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Claudia Romeiro

Gerente de Sustentabilidade da FS

OpAA82

O futuro sustentável da aviação e navegação: o papel do etanol brasileiro
O setor de transporte, um dos principais responsáveis pelas emissões globais de gases do efeito estufa –  GEE, busca urgentemente alternativas mais limpas. O etanol, produzido em larga escala no Brasil, e que já é alternativa sustentável para o transporte terrestre, surge como uma solução promissora para descarbonizar ainda mais setores de difícil abatimento, como a aviação e a navegação.

O Brasil, líder mundial na produção de etanol de cana-de-açúcar e segundo maior produtor de etanol de milho – sendo o maior de etanol de milho de segunda safra –, pode liderar essa transição para uma matriz energética mais limpa e sustentável, impulsionando o desenvolvimento de tecnologias e mercados para biocombustíveis avançados. Além de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o etanol contribui para a diversificação da matriz energética, reduz a dependência de combustíveis fósseis e estimula a economia local, gerando empregos e renda.
 
Com o surgimento relativamente recente do etanol de milho e a possibilidade de produção de outros biocombustíveis – como o biodiesel –, o Brasil consolidou sua posição como um dos principais players globais na produção de combustíveis renováveis. Essa diversidade de fontes e a contínua pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias abrem um leque de oportunidades para a descarbonização de diversos setores, incluindo a aviação e a navegação.


No caminho para um futuro mais verde:
 
A aviação e a navegação, setores cruciais para a economia global, enfrentam um desafio urgente: a descarbonização. O etanol brasileiro, com sua produção sustentável e em larga escala, apresenta-se como uma solução promissora para reduzir as emissões desses setores, impulsionado por metas internacionais e políticas públicas favoráveis.
 
A tecnologia "Alcohol to Jet" permite transformar o etanol em biocombustível de aviação (SAF), atendendo à crescente demanda global por alternativas mais limpas. A ICAO estabeleceu metas ambiciosas para a mistura obrigatória de SAF na aviação, abrindo um vasto mercado para o etanol brasileiro. Estima-se que a substituição do querosene de aviação pelo SAF proveniente do etanol possa reduzir as emissões de CO2 em cerca de 50% e, associado a tecnologias de captura de carbono, alcançar 90% de redução.

A certificação ISCC Corsia, obtida pela empresa FS, pioneira na produção de etanol de milho no Brasil, garante a rastreabilidade e a sustentabilidade do biocombustível, desde a matéria-prima até o produto. Essa certificação assegura que o etanol utilizado na produção de SAF possui baixa emissão de carbono e contribui para a neutralidade climática do setor.

A indústria naval se encontra em um momento crítico. Com suas metas estabelecidas pela Organização Marítima Internacional (IMO) de neutralidade em 2050 e metas intermediárias de 30% em 2030 e 70% em 2040, torna-se imperativo que a substituição dos combustíveis fósseis por alternativas verdes ganhe força. Nesse cenário, o etanol, biocombustível já amplamente produzido no Brasil, desponta como uma solução promissora, especialmente para a navegação de curto, médio e longo prazos.

Uma das grandes vantagens do etanol é sua compatibilidade com a infraestrutura existente no setor. Testes iniciais com motores marítimos utilizando etanol demonstraram sua viabilidade, e as adaptações necessárias são menores quando comparadas a combustíveis como o hidrogênio ou a amônia, que demandam grandes investimentos. Essa característica pode acelerar a transição para uma navegação mais limpa sem exigir mudanças estruturais caras e no curto espaço de tempo.

Com uma pegada de carbono reduzida, o etanol pode oferecer uma vantagem competitiva aos armadores, que a partir de 2027 serão penalizados em virtude das emissões acima dos limites permitidos, e até garantir a geração de créditos de carbono para comercialização, incentivando a adoção desse biocombustível.

