Me chame no WhatsApp Agora!

Roberto Hollanda Filho

Presidente da Biosul

Op-AA-31

No lugar certo, na hora certa

O Mato Grosso do Sul tem uma rica história em termos de evolução de sua matriz de produção. A pecuária foi e ainda é a atividade econômica dominante no estado. A diferença é que, à época da sua criação, praticamente não havia outra atividade sendo desenvolvida no agronegócio, muito menos no setor secundário. Praticamente não havia industrialização.

A genial atuação da Embrapa – entidade que deve ser sempre reverenciada pelos brasileiros, todos os brasileiros – permitiu que nossos solos ácidos se convertessem em competentes “fábricas agrícolas”, possibilitando a inserção de novas culturas. Assim, a produção de grãos conquistou um importante espaço, trazendo alguma diversificação, receita e renda para o MS.

A cana também veio. Com uma boa oferta de boas terras, face à característica extensiva da pecuária local e um relevo excelente, o setor sucroenergético veio de forma discreta para o estado. Na safra 90/91, foram moídos 4 milhões de toneladas de cana. A evolução foi lenta; quinze anos depois, ainda produzíamos menos de dez milhões de toneladas. Pouco mais do que o dobro e uma posição pouco significante no cenário nacional.

Foi quando veio a virada do setor no MS. Aos cenários edafoclimáticos positivos para implementação de usinas somaram-se um momento de expansão do setor e um ambiente político e institucional de incentivo à industrialização do estado, através de um governo estadual, que viu no setor um vetor de industrialização.

Da safra 2006/2007 até hoje, foram 14 novas unidades, quase todos os principais grupos vieram instalar-se no Mato Grosso do Sul. Nessas cinco safras, mais que triplicou a moagem que havia levado quinze anos para dobrar de tamanho.

Somos o quinto maior estado produtor e, dos 33,8 milhões de toneladas moídas hoje, já temos capacidade instalada para chegar a 70. Logo estaremos, junto com os estados de Minas Gerais, Goiás e Paraná, em uma fraterna disputa pelo posto de segundo maior produtor de cana do Brasil.

Ajudamos a mudar o estado, que tem hoje o setor secundário como o principal gerador de renda. Temos o maior salário médio, tanto da indústria como da agricultura. O açúcar já aparece em segundo lugar na balança comercial do MS, quase alcançando as exportações de grãos.

Em cidades onde já havia unidades instaladas, houve crescimento de arrecadação de 140% nesses quatro anos. Nos municípios que passaram a ter usinas, o aumento de arrecadação chega a 2.500%. Há casos de desemprego zero.

Enquanto isso, a produção de alimentos aumenta. E de outros produtos agrícolas, idem. Ocupamos com cana tão somente 4% das áreas dedicadas ao agronegócio no MS, enquanto outros produtos agrícolas respondem por 12% e a pecuária, 84%. Nada do tão temido “mar de cana”.

Em igual medida, nosso fantástico patrimônio ecológico continua lá, sem nenhuma interferência do nosso setor. Nada de usinas no Pantanal. Nem hoje, nem nunca.
Por isso, o Mato Grosso do Sul é também – como outros estados que têm a sorte de terem terras aptas ao cultivo da cana – um exemplo do que o setor sucroenergético pode trazer de benefícios às economias e sobretudo às sociedades locais.

É a interiorização de desenvolvimento com produção de alimentos e energia limpa. Pode haver estratégia melhor para um país que tem tanto potencial a aproveitar e tanta injustiça social para corrigir?

Não conheço. E, ainda assim, paramos nosso crescimento. Num primeiro momento, o clima era a principal resposta. E é verdade, todos testemunhamos três safras consecutivas com eventos climáticos absolutamente fora da curva. Fora perdas relacionadas a pragas e à pouca renovação e tratos dispensados aos canaviais, por força da crise de 2009.

Hoje, temos um momento no qual volta a aparecer capital. Temos um mercado interno de etanol longe de ser atendido. Um mercado externo que finalmente deu um passo à consolidação, com a eliminação das barreiras tarifárias dos EUA. Temos potencial também na bioeletricidade, que pode ajudar a resolver um gargalo para o desenvolvimento do País.

Na Rio+20, quando já ocuparemos papel de destaque, poderíamos dar um show, mostrando que podemos ocupar milhões de hectares em terras degradadas, aumentando o sequestro de carbono e a fixação de nitrogênio. Só no Mato Grosso do Sul, são oito milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser aproveitados pela nossa e outras culturas sem derrubar uma árvore.

Para atender a todo esse potencial de mercado, estima-se que seriam necessárias mais 120, 140 novas usinas no Brasil até 2020. Investimentos entre 80 e 100 bilhões. Fica bem claro que terras existem em volume mais que suficiente. Sem competir nem ameaçar outras culturas. Mas é factível? Basta olhar para trás. Já fizemos isso antes, de 2000 a 2008. Mas, em 2012, só 5 unidades vão entrar em operação no País, num claro descompasso com os fundamentos que se apresentam.

O hidratado perdeu sustentabilidade frente à gasolina, que, surpreendentemente, tem tido privilégios tributários que não se repetem para o etanol, renovável, melhor ambientalmente, gerador de empregos, etc, etc. A bioeletricidade a partir do bagaço também não tem sido aproveitada, enquanto a eólica ganha espaço nos leilões.

Não se trata aqui de advogar pelo aumento da gasolina. Como cidadão brasileiro, até incomoda ver a Petrobras perder valor de mercado por conta dessa manobra de manter os preços da gasolina. Mas o que gostaria mesmo, como representante do setor, é de ter igual tratamento para o etanol. Um exemplo de medida que teria impacto positivo para o setor seria a desoneração do PIS e Cofins do etanol.

Com relação à bioeletricidade, entendo que a comparação entre bagaço e eólica não pode ser tratada simplesmente pelo preço. Devem ser consideradas as externalidades de cada um (empregos, desenvolvimento, proximidade dos centros de consumo). A solução seriam leilões regionais de energia renovável a fim de aproveitar os potenciais específicos de cada porção do País.

Enfim, o setor sucroenergético depende muito de políticas públicas. E nós precisamos saber qual é o papel que o governo federal entende que devamos ter na matriz energética brasileira. Claro, não se pode desconsiderar que esforços vêm sendo feitos a partir de Brasília. Mas ainda não existe um conjunto de medidas que possa efetivamente fazer com que se retome o crescimento do setor sucronergético nacional.

Transformar todo esse potencial em realidade é um desafio, são muitas variáveis entrelaçadas, são grandes volumes de recursos, de terras, de pessoas. Mas está tudo lá. E já foi feito antes. Para os representantes do setor, a tarefa é importante, temos que mostrar ao governo e à sociedade os benefícios que trazemos e o quanto eles podem melhorar. Teremos muito trabalho nos nossos estados, no Projeto Agora, no Fórum Nacional Sucroenergético. Sei que teremos criatividade e persistência para construir, em conjunto com os outros agentes envolvidos, as soluções que estão aí, é só “colher”. E sou otimista: 2012 será um grande ano.