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Jorge Luis Donzelli

Gerente de Desenvolvimento Estratégico Agrícola do CTC

Op-AA-32

O panorama geral do melhoramento genético

Com a expansão da cana-de-açúcar a partir do Proálcool, sugiram desafios que obrigaram os centros de pesquisas a atuarem de forma muito forte na geração de tecnologias para o setor produtivo. Entre esses desafios, estava o desenvolvimento de variedades adaptadas para as nossas novas áreas de plantio.

Até então, predominava o plantio de variedades não brasileiras, cujas produtividades já não atendiam às demandas criadas pela necessidade de atender ao mercado de etanol. Foi nesse cenário que surgiu o programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar do CTC, com a instalação de um banco de germoplasma na Bahia e um quarentenário no litoral sul do estado de São Paulo.

Esse banco de germoplasma é, hoje, o maior do mundo, com mais de 6 mil variedades. Através desse programa, surgiram as variedades que proporcionaram os grandes saltos de produtividade no setor sucroalcooleiro. Mais recentemente, o setor viveu um novo incremento com a expansão para áreas até então não cultivadas com a cana. Também para esse novo cenário, a pesquisa foi novamente desafiada para dar suporte a essa nova e forte expansão.

Para atender a essa nova demanda, o CTC criou polos de seleção de variedades para todas as novas fronteiras. Com isso, a partir de seu banco de germoplasma, os cruzamentos passaram a ser programados para atender a todos os ambientes de produção. Foram, então, criados 12 polos regionais representando ambientes de produção, desde o Nordeste até o Paraná. Assim, no processo de cruzamento, já são considerados genitores que apresentem características interessantes para esses diferentes ambientes de produção.

Esse processo de seleção garante a produtividade dos grandes empreendimentos que ocorreram nas áreas de expansão que, na sua formação, se viram obrigados a plantar as variedades que foram selecionadas para as áreas tradicionais de produção, que, na prática, não são adequadas paras as novas fronteiras da cultura e, dessa forma, não respondem em produtividade como esperado pelos investidores.

As primeiras variedades provenientes desse novo processo de seleção já mostram a efetividade da regionalização, e exemplos estão citados em diferentes matérias nesta edição. Assim, através da genética tradicional, o setor já possui a segurança de que os novos materiais genéticos em desenvolvimento pelo CTC atenderão às suas demandas.

No entanto, para pesquisa de novas variedades, existe ainda um grande desafio. É o tempo gasto no processo de seleção. No passado, esse processo demandava não menos que 15 anos. O CTC promoveu importantes mudanças em seu processo de seleção, que reduziram esse tempo para 10 anos, mesmo assim, a um custo extremamente alto. Uma nova variedade não é selecionada por menos de R$ 150 milhões.

Esses custos e tempo de seleção precisam ser reduzidos com novas tecnologias. Nessa busca, o CTC investe pesadamente em novos processos de seleção, biologia molecular, novos processos de multiplicação e novos métodos de plantio. Os processos de seleção são constantemente atualizados com base nos resultados obtidos no desempenho das diferentes gerações de clones que estão em avalição nos ensaios regionais. Esses resultados são constantemente revisados e apontam para novas tomadas de decisões nos novos cruzamentos.

 
Através dessas avaliações, a escolha dos melhores materiais para cruzamentos é cada vez mais aprimorada. Em biologia molecular, um banco de marcadores moleculares está sendo criado para determinar quais são as sequências gênicas ligadas às características diferenciais para os ambientes de produção da cana-de-açúcar.

Essa tecnologia já mapeou o banco de germoplasma e é uma das ferramentas utilizadas na seleção de genitores. Outra utilidade dessa tecnologia é reduzir o número de clones enviados a campo para o processo de seleção das novas variedades. Hoje, são enviados milhares de novos materiais que entram no processo mencionado acima e que geram um enorme trabalho de busca e envolvem o dispêndio dos recursos mencionados. Com essa tecnologia, o tempo de seleção, que hoje está em 10 anos, passará, em breve, para 8 anos, e, no futuro, esse período será ainda mais reduzido.

Ainda no processo de multiplicação de suas novas variedades, o CTC possui a maior biofábrica de cana-de-açúcar do mundo, com capacidade de produção de milhões de plantas anualmente, e essa tecnologia é que garante não só a multiplicação acelerada dos materiais que estão no processo de seleção como também suas variedades comerciais. Nesse processo de produção, os clones e as variedades são disponibilizadas totalmente isentas de problemas fitossanitários.

Através desse processo, os clones promissores para as diferentes regiões são multiplicados de forma que uma maior e melhor observação de seus desempenhos possam dar suporte a um eficiente sistema de decisão sobre qual material genético é disponibilizado ao setor produtivo. Outro importante ponto que o programa de melhoramento do CTC prioriza é a seleção de variedades que atendam às novas tendências do setor. Assim, com a mudança da colheita para a cana crua, a seleção de variedade já é realizada buscando cultivares que conseguem suportar esse novo ambiente.

Outro importante fator que é considerado é a seleção de variedades aptas ao plantio mecanizado. Nenhum material genético é liberado se não atender a esses dois fatores. Além dessas mudanças que foram introduzidas no processo de seleção de variedades no programa do CTC, existe outra já em andamento nos laboratórios do CTC que, efetivamente, provocará um novo salto de produtividade para o setor. É a construção da cana transgênica, que está mostrado com mais detalhe em outro artigo nesta edição.

Até aqui, tudo foi tratado em relação à cana-de-açúcar, no entanto uma nova planta está sendo gerada no programa de melhoramento do CTC. Esta não terá compromisso com a produção de açúcar, que hoje é a base da indústria  na produção de alimento ou biocombustível.

A nova planta será produtora de biomassa e vai alimentar, além da produção de energia, a nova revolução na produção de biocombustível, que será o etanol de segunda geração ou etanol de biomassa, como também é chamado. Ainda mais à frente, será matéria-prima fundamental para uma tecnologia, ainda embrionária, que será a gaseificação da biomassa, que vai transformar a atual usina de açúcar em uma biorrefinaria. Nesse cenário, a base hidrocarboneto será convertida para base carboidrato.

Para essa nova planta, todos os desafios estão à mesa. Ainda estão sendo estudados a fitossanidade, durabilidade de soqueira, equipamentos de corte, carregamento e transporte. Enfim, ainda é um “bicho” que está sendo criado e que dará origem a uma nova indústria e produtos.

Com todas essas tecnologias já em uso e com as que estão em desenvolvimento, através de seu banco de germoplasma, o CTC está apto para desenvolver variedades para qualquer das atuais regiões produtoras ou para as novas fronteiras que a cana-de-açúcar vier a ocupar, seja ela no Brasil, outros países da América ou da África.