Para consolidar o papel do etanol no transporte marítimo global, é fundamental que haja reconhecimento internacional de sua viabilidade como combustível sustentável marítimo. Políticas regulatórias que promovam o uso de biocombustíveis na navegação, apoiadas pela IMO, podem impulsionar sua adoção em larga escala.

Com sua produção sustentável, certificada e em larga escala, o etanol brasileiro possui um enorme potencial para impulsionar a descarbonização da aviação e da navegação, contribuindo para um futuro mais limpo e sustentável.

Incentivo:

Para impulsionar e acelerar a descarbonização dos setores de aviação e marítimo, é essencial o investimento em pesquisa, desenvolvimento e políticas públicas que incentivem a inovação. Nos Estados Unidos, por exemplo, o IRA, aprovado em 2022, oferece incentivos fiscais significativos para a produção de SAF, como o crédito fiscal 40B e o 45Z, que podem representar até 50% da receita dos produtores. Esses incentivos demonstram o potencial dos governos em estimular a produção de biocombustíveis e acelerar a transição energética.
 
A consolidação do mercado de SAF depende da cooperação entre os diferentes atores do setor, incluindo empresas, governos, instituições de pesquisa e sociedade civil. Parcerias estratégicas podem gerar sinergias, reduzir custos e acelerar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras. Além disso, a complementaridade entre diferentes fontes de biocombustíveis, como o etanol de cana-de-açúcar e o de milho, é fundamental para garantir a segurança energética e a sustentabilidade do setor.

No entanto, a expansão do mercado de SAF enfrenta desafios como a necessidade de investimentos em infraestrutura, a garantia da sustentabilidade da produção e a harmonização das regulamentações internacionais. Apesar desses desafios, o potencial de crescimento do mercado de SAF é enorme, com projeções de aumento significativo da demanda nos próximos anos.

Quanto ao setor marítimo, uma das principais medidas será a implementação de regras que penalizam emissões acima dos limites permitidos a partir de 2027. Essa regulamentação terá dois pilares: um técnico, que categoriza combustíveis pelo padrão de emissão de gases de efeito estufa ao longo de seu ciclo de vida, e outro econômico, que impõe a precificação das emissões. Isso significa que as empresas marítimas que excederem os padrões estabelecidos pagarão mais pelas emissões, enquanto aquelas que adotarem combustíveis de baixa emissão poderão comercializar créditos de carbono, incentivando a migração para soluções mais sustentáveis. O sucesso dessa transição, no entanto, depende da consolidação de novos combustíveis no setor marítimo e das regras de sua implementação.
 
O etanol brasileiro, com suas características únicas de produção sustentável em larga escala e certificação internacional, representa uma solução promissora para a descarbonização dos setores de aviação e navegação.
 
Os biocombustíveis, como o etanol, desempenham um papel crucial na descarbonização por oferecerem o melhor custo-benefício para várias rotas. Além de serem alternativas com menor emissão de GEE, sua produção estimula o desenvolvimento rural, especialmente em países em desenvolvimento, criando um ciclo virtuoso de crescimento econômico e sustentabilidade. No Brasil, por exemplo, o setor de biocombustíveis já traz benefícios econômicos às áreas rurais, gerando empregos e estimulando novas tecnologias.

A combinação de fatores como a liderança do Brasil na produção de biocombustíveis, o apoio de políticas públicas e a crescente demanda global por alternativas mais limpas coloca o país em uma posição estratégica para liderar essa transição. 

No entanto, para alcançar todo o potencial do etanol como combustível de aviação e navegação, é fundamental continuar investindo em pesquisa e desenvolvimento, fortalecer a infraestrutura e promover a cooperação entre os diferentes atores do setor. Para que essa transição seja bem-sucedida globalmente, o Brasil precisará de apoio internacional, tanto em termos de parcerias comerciais quanto de incentivos regulatórios que favoreçam a adoção de combustíveis de baixa emissão. Esse apoio pode consolidar os biocombustíveis como uma solução viável para a descarbonização marítima e de aviação em escala global, promovendo uma transformação inclusiva e sustentável do setor.