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Mario de Luna Barbosa

Gerente Geral de Vendas da Wärtsilä para a América Latina

AsAA24

O etanol como alternativa para o mercado marítimo
Precisamos encontrar soluções de aumento da eficiência energética que, aliadas com novos combustíveis marítimos, irão contribuir de forma substancial para descarbonizar todos os segmentos. A busca passa por equilibrar três grandes pilares em todo o ecossistema marítimo: o tripé da sustentabilidade abordando os aspectos econômicos, sociais e ambientais. 

O aquecimento global é realidade, ainda discutimos alternativas em diversas indústrias, ainda preservamos interesses que desaceleram ou travam algumas vias que poderiam contribuir para as metas de descarbonização. Ainda estamos presos a aspectos geopolíticos que tentam impor tecnologias, sistemas, modelos de negócios e regulamentações que atendem aos interesses dos países desenvolvidos e do Velho Mundo, mas o carbono que vai para a atmosfera e os gases de efeito estufa não escolhem geografia, idioma, renda per capita, o que seja... – seus impactos atingem todos os habitantes deste planeta. 

Com milhares de embarcações navegando pelo mundo e dos mais diversos tipos, tamanhos, aplicações, nichos etc., a indústria marítima tem um desafio tão grande quanto à quantidade de carga que ela movimenta no mercado global, embora seja responsável por apenas 3% das atuais emissões de carbono no planeta. Fácil lembrar que essa mesma indústria começou com o remo, migrou para propulsão por velas, vapor, motores diesel, motores que queimam óleo residual do processo de refino (majoritariamente empregado hoje em dia), metano, etano, etc. O desafio atual de descarbonizar é mais significativo e impacta mais do que a transição da vela para o vapor. 

Neste cenário, o mundo iniciou as discussões para três principais alternativas para o mercado marítimo: hidrogênio, metanol e amônia. O balanço energético da utilização do hidrogênio é ainda hoje bastante negativo, e a amônia se aproxima muito nesse aspecto.

O metanol é um álcool que hoje é produzido de matéria-prima de origem fóssil, então a transição para um combustível mais “verde” passa por processos de síntese onde a demanda energética é grande, porém armazenar e transportar é relativamente mais fácil que o hidrogênio e a amônia. 

Em 2015, a Wartsila fez a conversão de motores que operavam com diesel marítimo para passar a operar com metanol, e o projeto em si foi um sucesso, até mesmo considerando o estágio inicial da tecnologia de combustão numa plataforma que passou a operar com esses dois combustíveis. 

A partir dessa possibilidade de um motor operar com álcool ao invés de diesel, questionei meus colegas da Wartsila na Finlândia para entender novas possibilidades. “Então prezado, não daria pra ser etanol?!” Do outro lado escutei do meu colega europeu: “Como assim, etanol?! E a Floresta Amazônica, como fica?!”
 
A alternativa poderia indicar uma flexibilidade entre os dois tipos de álcool: metanol, já desenvolvida a fase inicial em 2015 (prestes a ser lançado em um novo motor), e o etanol, testado em laboratórios da empresa e que indicava boas possibilidades. 

Em 2021, a Wartsila e Raizen começaram a trabalhar juntas, montando um grupo de trabalho para, de um lado, apresentar o potencial e as necessidades específicas para o setor marítimo e, de outro, toda a tecnologia do etanol adquirida ao longo de décadas de pesquisa e desenvolvimento.

O etanol ganhou força e mais projeção, a cada dia cresce o interesse global. Aqui alguns números rápidos dos resultados: em alguns casos, estamos falando de, pelo menos, 60 a 75% de redução de emissão de carbono, muito próximo do que é exigido pela IMO em 2040, usando a tecnologia da Wartsila atual e com um combustível que produzimos há mais de 40 anos no Brasil! 

O engajamento do etanol como alternativa passa pelo entendimento; precisamos explicar mais, explorar mais, apresentar mais, mostrar que temos a tecnologia aqui no hemisfério sul do globo; é preciso apresentar as garantias de sustentabilidade do nosso combustível para que cessem os argumentos negativos.

Analisando toda a cadeia do etanol e sua aplicabilidade no mercado marítimo, vemos que a opção está alinhada de forma equilibrada aos três pilares da sustentabilidade: ambiental, econômico e o social.