologias viabilizam tanto o controle em área total, no momento ideal, quanto o controle localizado de precisão, garantindo o uso racional e assertivo de insumos.
 
Em todas as fases da cultura, o uso de bioinsumos - seja para redução de fertilizantes minerais ou defensivos químicos - já faz parte da rotina agrícola. Este mercado cresce em taxas anuais acima de 10% e com projeções otimistas para os próximos anos.

Na colheita de grãos, é comum a utilização de colheitadeiras que operam em linhas múltiplas para maximizar a eficiência. Na cultura da cana-de-açúcar, observa-se uma rápida evolução para colheita simultânea de duas linhas, frequentemente associada a substituição de transbordos rebocados por tratores para transbordos autopropelidos.

Essa inovação reduz pela metade o número de passagens sobre a área, minimizando o pisoteio, o consumo de diesel e as emissões de gases poluentes, consolidando um modelo de produção agrícola mais sustentável, eficiente e ambientalmente responsável. 

É nessa convergência entre resiliência climática, inovação tecnológica e circularidade que está a chave para a construção de um modelo econômico regenerativo, capaz de equilibrar desenvolvimento e preservação.