A inovação no setor sucroenergético ainda é percebida como incipiente. O conservadorismo e a insegurança de alguns têm limitado, ainda, os investimentos em novas tecnologias, em novos métodos de produção – impactando a profissionalização do próprio setor. Essa abordagem, porém, está com os dias contados. O período difícil que o setor atravessa exige – e exigirá cada vez mais – o uso da tecnologia com criatividade e inovação.
Na década de 1970, na esteira do Proálcool, as atividades industriais do setor tiveram significativo avanço em tecnologia, ao acompanhar as mudanças introduzidas pela inovação, que era o uso de etanol de cana como combustível para automóveis. Algumas crises e dificuldades financeiras fizeram com que o setor se acomodasse. Hoje, o setor novamente busca alternativas para elevar eficiência e reduzir custos, além de tecnologias que entreguem esses resultados. Inovações bem estruturadas e apresentadas podem representar um aumento na produtividade e na otimização de processos para as empresas.
Um bom exemplo disso é a tecnologia de camisa Lotus, ou mais comumente chamada de camisa perfurada em rolo de moenda. Ela foi usada pela primeira vez em 1980, substituindo um rolo convencional. Na época, a novidade despertou muito interesse, mas acabou não sendo aceita pela indústria, pois constantemente tinha seu sistema de drenagem entupido, já que a forma construtiva dos orifícios tinha uma incompatibilidade com o setor de preparo de cana que usava desfibradores.
Há anos, esse sistema de camisas Lotus com ausência de desfibrador vem sendo usado nas Américas por empresas na Argentina, Peru, Equador, Venezuela, República Dominicana, Caribe, Panamá, Guatemala, México, Colômbia e Estados Unidos. Foi na Colômbia que ocorreu alteração do projeto original, tendo o sistema de drenagem ajustado para operação com preparo de cana existente no mercado nacional atual, abrindo as portas para essa tecnologia. Na prática, trata-se de furos feitos no fundo dos frisos da camisa, ao longo de todo o perímetro do rolo de moenda, por onde o caldo é drenado.
Com a camisa perfurada, a “embebição” e, por consequência, a extração da planta aumentam, com resultados expressivos, que variam de acordo com a capacidade de cada moenda. Outra vantagem da camisa perfurada é que ela diminui a umidade do bagaço da cana, uma vez que o resíduo não tem contato com o caldo extraído. O bagaço mais seco melhora a eficiência do processo de queima para a geração de energia, levando à maior taxa de geração de energia. Por fim, há ganhos significativos para a operação da usina. Com a drenagem do caldo sendo feita pelo próprio rolo, as usinas não precisam mais instalar sistemas de aspiração externa, o que reduz gastos com manutenção e atualização.
Na Biosev, por exemplo, há três meses, temos um teste piloto em operação na usina de Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul. Hoje, depois de analisarmos os resultados do teste, chegamos a uma diminuição da umidade no bagaço em 1,41% que naquele processado em moendas tradicionais. Assim, chega-se a uma economia de aproximadamente 10.000 toneladas de biomassa, ou seja, há um aumento de 3.000 MWh na geração de energia, resultando em receita extra de R$ 700 mil.
Em relação ao aumento da extração, chegou-se a 97,21%, sendo que, com o método tradicional, apresentava eficiência de 96,99%. Um aumento de 0,22% pode parecer pequeno, mas, considerando uma moagem total de 4 milhões de toneladas, ele representa um aumento de R$ 1,2 milhão no retorno financeiro. É evidente que existem aspectos que precisam ser melhorados. O custo da tecnologia é três vezes maior em comparação ao do sistema tradicional.
Sua vida útil é de dois anos, contra até cinco safras das moendas convencionais. Mesmo com essas diferenças, que são grandes, o investimento ainda é viável e vantajoso. Os avanços de qualidade e de produtividade somados aos resultados financeiros justificam o investimento. A busca por inovações tecnológicas que combinem redução de custos com aumento de produtividade é um imperativo para o setor. Não há mais espaço para medo e insegurança. O caminho natural é o investimento em soluções inovadoras.