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Tércio Marques Dalla Vecchia

Presidente da Reunion Engenharia

Op-AA-06

O preparo do caldo: o que esperar para o futuro

É difícil ter uma idéia precisa do mercado potencial do álcool. As possibilidades são tantas, que qualquer crescimento da produção será pequeno, ante a grande demanda que há de vir. O açúcar, por sua vez, seguirá em frente, levado pela demanda de álcool e pelas eventuais reduções de subsídios em diversos países. Ao setor brasileiro, cabe a importante tarefa de não deixar cair a confiabilidade da oferta, o que atrasaria o aumento esperado da demanda.

Desta forma, todos os setores da cadeia da cana devem estar preparados para este boom. O tratamento de caldo para açúcar tem por objetivo obter um caldo clarificado límpido, isento de matéria em suspensão, com reação aproximadamente neutra e com cor adequada ao açúcar que se pretende produzir. Isto implica na máxima eliminação de não açúcares.

O tratamento de caldo para álcool tem objetivos diferentes: Obter um caldo isento de matéria em suspensão, livre de contaminantes microbiológicos e químicos, com o máximo de nutrientes originais da cana preservados. Eventualmente, para a produção de leveduras de alta qualidade, podem ser exigidas baixa cor e ausência de turbidez. O tratamento de caldo é um conjunto de ações químicas e físicas com a finalidade de atender os objetivos acima.

O que pode ser esperado para o futuro: Tendência à produção de açúcar de qualidade direto na usina. A curto e médio prazo, o VHP ainda vai prevalecer, mas, à medida que as usinas forem conhecendo melhor o mercado, haverá uma tendência de produzir os brancos diretos com baixa cor (45 Icumsa) ou padrão dos refinados.

Eliminação gradativa do uso de SO2. Desenvolvimento de novos polímeros e clarificantes naturais ou sintéticos com maior poder de coagulação e clarificação. Cuidados especiais deverão ser tomados quanto à decomposição de açúcares e formação de cor. Assim haverá sensível melhora no controle das temperaturas, dos pHs e dos tempos de residência. Logo, a procura de sistemas automáticos será muito valorizada.

No flasheamento, há a possibilidade de aproveitamento dos vapores gerados e a melhoria contínua dos balões de flash. A instalação de uma torre de floculação facilita muito o trabalho dos decantadores rápidos. O uso intensivo de regeneradores, visando a otimização energética da usina, tem seu preço na qualidade do caldo, sendo sempre um foco de desenvolvimento bacteriano importante. CIP e projetos “limpos” são fundamentais.

Os clarificadores rápidos são sensíveis a variações de fluxo. Assim, todo o esforço no sentido de preservar a estabilidade de fluxos deve ser buscado. Percebe-se que os melhores caldos são aqueles das usinas mais estáveis, do ponto de vista de moagem. É interessante perceber que muitas pessoas acham que a adoção de decantadores rápidos melhora a qualidade do caldo, o que não é verdade. O que normalmente melhora a qualidade do caldo é a estabilidade de processo que se implanta, quando é instalado um decantador rápido (controles automáticos, principalmente).

O peneiramento de caldo acabou sendo definitivamente incorporado às usinas, apesar das dificuldades de encontrar um equipamento adequado. A peneira de tela, sob simples vácuo de bomba centrífuga, pode ser uma solução bastante adequada, tanto do ponto de vista investimento inicial como do ponto de vista da qualidade do caldo obtido.

 A filtração do lodo do decantador pode ainda ser bastante melhorada. Os filtros-prensa (belt-press) têm melhorado bastante em performance, nas últimas inovações. Novidades podem ser esperadas neste setor: desde novos adensadores de lodo, a novos equipamentos, passando pelo desenvolvimento de novos aditivos químicos e auxiliares de filtração.

O uso de bagacilho na filtração, como auxiliar de filtração, tem sido questionado por algumas usinas. É importante que as usinas façam as contas corretamente, ou poderão ter a falsa impressão que a eliminação do bagacilho é altamente vantajosa. A captação e o transporte de bagacilho é outro setor que merece maior atenção por parte dos projetistas e operadores. Dispositivos especiais, como classificadores de bagacilho, ainda não provaram sua viabilidade de forma definitiva.

A flotação do xarope tem sido adotada por muitas usinas, com resultados satisfatórios em algumas, e não compensadores em outras. É perfeitamente viável a substituição deste sistema por um sistema de dupla filtração do xarope. A primeira filtração mais grosseira, para eliminar partículas maiores, e a segunda, chamada de polimento, com a utilização de filtros de pré-capa. O xarope sai absolutamente límpido.

A utilização do aço inox em substituição ao aço carbono é uma tendência mundial e uma obrigação para quem quiser fazer um produto para utilização direta pelo consumidor adequado. HACCP e GMP vieram para ficar. A utilização intensiva de membranas, que podem substituir o tratamento de caldo, total ou parcialmente, ainda não tem custos compatíveis com os resultados obtidos. No entanto, é importante permanecer atento aos seus desenvolvimentos.

Concluindo: Os consumidores querem um produto bonito, isento de impurezas macroscópicas tais como pontos pretos e insolúveis, isento de resíduos químicos e, ainda, o mais natural possível. Tudo isto junto!!! Alguns destes aspectos são contraditórios e a integração e otimização deles é complexa e exigirá muito trabalho. Ainda bem!!! O tratamento de caldo para álcool são outros quinhentos...