A agricultura brasileira tem passado por uma intensa transformação na última década. Com isso, a tecnologia ganhou protagonismo nos ganhos de produtividade, e as inovações vêm surgindo numa velocidade nunca antes vista. Em se tratando do setor sucroenergético, essa evolução tecnológica também tem ocorrido em alta intensidade, desde o início da mecanização da colheita de cana-de-açúcar, até os atuais sistemas digitais de monitoramento e controle das operações.
Ao se olhar para a última década do setor sucroenergético, observamos dois momentos muito distintos. No primeiro, por volta de 2010, o desenvolvimento tecnológico aconteceu de forma atrapalhada, correndo contra o tempo para adaptar o sistema produtivo às demandas impostas pelas mudanças na legislação e para solucionar novos desafios operacionais/agronômicos que surgiram no transcorrer do processo de mecanização. Dentro desse contexto, podemos citar os diversos equipamentos para o plantio mecanizado de cana-de-açúcar que entraram e saíram do mercado em pouco tempo e, também, as novas práticas agronômicas para manejo de pragas e plantas daninhas que não existiam ou eram muito raras no sistema de produção com emprego do fogo.
Todo esse movimento, mesmo de maneira desordenada, tornou o setor resiliente e ávido pela busca por soluções inovadoras. E é nesse ambiente que entramos num segundo momento da nossa “revolução tecnológica” ocorrida na última década. Solucionadas, ou muito bem encaminhadas, as questões que surgiram no decorrer do processo de mecanização passaram a dar espaço à busca incessante por melhorias de processo e ganhos de produtividade na área agrícola. Tudo isso com o objetivo de reequilibrar nossos custos operacionais face às intempéries mercadológicas pelas quais passamos.
Sob o aspecto agronômico, ideias com ótimo potencial de retorno, como é o caso da Meiosi (vide nota 1), passaram a ser viabilizadas a partir do desenvolvimento tecnológico. A consolidação do uso do Sistema de Posicionamento Global (GPS) no sistema produtivo de cana-de-açúcar fez com que essa prática se tornasse uma aliada importante no ganho de produtividade e, consequentemente, na redução de custos.
Ainda nesse contexto, vale citar a retomada das boas práticas de viveiros de mudas, impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico para produção de mudas pré-brotadas, a partir de origem sadia. Mudas essas que também podem ser usadas em sistema de Meiosi. Além disso, a inteligência geoespacial também vem abrindo caminho para sermos mais eficientes e sustentáveis nas intervenções que fazemos para controlar pragas e plantas daninhas. Os drones que sobrevoam nossos canaviais são cada vez mais frequentes e, a cada momento, ganham novas funcionalidades. Esses são apenas alguns exemplos, entre muitos outros, que se tornaram realidade.
Em termos de melhoria de processos, o setor sucroenergético passou a entrar na rota das inovações que vinham sendo trabalhadas na área logística. Começamos a experimentar sistemas cada vez mais sofisticados de telemetria, e a evolução da área de telecomunicações nos permitiu monitorar nossas operações em tempo real e, assim, promover as correções de rota de maneira ágil e precisa. Concomitantemente a essa melhoria nos controles, também conseguimos evoluir significativamente nas nossas ferramentas de planejamento, incorporando soluções de inteligência dos dados, Big Data e machine learning (vide nota 2), entre outras.
E, mais recentemente, dada toda a visibilidade que o agronegócio brasileiro ganhou no cenário global, vivenciamos uma forte onda de fomento à inovação. Inúmeras empresas, desde startups até grandes potências da área de tecnologia, têm dedicado esforços para encontrar soluções que deixem nossa atividade mais eficiente e produtiva. E, nesse aspecto, a sensação que fica é que, não necessariamente, o céu é o nosso limite.
Vale ressaltar que as inovações precisam sempre andar de mãos dadas e obedecer aos conceitos básicos necessários para a produção agrícola. Se não tivermos uma boa leitura da dinâmica climática das regiões onde operamos e das características e fertilidade dos solos que exploramos, qualquer tecnologia pode ser insuficiente para conseguirmos resultados promissores em nossa atividade. A integração da ciência – no nosso caso, a agronomia – e de novas tecnologias tem potencial para nos tornar cada vez mais eficientes e sustentáveis frente às demandas globais por alimentos e fontes de energia limpa e renovável.
Nota 1. Meiosi: técnica de plantio que visa à redução de custos de implantação. Funciona similarmente a um consórcio temporário entre a linha principal (linha-mãe) de cana-de-açúcar e outras culturas de interesse econômico, como amendoim e soja.
Nota 2. Machine learning: aborda o estudo e a construção de algoritmos que podem, de forma automática, aprender com os erros que acontecem na utilização de sistemas computacionais e fazer previsões sobre dados coletados na realização de tarefas.