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Nilson Zaramella Boeta

Diretor Superintendente do CTC - Centro de Tecnologia Canavieira

Op-AA-18

Trabalhando na fronteira do conhecimento

O CTC - Centro de Tecnologia Canavieira, é financiado, basicamente, pela iniciativa privada. Funcionamos com contribuições de 177 membros, sendo 159 usinas de cana-de-açúcar e 18 associações de fornecedores de cana, que representam cerca de 12 mil fornecedores desse setor, agregando 60% de todo o grumo de cana processada no Brasil.

O CTC fazia parte da Cooperativa Copersucar e, em 2004, tornou-se independente, para que a tecnologia desenvolvida pudesse ser utilizada por todos os interessados em participar do processo de expansão da cana-de-açúcar. Logo na fundação, como Centro de Tecnologia Canavieira, saímos de 30 para 79 usinas associadas, somando-se a elas as associações de fornecedores.

Hoje, temos 137 usinas associadas e cremos que daqui a um ano teremos por volta de 200 unidades. Somos estruturados como uma organização da sociedade civil de interesse público, ou seja, uma empresa sem fins lucrativos, com esforço e foco na retribuição ao associado do resultado das pesquisas no setor agrícola e industrial da cadeia da cana-de-açúcar.

Nossa missão é criar e disseminar tecnologias e inovações aplicadas à cadeia de valor da cana. O CTC conta hoje com uma equipe de 343 funcionários espalhados pelo Brasil, dos quais 130 pessoas com mestrado e doutorado em várias áreas do conhecimento da atividade agrícola e industrial, envolvendo economistas, financistas, químicos, e uma variedade de profissionais, que participam do esforço de manter o Brasil na liderança tecnológica do setor sucroalcooleiro.

Atuamos em 12 regionais espalhadas pelo Brasil, com representação em SP, PR, MT, MS, GO, MG, ES, AL, PE e TO. Para dar suporte a essa atuação, sem fazer um considerável aumento de mão-de-obra, lançamos mão de atualizados recursos tecnológicos, como a videoconferência. Hoje, temos as regionais e mais 30 associados conectados ao centro em Piracicaba, através de equipamentos de videoconferência.

Isso possibilita que o empresário possa se conectar, através da internet, ao CTC e ter acesso aos 300 especialistas que atuam no setor. Tempos atrás, precisaríamos deslocar um profissional para a interação com a equipe da usina. Hoje, podemos fazer isso através de uma simples conexão de internet, sem custos adicionais e, em 90% dos casos, conseguimos encaminhar a solução, através de um diálogo a distância.

Outro desafio que enfrentamos foi o treinamento. A imensa expansão do setor sucroalcooleiro exigia que estivéssemos presentes em diversos locais, treinando as equipes de nossos associados. Isso ficou cada vez mais difícil e partimos para o modelo de treinamento à distância, envolvendo as principais universidades do país com sucesso nesse empreendimento e, em parceria com a Ibmec-SP, desenvolvemos os princípios e conceitos para se fazer treinamentos à distância.

Convertemos nosso treinamento presencial para um modelo web. Investimos nos 12 primeiros cursos e colocamos o projeto em prática a partir de maio deste ano. De maio a agosto, tivemos 1.200 alunos tanto nos processos de , como em palestras e seminários, que são, normalmente, gravados. Isso dá ao sistema grande flexibilidade, pois, às vezes, o aluno que vinha a Piracicaba para assistir à uma palestra, tinha que reproduzir um modelo no seu local de origem.

Dos 100 cursos presenciais existentes, 20 já estão disponíveis via web. Os demais estarão disponibilizados nos próximos anos. Hoje, temos 93 associados utilizando-se desse sistema, possibilitando a formação de mão-de-obra de alto nível.

O CTC atua em toda a cadeia, desde o começo de caracterização dos ambientes de produção, da escolha das variedades de cana, até os produtos finais: açúcar, etanol ou bioeletricidade. Somos o único centro do mundo, em cana-de-açúcar, que atua, tanto na parte agrícola, como na parte industrial e isso nos dá uma vantagem competitiva muito interessante.

O CTC tem um segmento da equipe que faz, puramente, Pesquisa e Desenvolvimento, ou seja, as tecnologias que estarão disponíveis daqui a 2, 3, 5 anos; e um outro segmento, que chamamos de Mercado, que aplica aos associados a tecnologia já disponibilizada. Temos uma série de áreas de atuação, com cerca de 50 projetos de pesquisa simultâneos, em andamento.

À medida que um projeto termina, ele transforma-se em produto e é disponibilizado para todas as 159 usinas associadas e para os 12 mil agricultores que possam se beneficiar do desenvolvimento conquistado. O impacto do ganho que desencadeamos, em termos de produtividade, vai direto para o bolso do associado. Ninguém financia o CTC a fundo perdido; é um retorno imediato, ano a ano.

Alguns dos desafios para que o setor continue competitivo estão em transferirmos para a fronteira agrícola o mesmo conhecimento aplicado hoje, por exemplo, no estado de São Paulo. Existe um forte empenho para procedermos ao mapeamento do ambiente edafoclimático de todas as regiões de interesse da cana. Em SP, GO e MG os mapeamentos já foram concluídos. Nesta safra, estamos atuando no PR, MS, MT e ES.

No ano que vem, cobriremos o Nordeste, principalmente, as regiões tradicionais de AL e PE. Teremos, então, um mapeamento específico e detalhado desses ambientes, dirigindo, assim, os investimentos, de forma mais racional. Hoje, já temos 12 pólos de melhoramento varietal, que serão expandidos para 18, nos próximos 3 anos.

