Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do CTC
Op-AA-36
Recentemente, participamos de uma reunião na qual vieram à tona discussões acaloradas em torno do assunto produção/produtividade de cana-de-açúcar. Advoga-se que a produtividade da cana está “estacionada” e que é necessário medidas para a mudança nesse quadro. Concordo. O que fazer?
Interessante notar que as soluções milagrosas foram as primeiras a aparecer com o remédio completo para o “problema de produtividade”. Dezenas de sugestões aparecem e, claro, há sempre a necessidade da compra de um produto que irá resolver todos os problemas. As propostas são muito elaboradas, e as planilhas rodam soluções de todos os tipos. Felizmente, os argumentos frágeis e dados mal conduzidos encarregam-se de solucionar grande parte dessas questões.
Claro, temos profissionais sérios e comprometidos, mas temos também falta de conhecimento das tecnologias consagradas e, aqui, já reside parte da solução. Essas tecnologias, se bem utilizadas por esses mesmos profissionais, são soluções de aplicação imediata. Não há substituto para um preparo de solo bem realizado, um planejamento de viveiros e uma escolha de variedades adequada ao seu ambiente de produção edafoclimático e um consequente plantio com mudas de qualidade.
Entretanto, devemos lembrar que sempre há três lados na questão da produtividade: o solo, o clima e o manejo agronômico, aí embutida a introdução de variedades modernas. Normalmente, as discussões e as posições tendem a juntar-se em algum desses cantos. Primeiro ponto: há os que advogam, por exemplo, que a recente expansão da cultura para áreas com solos mais pobres e de regime de chuva mais restritivo representa grande parte do problema.
De fato, quando comparada com a região de Ribeirão Preto, tradicional produtora de cana-de-açúcar, as regiões de Goiás e de Mato Grosso representam um novo desafio. Enquanto Ribeirão Preto pode contar com solos, em média, de melhor potencial de produção (ambientes A e B), em Goiás e em Mato Grosso, a cultura de cana-de-açúcar tem ocupado áreas de pastagens com pouco ou nenhum trato e de solos, via de regra, de baixo potencial de produção (ambientes D e E).
Note que, mesmo quando sob o mesmo regime hídrico, a produção potencial de 5 cortes é maior nos solos melhores, conforme figura ao lado. A solução, nesse caso, é plantar variedades modernas adequadas à região, melhorar os tratos culturais, via fertilização e correção de solo, e adequar a época de plantio e de colheita.
Logicamente, seguindo sempre um plano de safra, efetuado dentro de parâmetros bem definidos para a região. Segundo ponto: junte-se à análise que, em Goiás e em Mato Grosso, o regime de distribuição de chuvas é concentrado de novembro a março e, consequentemente, um período mais prolongado de seca, que, normalmente, inicia-se em maio e termina no final de outubro. Basta comparar essa situação, representada pelo balanço hídrico da região de Itumbiara (GO) com o balanço hídrico da região do norte do Paraná (Maringá), onde praticamente inexiste déficit, para verificar que as práticas agronômicas e as variedades devem ser diferentes (conforme as figuras seguintes).
Esses quadros fazem a comparação de déficit hídrico entre o norte do Paraná, cidade de Maringá, regime climático I, e Goiás, na cidade de Itumbiara, regime climático IV, ambos segundo a classificação CTC. Em muitas dessas regiões, inclusive no cerrado brasileiro, importaram-se tecnologias usadas no Sudeste, e praticamente sem nenhum estudo mais profundo, com técnicas e épocas de plantio dependentes de regimes hídricos completamente diferentes.
É fundamental que avaliemos as bases científicas para a implantação de novos manejos, adequados a cada região. O desespero do produtor canavieiro chega ao ponto de importar tecnologias dos produtores de grãos e tentar adaptá-las à cana-de-açúcar.
Em terceiro lugar, há o problema do planejamento varietal, que se tem revelado muito mais um plantio da variedade que se tem “à mão” do que propriamente uma escolha racional e técnica. Verifica-se que usinas que há alguns anos eram líderes de produtividade agrícola hoje não estão mais apontando entre os dez melhores produtores, mesmo nas regiões tradicionais.
Esse fato é ainda mais claro nas áreas de expansão. Há um nítido distanciamento desses produtores do plantio de variedades mais modernas, mostrando uma clara inadequação de seu plantel varietal às suas necessidades de manejo.
Um exemplo desse quadro é o incremento da mecanização, mais particularmente da adoção de plantio e colheita mecânica. Na década de 90, o setor tinha, aproximadamente, 20% de sua área colhida mecanicamente, e o plantio mecânico praticamente inexistia. Hoje, essas realidades são mais presentes, e variedades selecionadas há mais de vinte anos são o carro-chefe do plantel varietal de muitas empresas.
O Centro de Tecnologia Canavieira empenha-se em mudar esse quadro. O lançamento da Série 9000, especialmente selecionada para o cerrado brasileiro, é, dentre outras tecnologias de manejo agronômico (ambientes de produção edafoclimático, recomendações de nutrição da cana-de-açúcar, controle fitossanitário, etc.), a principal forma de colaborar com o setor no desenvolvimento de tecnologias de última geração. Avançadas técnicas de hibridação e seleção são empregadas no desenvolvimento das variedades CTC, que contam, ainda, com a biotecnologia como uma ferramenta excepcional na introdução de características que devem revolucionar o mercado de variedades de cana-de-açúcar no Brasil.