Teremos, assim, 100% dos ambientes edafoclimáticos mapeados e 90% dos pólos do Brasil caracterizados para cana. Com tais dados em mãos, a produtividade aumenta em, pelo menos, 5 toneladas por hectare. É parte da nossa missão fazer pesquisas com foco em sustentabilidade. Os temas de conservação de solo e água são prioridade. Buscamos encontrar fórmulas que minimizem os custos e o impacto ambiental da deterioração que o homem causa na natureza.

Atuamos, fortemente, na busca de controles biológicos de pragas e doenças e, normalmente, quando encontramos a solução, reduzimos o custo do manejo da área em, aproximadamente, 90%. Quando não há possibilidade de se fazer o controle biológico, buscamos no mercado os produtos químicos que tenham os menores custo e impacto ambiental, para recomendá-los.

Além do processo tradicional de desenvolvimento de variedades, o CTC também investe, pesadamente, em biotecnologia. Temos em Piracicaba a maior casa de vegetação para produzir cana-de-açúcar transgênica do mundo. São 5 mil m², onde as transformamos e avaliamos sua adaptação às exigências que queremos, em termos de produtividade e resistência. Temos, pelo menos, 500 experimentações feitas todo mês neste local.

O CTC busca variedades de cana que possam ter seus genes supra-expressados ou silenciados por efeitos diversos. Buscamos canas com resistência a herbicidas, frio, seca, estresse hídrico e com mais acúmulo de sacarose. É importante aplicar, cada vez mais, a agricultura de precisão. No final desse ano disponibilizaremos, a todos os nossos associados, imagens de satélites dos empreendimentos em que atuamos, e faremos uma avaliação da produtividade, por talhão.

Vamos identificar as áreas em que há déficit de produtividade, atuando gradualmente com a equipe de solo, buscando a origem e a solução dos problemas, na busca da produtividade em seu nível mais alto. Com relação aos com modelos de simulação, dispomos de opções que simulam as safras agrícolas na área de corte, carregamento e transporte, até por 5 anos.

Quando do estudo sobre a instalação de um novo empreendimento, podemos traçar no computador toda a dinâmica que ocorrerá naquela implementação, por 5 safras. Por conseguinte, o empresário pode avaliar a necessidade de investimento em termos de equipamentos como transbordos, colhedoras e plantadoras, de maneira a gerenciar mais apropriadamente o seu capital, no atendimento e alocação de treinamento de mão-de-obra.

Esse sistema funciona, eficientemente, para todas as etapas e conseguimos, ao final da operação, reduzir custos, evitando gastos e desperdícios. A Unica firmou, através de parceria com o Governo do Estado de São Paulo, um Protocolo Ambiental em que há um programa de redução de queimada e, por conseguinte, uma demanda por, cada vez mais, colher a cana crua, trazer para usina e, a partir disso, fazer a limpeza a seco e separar a palha da cana.

O CTC já está nessa 3ª geração de processamento e limpeza de cana a seco. Esse sistema é essencial para o sucesso na geração seguinte de aproveitamento total da biomassa da cana. Existe muito interesse em se entrar na segunda geração do etanol. Para que o projeto seja bem-sucedido, deverá envolver várias etapas. Em primeiro lugar, precisaremos ter as variedades apropriadas para serem plantadas mecanicamente.

Essa cana precisará crescer de maneira ereta, ser viável para uma colheita mecanizada e ter um equilíbrio apropriado entre biomassa e sacarose; e precisaremos ter certeza de que os canaviais serão sistematizados de maneira a permitir que os equipamentos fluam através das áreas agrícolas, de maneira eficiente e com baixo custo.

A partir daí, todos os processos que mencionamos - corte, carregamento e transporte, recepção, limpeza a seco, separação da palha e um melhor uso possível do bagaço e da palha para gerar, tanto eletricidade, como etanol de segunda geração. Estamos trabalhando para chegar a essa tecnologia. É importante dizer que existem países que possuem mais capital, mais mão-de-obra ou mais recursos ambientais.

O Brasil, sem dúvida, é o país que, em se descobrindo a tecnologia apropriada, é o lugar certo para que ela seja primeiro implantada; porque temos, hoje, nos nossos empreendimentos, o bagaço disponível. E a palha está se tornando, cada vez mais, parte desse processo. É necessário buscar os parceiros certos para esse empreendimento, o que não vai acontecer de graça, pois temos vários desafios.

Uma questão fundamental é o tratamento apropriado da biomassa. Segundo, as enzimas que trabalharão nesse processo de conversão têm que ser viáveis em termos de eficiência e de custo. Por esse motivo, estamos desenvolvendo parcerias com diversos e centros de pesquisas ao redor do mundo.

Durante a visita, no ano passado, do Presidente Lula à Dinamarca, tivemos a oportunidade de formar um acordo de parceria com a Novozymes, a maior fabricante de enzimas do mundo e que trabalhou muito intensamente com o governo americano para viabilizar enzimas que transformam os resíduos do milho em etanol de segunda geração. Montamos uma parceria com essa empresa para tornar igualmente viável enzimas que sejam eficientes para cana-de-açúcar, bagaço e palha. É um processo de médio e longo prazo, algo entre 3 e 5 anos, para se atingir sucesso, tanto na parte agrícola, como na industrial. Essa é, hoje, a nossa fronteira.